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terça-feira, 31 de março de 2015

Apelação cível. Não conhecida. Recurso adesivo. Subordinação ao recurso principal. Desistência ou inadmissibilidade da apelação alcança o adesivo. Não conhecido também. TJSC.

Postagem 31/mar/2015...

Ementa:

  APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS À CONCORDATA PREVENTIVA. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. INTERPOSIÇÃO DE APELAÇÃO CÍVEL. VIA ELEITA INADEQUADA. APLICABLIDADE DO ARTIGO 146 DO DECRETO-LEI N. 7.661/1945 - LEI DE FALÊNCIAS. CABIMENTO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO APELATÓRIO NÃO CONHECIDO. RECURSO ADESIVO. SUBORDINAÇÃO AO RECURSO PRINCIPAL. INCIDÊNCIA DO ART. 500 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. APELAÇÃO E RECURSO ADESIVO NÃO CONHECIDOS.
   O art. 146 do Decreto-Lei n. 7.661/1945 é claro ao estabelecer que o recurso cabível contra a sentença proferida nos embargos à concordata é o agravo de instrumento, sendo incabível a aplicação do princípio da fungibilidade ao caso, inclusive com relação ao prazo à interposição. Impossibilidade do recurso apelatório ser conhecido.
    O recurso adesivo fica subordinado ao recurso principal e não será conhecido, se houver desistência deste, ou se for ele declarado inadmissível ou deserto: art. 500, III, do CPC. Assim, não conhecida a apelação cível, ao mesmo destino segue o recurso adesivo. 
    (TJSC, Apelação Cível n. 2007.018626-0, de Joinville, rel. Des. João Batista Góes Ulysséa, j. 29-08-2011).

Original disponível em: (http://busca.tjsc.jus.br/jurisprudencia/avancada.jsp#resultado_ancora). Acesso em: 31/mar/2015.


Apelação cível. Não conhecida. Recurso adesivo. Prejudicado. Interpretação do Artigo 500, III, do CPC. TJSC.



Ementa:

   APELAÇÃO CÍVEL E RECURSO ADESIVO. SUBSCRIÇÕES DE AÇÕES TELESC S/A (BRASIL TELECOM). CONTRATO DE PARTICIPAÇÃO FINANCEIRA.
     ADMISSIBILIDADE.
  RECURSO PRINCIPAL. PREMATURO. IRRESIGNAÇÃO INTERPOSTA ANTES DO JULGAMENTO DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AUSÊNCIA DE RATIFICAÇÃO POSTERIOR. INSTÂNCIA ORDINÁRIA NÃO EXAURIDA. APELO NÃO CONHECIDO. EXEGESE DA SÚMULA 418 DO STJ.
   É inoportuna a interposição do recurso de Apelação Cível quando, na instância ordinária, os embargos de declaração ainda dependem de julgamento, tornando o reclamo extemporâneo se não ratificado posteriormente.
   RECURSO ADESIVO. SUBORDINAÇÃO. INSURGÊNCIA PRINCIPAL NÃO CONHECIDA. RECURSO ADESIVO PREJUDICADO. EXEGESE DO ARTIGO 500, INCISO III DO CPC.
   "O recurso adesivo fica subordinado ao recurso principal e nos termos do inciso III do artigo 500 do CPC: "não será conhecido, se houver desistência do recurso principal, ou se for ele declarado inadmissível ou deserto" (TJSC, Apelação Cível n.º 2011.055680-0. Rel. Des. Carlos Adilson Silva. Julgada em 13/03/2012).
    Recurso principal não conhecido.
  Recurso adesivo prejudicado. (TJSC, Apelação Cível n. 2014.041809-7, da Capital, rel. Des. Guilherme Nunes Born, j. 19-02-2015).

Original disponível em: (http://busca.tjsc.jus.br/jurisprudencia/avancada.jsp#resultado_ancora). Acesso em: 31/mar/2015.


Embargos de declaração em apelação cível. Desistência. Ausência de interesse. Perda do objeto. Interpretação do artigo 501 do CPC. Recurso prejudicado. TJSC.

Postagem 31/mar/2015...

Ementa:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. PEDIDO DE DESISTÊNCIA DO RECURSO. AUSÊNCIA DE INTERESSE. EXEGESE DO ARTIGO 501 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. PERDA DO OBJETO. RECURSO PREJUDICADO. 
(TJSC, Embargos de Declaração em Apelação Cível n. 2013.069689-4, da Capital, rel. Des. Eduardo Mattos Gallo Júnior, j. 17-03-2015).

Embargos de declaração em apelação cível. Desistência. Desnecessária anuência da outra parte. Perda do objeto recursal. Extinção. TJSC.

Postagem 31/mar/2015...

Ementa:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM APELAÇÃO CÍVEL. SUPERVENIÊNCIA DE PEDIDO DE DESISTÊNCIA DO RECURSO. EMBARGANTE QUE PODE DESISTIR DO RECURSO A QUALQUER TEMPO SEM ANUÊNCIA OU ACEITAÇÃO DA PARTE ADVERSA A TEOR DO QUE PRESCREVEM OS ARTIGOS 501 E 502 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. PERDA DO OBJETO RECURSAL. EXTINÇÃO DO RECURSO. 
(TJSC, Embargos de Declaração em Apelação Cível n. 2014.045924-4, de Blumenau, rel. Des. Saul Steil, j. 23-09-2014).

Original disponível em: (http://busca.tjsc.jus.br/jurisprudencia/avancada.jsp#resultado_ancora). Acesso em: 31/mar/2015.


segunda-feira, 30 de março de 2015

Lava Jato, etc. 42% das doações foram ao PSDB? Quer dizer que número de acusados seguirá mesma proporção? Como se explica? Como entender? Ah! E o Mensalão do Tucano MG? Como vai? (Cf. Plantão Brasil)

Postagem 30/mar/2015... Atualização 31/mar/2015...

TUCANADA A CASA CAIU: EMPRESAS ENVOLVIDAS NA LAVA JATO DOARAM EM PESO AO PSDB

30/3/2015 14:30


Levantamento sobre doações eleitorais revela que 42% das doações ao PSDB nos últimos anos vieram das empresas investigadas na Lava Jato, segundo aponta Paulo Moreira Leite, diretor do 247 em Brasília; número é próximo ao das doações ao PT e ao PMDB, os dois principais partidos da base aliada; PML cobra do juiz Sergio Moro um tratamento isonômico, pergunta dos tucanos na relação de beneficiários e lembra que "o personagem mais ilustre, o senador Sérgio Guerra, já morreu"; "Ou todos são tratados da mesma forma, conforme regra elementar da Justiça, ou teremos, na Lava Jato de 2015, o mesmo tratamento preferencial dispensado aos tucanos do mensalão PSDB-MG", em que os acusados "sequer foram julgados – até hoje" e "muitos já tiveram a pena prescrita", afirma o jornalista

A descoberta de que o conjunto das empreiteiras investigadas na Lava Jato responde por 40% das doações eleitorais aos principais partidos políticos do país – PT, PMDB, PSDB – entre 2007 e 2013 é uma dessas novidades imensas à espera de providências a altura.

Permite uma nova visão sobre as denúncias envolvendo a Petrobrás, confirma uma distorção absurda nas investigações e exige uma reorientação no trabalho da Justiça e do Ministério Público.

É o caso de perguntar: e agora, Sérgio Moro? O que vamos fazer, Teori Zavaski?

Explico.

Conforme o Estado de S. Paulo, entre 2007 e 2013 as 21 maiores empresas da Lava Jato repassaram R$ 571 milhões a petistas, tucanos, pemedebistas. Desse total, 77% saíram dos cofres das cinco maiores, que estão no centro das investigações: Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa, Grupo Odebrecht e OAS.

Segundo o levantamento, o Partido dos Trabalhadores ficou com a maior parte, o que não é surpresa. As doações ocorreram depois da reeleição de Lula. Cobrem aquele período do calendário político no qual Dilma Rousseff conquistou o primeiro mandato e Fernando Haddad venceu as eleições municipais de São Paulo. Mas o PSDB não ficou muito atrás. Embolsou 42% do total. Repetindo para não haver dúvidas: conforme análise do Estado Dados, de cada 100 reais enviados aos partidos, 42 chegaram aos cofres tucanos.

Gozado, não?

Agora dê uma olhada na relação de beneficiários denunciados na Lava Jato e pergunte pelos tucanos. O personagem mais ilustre, senador Sérgio Guerra, já morreu. É acusado de ter embolsado dinheiro para inviabilizar uma CPI. Infelizmente, não está aqui para defender-se – o que permite imaginar até onde pode chegar a largura de suas costas.

O outro implicado é o senador Antônio Anastasia, aliado número 1 de Aécio Neves, forte candidato a um carimbo de “falta de provas” amigo nas próximas etapas do percurso.

Como chegaremos aos 42%? Alguém vai investigar, vai explicar? Ninguém sabe. Nem uma pista.

Onde estão as delações premiadas, as prisões preventivas?

Apoiado na delação premiada de Paulo Roberto Costa, que chegou à diretoria da Petrobras com proteção do lendário Severino Cavalcanti, do PP pernambucano, a investigação concentrou-se no condomínio Dilma-Lula e legendas aliadas. Esbarrou no PSDB, de vez em quando, quase sem querer, por acaso. E só.

A descoberta da fatia de 42% do PSDB na Lava Jato pode ser mais útil do que se imagina.

Deixando de lado, por um momento, a demagogia moralista que tenta convencer o país que todo político é ladrão cabe reconhecer um aspecto real e relevante.

Estamos falando de um sistema no qual todos os partidos se envolvem na busca de recursos financeiros para tocar as campanhas. Todos. São as mesmas empresas, com os mesmos clientes, com os mesmos doadores que se ligam às mesmas fontes.

Isso quer dizer o seguinte: ou todos são tratados da mesma forma, conforme regra elementar da Justiça, ou teremos, na Lava Jato de 2015, o mesmo tratamento preferencial dispensado aos tucanos do mensalão PSDB-MG. Não dá para dizer que um recebe “propina” e o outro ” verba de campanha,” certo?

Acho errado por princípio criminalizar as campanhas financeiras dos partidos políticos. Por mais graves que sejam suas distorções – e nós sabemos que podem ser imensas – elas envolvem recursos indispensáveis ao funcionamento do regime democrático. Mesmo a Nova República, que substituiu o regime militar, nasceu com auxílio de um caixa clandestino formado pelos maiores empresários e banqueiros do país, na época. Não conheço ninguém que, mesmo informado dessa situação, sentisse nostalgia da suposta — sim, suposta e apenas suposta — moralidade do regime dos generais.

Se queremos uma democracia emancipada do poder econômico, precisamos de novas regras – como financiamento público, como proibição de contribuições de empresas – para isso. E temos de ter regras transitórias para caminhar nessa direção, que não joguem fora a criança junto com a água do banho, certo?

Mas não é isso o que tem ocorrido. Pelo contrário. A tradição é criminalizar os indesejáveis, submetidos a penas rigorosas, e poupar amigos e aliados, através de uma prática conhecida.

Comparece-se a AP 470 com o mensalão PSDB-MG. Julgados pelo mesmo crime que conduziu importantes dirigentes do Partido dos Trabalhadores a prisão, os acusados da versão tucana sequer foram julgados – até hoje. Muitos já tiveram a pena prescrita. Não faltam acusados que dormem o sono dos justos com a certeza de que jamais correrão o risco de qualquer condenação. Os acusados tucanos que forem condenados – se é que isso vai acontecer um dia — terão direito a um julgamento com segundo grau de jurisdição, que foi negado aos principais réus do PT. A última notícia do caso é que a juíza que presidiu o julgamento em primeira instancia aposentou-se antes de terminar o serviço e ninguém foi nomeado para seu lugar. Se esse filme parece velho, lembre das denúncias que envolvem as obras do metrô paulista.

Muito instrutivo, não?

Original disponível em: (http://www.plantaobrasil.com.br/news.asp?nID=88523). Acesso em: 30/mar/2015.

domingo, 29 de março de 2015

“O Fórum Social Mundial encarna a resistência, a busca por alternativas, a esperança”(Leonardo Boff. Entrevista a Mauricio Mamanni)

Postagem 29/mar/2015...


Entrevista com Leonardo Boff: "o Fórum Social Mundial encarna a resistência, a busca por alternativas, a esperança"

Leonardo Boff comenta a importância do Fórum Social Mundial (FSM) que se realiza em Túnis entre 24 e 28 de março.

25/03/2015 - Copyleft
Mauricio Mamanni (http://educacionyeconomiasocial.ning.com)




Arquivo
A poucos dias de uma nova edição do Fórum Social Mundial (FSM), que se realiza em Túnis entre 24 e 28 de março, o valor desse espaço altermundista aparece como um interrogante central. Tão importante como o próprio diagnóstico do planeta terra.


Ambos os temas constituem a coluna vertebral dessa entrevista com o teólogo brasileiro Leonardo Boff, um dos pais fundadores da Teologia da Libertação nos anos 70 e principal promotor da nova “Teologia ecológica”.
Se a modernidade propala o progresso ilimitado, choca-se contra o muro de um planeta com recursos limitados. Daí a necessidade de integrar indignação, rebeldia e propostas alternativas para salvar a “mãe terra” de uma tragédia anunciada, sentencia Boff.
Qual é sua análise sobre a “conjuntura” do planeta Terra no início de 2015?
Uma situação complexa, produto da crise social e do modo de produção fundado na ilimitada exploração da natureza. O projeto de modernidade propala o progresso ilimitado. Mas a Terra, enquanto planeta com recursos limitados, não suporta esse projeto ilimitado. A Terra se tornou insustentável. Chegamos a seus limites físicos. Ela precisa de um ano e meio para repor o que tiramos durante um ano. Por outro lado, nós nos confrontamos com uma crise mental, isto é, nossa mente está contaminada pelo antropocentrismo. O ser humano se entende como o centro de tudo e os demais seres têm valor apenas na medida em que se adaptam aos usos por parte do ser humano. Essa compreensão é muito prejudicial para o equilíbrio da Terra porque não reconhece o valor intrínseco de cada ser, independentemente do uso humano. O que leva à falta de respeito em relação ao outro.
Com consequências preocupantes...
Se não se consegue modificar esse paradigma, podemos ser condenados a repetir o destino já conhecido dos dinossauros, que logo após viver 133 milhões de anos sobre a Terra, desapareceram rapidamente em razão de uma catástrofe ecológica. É preciso produzir para dar resposta às necessidades humanas, mas respeitando os ritmos da natureza e tendo em conta a capacidade de tolerância de cada ecossistema, para que não seja irreversivelmente prejudicado. O consumo deve estar regulado por uma sobriedade compartilhada: podemos ser mais com menos.
Voltando à pergunta sobre as consequências dessa visão. Como explicamos na introdução da Carta da Terra, estamos diante de um momento crítico na história planetária, em uma época na qual a humanidade precisa escolher seu futuro... A escolha de fundo: se promove uma aliança global para cuidar da Terra – e para cuidar dos seres humanos uns aos outros – ou corremos o risco de uma dupla destruição. A nossa e a da diversidade da vida. Desta vez, não haverá Arca de Noé. Ou nos salvamos todos ou todos teremos o mesmo e trágico destino.
Apesar dessa situação difícil, percebe-se todo um concerto de respostas políticas. Incluindo aí governos progressistas, democráticos, na América Latina, que tratam de promover outro tipo de distribuição da riqueza. Sem se esquecer de que na Europa surge um novo fenômeno de forças políticas, como o Syriza na Grécia ou o Podemos na Espanha, com visões críticas em relação aos paradigmas dominantes...
Dos países latino-americanos, Bolívia e Equador estão na ponta do novo paradigma que consiste em dar centralidade à vida e a entender todos os seres, inclusive os humanos, como interdependentes e, por isso, solidários no mesmo destino. Elos inauguraram, pela primeira vez na história, o constitucionalismo ecológico. Isto é, incluíram em suas constituições a articulação entre o contrato social e o contrato natural. A Terra e a natureza são sujeitos de direitos. Por isso, devem ser respeitados. A categoria central da cultura andina, o “bom viver”, implica uma relação de inclusão de todos, um equilíbrio com todos os elementos e uma relação respeitosa em relação à Terra, denominada Pacha Mama ou Mãe Terra. Princípios incluídos, insisto, em suas constituições. Outros países não desenvolveram uma consciência ecológica semelhante, ainda que tenham promovido uma “ecologia social” que coloca os pobres e marginalizados como primeiros destinatários das políticas públicas do Estado. É o caso do Brasil, sob o governo do Partido dos Trabalhadores (PT) de Lula e Dilma Rousseff, que integrou a cidadania e tirou da miséria extrema mais de 40 milhões de pessoas, quase a mesma quantidade que todos os habitantes da Argentina.
É fundamental desenvolver a consciência de que, assim como estão as coisas, já não se pode continuar. É preciso mudar. As desigualdades são escandalosas, especialmente nos EUA, em que 1% da população possui o mesmo que os outros 99%. As democracias são de baixa intensidade e poucos se sentem representados pelo Parlamento ou pelos governos. A emergência dos occuppies nos EUA; dos indignados na Espanha – agora transformados no momento político podemos – e a vitória do Syriza na Grécia são os primeiros sinais de que outra democracia é possível e outra forma de relações econômicas entre os países é urgente. Para que não se imponha uma visão perversa e dominante dos capitais especulativos, cujo objetivo cruel é acumular sem medidas às custas da miséria da grande maioria da população de um país.

Muitos desses novos atores políticos latino-americanos e europeus têm raízes em uma visão antiglobalização/indignação muito próxima à promovida desde 2001 pelo Fórum Social Mundial...
A insatisfação generalizada quanto ao sistema vigente tem suas raízes na “vitória” do capitalismo sobre o socialismo real com a derrota da URSS. Como consequência, tanto com Ronald Reagan como com Margaret Thatcher, a lógica do capital ganhou um impulso nunca antes visto, bem como a cultura da exaltação do invidíduo, da propriedade privada, da riqueza, da competição desenfreada e do Estado mínimo.
A política foi difamada como um antro de corrupção, e o Estado como ineficiente. Essa estratégia de difamação buscava entregar tudo às grandes corporações privadas, que iam organizar o mundo em nível global. Os valores que o socialismo havia desenvolvido, como o internacionalismo, a solidariedade entre os povos, a centralidade do social sobre o individual, foram desmoralizados e abandonados. Impôs-se o conceito de que “o lucro é bom”. A globalização hegemonizada por essa visão prometia tempos de paz, de segurança para todos e de bem-estar coletivo. Nada disso aconteceu porque isso não está na agenda do capital, cuja lógica é crescer de forma ilimitada e deslegitimar tudo o que impede essa tendência. Ao predominar essa visão altamente excludente e desumana, começou a dominar a frustração e a depressão pessoal e coletiva. Lentamente, as pessoas foram-se dando conta da perversidade do gênio capitalista, que não se preocupa com o ser humano, mas somente com sua capacidade de produção e consumo. Para ele, não importa nada que não seja a acumulação privada, mesmo que isso produza pobreza social e devastação da natureza.
Dentro dessa lógica, destruíram-se as condições para realizar as promessas de paz, segurança e bem-estar coletivo. Pelo contrário: foi-se prejudicando a sociedade com a destruição lenta, mas intencional do Estado social. A frustração e a decepção mais ou menos coletivas deram origem à resignação ou aos protestos e à rebeldia. Essa rebeldia que está predominando criou uma caixa de ressonância com os Fóruns Sociais Mundiais, cujo lema ressalta: “Outro mundo é possível, outro mundo é necessário”.
Volto à pergunta anterior... Nesse cenário quase apocalíptico, qual é o papel do Fórum Social Mundial?
Representa o inverso do sistema globalizado. Já não se trata de resignação, mas de ação contrária e de uma mostra da insatisfação de grande parte da humanidade diante do curso atual do mundo. Assim não se pode continuar. Temos que projetar novos sonhos e utopias, e articular alternativas viáveis se quisermos sobreviver como civilização e como espécie. O sistema e a cultura do capital são homicidas, “biocidas”, “ecocicas” e genocidas. Deixado em liberdade, esse sistema hegemônico pode levar a humanidade inteira ao abismo. O Fórum Social Mundial interpreta a atual situação não como uma tragédia anunciada, mas como uma crise generalizada do nosso modo de viver, de tratar a Terra e de nos relacionar com os demais humanos. Essa crise purifica e nos faz amadurecer. Por isso, o Fórum é um lugar de esperança que permite fazer crescer o sentimento de pertencimento. Os altermundistas não estão apenas sonhando, mas indicam que, por todas as partes do mundo, está-se reagindo e ensaiando novas formas de viver, de produzir, de distribuir e de consumir. Os que participam do FSM não vão tanto para escutar palestras de celebridades mundiais, mas para trocar experiências e ver como as coisas podem ser feitas de outra forma, diferente da maneira perversa imposta pelo capitalismo. Por mais dificuldades que possa haver, os fóruns têm esse grande significado de resistência, de proposição de alternativas e de esperança. À beira do abismo, vamos criar asas e voar rumo a um mundo diferente, no qual será menos difícil viver humanamente e mais fácil de amar-nos uns aos outros.
Recriando o conceito de solidariedade humana e internacional...
A solidariedade pertence à essência do ser humano. E estou convencido de que somente a solidariedade mundial, acompanhada da compaixão e da percepção de que todos temos um destino comum, como irmãos e irmãs que somos, pode nos salvar. A vida vale mais do que o lucro e o amor, mais do que a cobiça. A solidariedade, mais do que o individualismo.
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Tradução de Daniella Cambaúva.


Créditos da foto: Arquivo





Boulos, PSOL e petistas defendem Frente Popular para barrar avanço conservador (Rodrigo Vianna)


Boulos, PSOL e petistas defendem Frente Popular para barrar avanço conservador

Guilherme Boulos defendeu que 'ou o governo reverte o modelo, baseado no ajuste liberal, ou em breve o golpismo terá base popular nas ruas.'


Rodrigo Vianna - Escrevinhador
24/03/2015 - Copyleft
Mídia Ninja
O debate ocorrido neste fim-de-semana em São Paulo, numa quadra da CUT, foi simbólico por muitos motivos.
 
Primeiro, mostrou o grau de esgotamento do PT, como força renovadora de esquerda. Sob impacto do avanço da direita no Brasil, militantes de esquerda se reuniram atraídos pelo tema: “Direitos Sociais e Ameaça conservadora”.
 
Mas não foi um debate organizado pelo Partido dos Trabalhadores – principal alvo da fúria direitista do dia 15. O PT segue acuado, quase mudo. Havia na plateia do debate muitos petistas, mas sem camisas nem símbolos petistas. Isso tudo num evento organizado pelo PSOL
 
Mais que isso: na mesa, estavam dois ex-auxiliares de Lula – Frei Beto e André Singer (hoje, professor da USP, e que segue filiado ao PT). O debate, realizado na “Quadra dos Bancários” (histórico ponto de encontro dos militantes da CUT e do PT), reuniu quase mil pessoas no sábado à tarde.
 
Foi o deputado federal Ivan Valente (do PSOL) quem cumpriu o papel de criar aquele espaço de reflexão, abrindo o microfone também para Guilherme Boulos (MTST – Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) e Berna Menezes (sindicalista ligada ao PSOL).
 
As críticas ao governo Dilma foram duras. E generalizadas. Boulos disse que “o governo é indefensável”, e foi mais longe: “ou o governo reverte o modelo, baseado no ajuste liberal, ou em breve o golpismo terá base popular nas ruas”.
 
Ele reconheceu os avanços sociais da era Lula, mas reafirmou a posição do MTST de que o modelo de conciliação do lulismo se esgotou. “2013 foi um aviso, mas parece que o PT não entendeu”. A avaliação do líder do MTST é de que, apesar da queda de popularidade de Dilma, quem está na rua por enquanto protestando contra o PT é um setor mais radicalizado de direita e comandado pela classe média. Boulos, no entanto, diz que um ponto deveria preocupar os petistas: “a massa trabalhadora, que votava no PT até hoje, ficou em casa dia 15, mas aplaudiu os protestos porque não aguenta mais”.
 
Boulos se mostrou preocupado com o “desfilar de preconceito e ideias fascistas” ocorrido no dia 15. E mostrou clareza de que não se trata de um ataque ao PT, apenas: “o petismo deixou de ser de esquerda, mas o antipetismo é um movimento contra toda a esquerda, é anti-movimentos sociais, anti-esquerda, anti-vermelho.  Temos uma direita venezuelana, e um governo covarde. Mas vamos enfrentar essa turminha que destila ódio. Com fascismo, não se conversa; fascismo, se enfrenta.”
 
Andre Singer concordou com a avaliação de que o início do governo Dilma é desastroso para a esquerda. Até porque o ajuste de Levy deve provocar desemprego, enfraquecendo os trabalhadores – que são a base social da esquerda.
 
O professor da USP, porém, discordou de Boulos na avaliação do dia 15. “Considero que a manifestação foi majoritariamente de centro. Havia, sim, setores de extrema-direita, golpistas. E havia ainda uma direita radicalizada a favor do impeachment, mas as pesquisas mostram que a maioria estava ali para rechaçar a corrupção”.
 
Singer acha que é possível “dialogar” com esses setores de centro. Mas foi contestado no debate por gente da plateia. O dia 15, disse o professor Gilberto Maringoni (PSOL) foi, sim, “tendencialmente” em favor da extrema-direita, abrindo espaço para ex-torturadores e golpistas na Paulista. O dia 15, lembraram outros, significou a proibição para que qualquer cidadão vestisse vermelho num amplo raio em torno da Paulista. Essa não é atitude de “centro”, disse um militante anônimo.
 
Frei Beto definiu as manifestações do dia 15 (e também as de junho de 2013) como “manifestações de protesto, mas não de proposta.” E ressaltou que o PT colhe os frutos por ter governado 12 anos, sem ter feito – nem encaminhado - uma reforma estrutural sequer.
 
A sindicalista Berna Menezes destacou que não se pode igualar os governos FHC e Lula/Dilma, mas lembrou que o PT é responsável pelo avanço da direita, porque jamais enfrentou a mídia, nem fez uma Reforma Tributária em favor dos trabalhadores.
 
Outra avaliação comum entre os presentes: a crise será longa, pode durar 4 anos ou mais. Boulos disse que há riscos de ruptura pela direita, devido à “forte presença de setores golpistas” nas ruas. Já Singer, não vê riscos imediatos de ruptura. “A turbulência será grande, o estresse democrático é parecido com 64, mas não há mais a Guerra Fria”.
 
Não há mesmo? O que os Estados Unidos fazem no Oriente Médio e na Ucrânia é o que? Hum…
 
Os debatedores defenderam uma “Frente Social”, ou uma “Frente Popular”, para combater o avanço da direita. Uma frente que não seja dos partidos de esquerda, mas agregue amplos setores em defesa de uma pauta mínima.
 
“O meu partido, o PT, não tem mais condições para dar direção à esquerda. É preciso formar logo essa frente“, disse Singer.
 
Ele lamentou que o PSOL e o MTST não tenham ido ao ato do dia 13 na Paulista. “Com uma formação mais ampla, poderíamos ter chegado a cem mil pessoas, e não 40 mil, como tivemos”, afirmou. A lembrança de Singer indica as dificuldades que ainda impedem as forças de esquerda e os movimentos sociais de agirem juntos – num momento de forte avanço conservador.
 
O deputado Ivan Valente listou cinco pontos em torno dos quais poderia ser construída essa frente, aberta a entidades, partidos e cidadãos interessados em barrar a direita – dentro e fora do governo:
 
- Combate ao ajuste fiscal de Levy;
- Democratização dos meios de Comunicação;
- Reforma agrária e combate ao latifúndio;
- Defesa da Democracia e rechaço ao golpismo;
- Defesa dos direitos trabalhistas.
 
Formou-se, entre os debatedores, um consenso de que é possível unificar a esquerda. Não contra o governo Dilma, que em nenhum momento foi citado como inimigo principal. Mas contra o ajuste de direita – que significa o sequestro, pela direita, de um governo eleito com discurso de esquerda. E, especialmente, contra a direita que baba de ódio nas ruas e no Congresso.
 
Ivan Valente disse que é preciso levar pras ruas “os nomes de Cunha e Renan, como parte da corrupção que se precisa derrotar.” O deputado do PSOL lembrou que o discurso udenista, de falso moralismo, hoje é o mesmo de 54 e 64. Mas dessa vez, lembrou, parte importante da direita está afundada na lama da corrupção: “há 33 parlamentares indiciados, inclusive os presidentes da Câmara e do Senado – que não podem ser poupados, como a direita tentou fazer no dia 15.”
 
Foi um encontro curioso, em que a turma do PSOL usou a ”casa” da CUT e do PT. Um encontro em que o PSOL se definiu claramente contra o impeachment, e fez questão de ressaltar que PT e PSDB não são iguais. Um encontro em que petistas ou ex-petistas não tiveram dúvidas em atacar o ajuste de Levy – ainda que isso significasse atacar frontalmente o governo Dilma.
 
Havia uma presença de militantes de esquerda, para além do PSOL. E havia a certeza de que a Frente Popular vai nascer com ou sem o governo. Vai nascer nas ruas. E parte importante da base social do PT vai ajudar a compor essa frente – ainda que o partido, como lembrou Singer, tenha perdido a capacidade de liderar a esquerda.
 
Já não se trata de defender o governo ou o PT. Mas de recompor o campo da esquerda, e impedir a completa restauração conservadora no Brasil.

 
Alguns vídeos do debate (gravados por Artur Scavone):
Bernardete Menezes da Intersindical propõe uma frente de esquerda para enfrentar a crise

Guilherme Boulos do MTST destaca a importância da defesa das conquistas dos trabalhadores

André Singer enfatiza a necessidade de uma frente de esquerda

Ivan Valente diz quais suas condições para uma frente de esquerda

Créditos da foto: Mídia Ninja





O pesado legado que Joaquim Barbosa deixou para a democracia brasileira (Maria Inês Nassif)

Postagem 29/mar/2015...

O pesado legado que Joaquim Barbosa deixou para a democracia brasileira

Em vez de servir para punir exemplarmente culpados, o "mensalão", com seu domínio do fato, transformou a Justiça em parte do terceiro turno eleitoral.

Maria Inês Nassif
26/03/2015 - Copyleft
Márcia Kalume/Agência Senado
Na briga política com “P” maiúsculo,  quando se traça estratégias de disputa com grupos oponentes, define-se um limite além do qual não se deve ultrapassar, por razões éticas ou para não abrir precedentes que, no futuro, possam se voltar contra o próprio grupo que não observou esse limite. Em ambos casos, a preservação dos instrumentos de luta democrática é a preocupação central.
 
O Supremo Tribunal Federal (STF), a partir do caso chamado Mensalão,  arvorou-se em fazer política com "p" minúsculo, sem pensar nos precedentes que abria nos momentos em que jogava para a plateia, escolhia inimigos e relativizava a Constituição. Ao fazer jogo político sem que fosse qualificado para isso, pois não é um poder que decorre da livre escolha popular, não mediu as consequências e deixou uma lista de precedentes com potencial de corroer a democracia brasileira.
 
O primeiro mal exemplo que deu foi o de que um poder não deve obedecer limites. Ao longo do período pós-ditadura, a Corte maior do país se dedicou a uma crescente militância. A nova composição do Supremo, pós-Mensalão, é muito mais jurista do que política, mas é ela que vai ter que pagar pelo erro dos seus antecessores.
 
No julgamento do Mensalão, em vez de manter-se acima de um clima de comoção artificialmente criado por partidos de oposição e uma mídia avassaladoramente monopolista, o STF fez parte da banda de música. O que se tocava era um mantra  segundo a qual qualquer que fossem as provas, quem deveria pagar com a cadeia era a banda governista envolvida no escândalo. Se as provas não corroborassem, que se danassem as provas. Era uma onda de pânico tão típica de momentos aterrorizantes da história mundial – como a ascensão do nazismo e do fascismo, com a repetição de “verdades” construídas sobre afirmações mentirosas, mas fáceis de atrair ódio sobre grupos políticos adversários – que a inclusão da Corte Suprema do país nesse tipo de armação foi de tirar noites de sono de quem já viveu o pesadelo de ditaduras.
 
O STF abraçou entusiasticamente a tese do domínio do fato para justificar a condenação, por exemplo, de Henrique Pizzolatto (acusado de desviar um dinheiro da Visanet, empresa privada de cartões de débito, que comprovadamente foi destinado para veiculação de anúncios nos próprios veículos de comunicação que o acusavam de corrupção), ou de José Genoíno (que foi condenado porque assinou um empréstimo bancário que comprovadamente entrou na conta bancária do PT e foi quitado pelo partido), ou de José Dirceu (que se supôs ser o mentor do esquema sem que nenhuma prova disso fosse apresentada à  Justiça). Com isso, a Corte deu satisfações a uma parcela da população que advogava a prisão a qualquer custo, mas por este prazer de momento legou ao país a dura herança da condenação sem provas e do espetáculo midiático em vez do julgamento justo. O STF alimentou o senso comum de que lugar de adversário político é na cadeia. A democracia brasileira vai levar anos, décadas, uma era, para se livrar desse legado.
 
O juiz Sérgio Moro forçou a mão nas suas decisões de indiciamento das pessoas mais ligadas ao PT e ao governo, no curso da Operação Lava Jato, e provavelmente condenará a todos eles, com provas ou, se não consegui-las, por suposição. Mas não se pode acusá-lo de ter inventado a roda. A insegurança jurídica provocada pela teoria do domínio do fato – que aproxima a Justiça da democracia brasileira dos famigerados Inquéritos Policiais Militares (IPMs) da ditadura, responsáveis pela “investigação” e “julgamento” de adversários políticos por suposições de corrupção – é obra do ex-ministro Joaquim Barbosa, corroborada pela maioria do plenário do STF, no bojo de uma histeria coletiva artificial provocada por uma pressão direta da oposição e dos meios de comunicação, on line, na medida em que o julgamento se desenrolava nas telas das TVs. Barbosa continuará produzindo condenações altamente questionáveis mesmo depois de ter ido embora para casa tuitar palpites sobre uma democracia que ele não cuidou quando era ministro do Supremo.
 
Daí que o precedente Joaquim Barbosa gerou Sérgio Moro, que forçou a mão nas peças jurídicas que levaram ao indiciamento de uns, e deixaram passar culpas de seus oponentes.
 
O precedente Joaquim Barbosa condenou Pizzolatto por contratos do Banco do Brasil com a Visanet que são anteriores à sua posse na diretoria da Marketing da estatal. O tesoureiro do PT, João Vaccari, foi indiciado por financiamentos legais de campanha feitos ao seu partido pelas empresas implicadas no escândalo Petrobras desde 2008 – sem que Moro tenha se importado com o detalhe de que Vaccari assumiu a tesouraria da legenda a partir de fevereiro de 2010. Se a intenção fosse a de fazer justiça, o juiz teria no mínimo feito referência ao tesoureiro anterior. Usou, todavia, o domínio do fato, para argumentar uma responsabilidade telepática de Vaccari sobre fatos que aconteceram mesmo antes de ele assumir o cargo.
 
O juiz argumenta, ao aceitar a denúncia, que João Vaccari “tinha conhecimento do esquema criminoso [de pagamento de propinas por empresa fornecedoras da Petrobras] e dele participava”, fiando-se em delações premiadas de participantes do esquema que tinham interesse pessoal em responder aos anseios das autoridades policiais e judiciárias que jogavam para uma plateia – e que fizeram isso de forma mais intensa no período eleitoral, com fartos vazamentos seletivos sobre um inquérito que envolveu Deus e o diabo na terra do sol.
 
Moro tomou como fato inquestionável – e confundiu isso com prova – que o esquema envolveu exclusivamente os últimos governos, e que o financiamento dado oficialmente ao PT era, na verdade, produto de propina. E traçou uma lógica segundo a qual a cada fechamento de contrato pelas empresas envolvidas resultava numa doação legal para o PT, ou para uma campanha do PT.
 
Quando se toma a doação dessas mesmas empresas para o PSDB e para o PMDB, todavia, fica um grande vazio. Existem duas ordens de doações privadas para partidos e candidatos, segundo Moro: uma, recebida por determinados partidos, que são propina; outra, captada por outros partidos, que não são crimes.
 
Se tomados os dados de doação registrados junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), as 16 empresas envolvidas no Caso Lava Jato (Galvão Engenharia, Oderbrecht, UTC, Camargo Correa, OAS, Andrade e Gutierrez, Mendes Júnior, Iesa, Queiroz Galvão, Engevix, Setal, GDK, Techint, Promon, MPE e Sranska) contribuíram com R$ 135,5 milhões para as eleições de 2010 e R$ 222,5 para as eleições de 2014.
 
Nas eleições de 2010, o PMDB, que não tinha candidato presidencial, recebeu a maior parcela, de R$ 32,85 milhões; o PT, R$ 31,4 milhões e o PSDB, R$ 27 milhões. Foram os três maiores agraciados, com 24%, 23% e 20% das doações totais dessas empresas, respectivamente. Todavia, o PSB, o PP, o PRB e o PSC conseguiram também quantias consideráveis: R$ 19,5 milhões, R$ 6,5milhões,  R$ 4,95 milhões e R$ 2 milhões, respectivamente. PDT, PC do B, DEM, PTB, PTN, PTC, PTdoB e PMN receberam entre R$ 150 mil e R$ 1,8 milhão.
 
No ano passado, PT e PSDB mantiveram, de novo, arrecadação muito próxima dessas mesmas empresas. O partido de Dilma conseguiu R$ 56,38 milhões junto a essas fontes, mas o PSDB de Aécio não ficou muito atrás: obteve R$ 53,73 milhões. O PMDB ficou em terceiro em arrecadação, mas rivalizando com os dois partidos que disputaram a Presidência no segundo turno: conseguiu levantar R$ 46,62 milhões dessas empresas. O PSB de Marina Silva ganhou R$ 15,8 milhões; o DEM, R$ 12 milhões; o PP, R$ 10,25 milhões; o PSD, R$ 7,13 milhões; e o PR, R$ 6,85 milhões. Os demais partidos arrecadaram entre R$ 3,3 milhões e R$ 100 mil.
 
Esses números certamente não querem dizer que todos os partidos que receberam dinheiro dessas empresas tenham, na verdade, recebido propina por serviços prestados a elas. Mas indicam que a simples existência de doações legais ao PT não comprova propina. É preciso que existam provas do ilícito, e que elas sejam mais consistentes do que a delação de implicados que são réus confessos e que foram premiados pela Justiça.
 
É esse legado que o país carrega do caso Mensalão. Em vez de servir para punir exemplarmente culpados, o Mensalão abriu o precedente de incluir a Justiça com parte de um terceiro turno eleitoral. A Justiça brincou de fazer política e não olhou para os precedentes que abria. A insegurança jurídica que isso causa pode levar no mesmo rodo, no futuro, a água dos que encenaram o espetáculo da condenação sem provas.
 
Créditos da foto: Márcia Kalume/Agência Senado

RBS e Gerdau entre investigados por suspeita de pagamento de propina e sonegação fiscal (Marco Weissheimer)

Postagem 29/mar/2015...

RBS e Gerdau entre investigados por suspeita de pagamento de propina e sonegação fiscal

28/mar/2015, 18h34min
As investigações da Operação Zelotes são conduzidas por uma força-tarefa formada pela Receita Federal, Polícia Federal, Ministério Público Federal e Corregedoria do Ministério da Fazenda. (Foto: Agência Brasil)
As investigações da Operação Zelotes são conduzidas por uma força-tarefa formada pela Receita Federal, Polícia Federal, Ministério Público Federal e Corregedoria do Ministério da Fazenda. (Foto: Agência Brasil)
Marco Weissheimer
O Grupo RBS, a Gerdau, os bancos Bradesco, Santander, Safra, Pontual e Bank Boston, as montadoras Ford e Mitsubishi e um grupo de outras grandes empresas estão sendo investigados pela suspeita de pagamento de propina a integrantes do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), para anular multas tributárias milionárias. A revelação foi feita neste sábado pelo jornal O Estado de São Paulo em uma matéria sobre as investigações em curso na Operação Zelotes, desencadeada na última quinta-feira (28) por diversos órgãos federais para desbaratar um esquema de fraudes tributárias envolvendo grandes empresas brasileiras e multinacionais. As investigações são conduzidas por uma força-tarefa formada pela Receita Federal, Polícia Federal, Ministério Público Federal e Corregedoria do Ministério da Fazenda.
Entre os crimes investigados na Zelotes, estão advocacia administrativa, tráfico de influência, corrupção, associação criminosa e lavagem de dinheiro. Segundo nota divulgada pelo Ministério da Fazenda, “o esquema envolveria a contratação de empresas de consultoria que, mediante trânsito facilitado junto ao CARF, conseguiam controlar o resultado do julgamento de forma a favorecer o contribuinte autuado. Constatou-se que muitas dessas consultorias tinham como sócios conselheiros ou ex-conselheiros do CARF”. “O termo ZELOTES, que empresta nome à Operação”, dsse ainda a Fazenda, “tem como significado o falso zelo ou cuidado fingido. Refere-se a alguns conselheiros julgadores do CARF que não viriam atuando com o zelo e a imparcialidade necessárias”.
Existem “indícios veementes”, diz delegado
Segundo a Polícia Federal, o grupo que atuava no CARF fazia um levantamento dos grandes processos em curso no conselho, procurava empresas com altos débitos no Fisco e oferecia facilidades, como a anulação de multas. Conforme as investigações feitas até aqui, mais de 70 processos tributários podem ter sido fraudados, com um prejuízo superior a R$ 19 bilhões aos cofres públicos. O delegado da Polícia Federal Marlon Cajado, responsável pelas investigações, afirmou à Agência Brasil que até o momento foram identificados “indícios veementes” de manipulação de cinco julgamentos, já finalizados, em que o Estado foi lesado em quase R$ 6 bilhões. O delegado Oslain Campos Santana, diretor de Combate ao Crime Organizado da PF, disse à revista Veja que “essa investigação é uma das maiores, se não a maior, de uma organização criminosa especializada em sonegação fiscal no Brasil, pelos valores e pelo modus operandi”.
O CARF é um órgão da Fazenda onde contribuintes podem contestar administrativamente tributos e multas aplicadas pela Receita Federal. A matéria do Estadão cita uma conversa interceptada com autorização da Justiça, onde um ex-conselheiro do CARF diz: “Aqui no CARF só os pequenos devedores pagam. Os grandes, não”. A fórmula para isso acontecer envolveria, entre outras coisas, o pagamento de propinas a integrantes do conselho para fazer as multas desaparecerem.
Investigadores suspeitam que RBS pagou R$ 15 milhões de propina
Os casos que estão sob investigação da força-tarefa da Operação Zelotes teriam ocorrido entre os anos de 2005 e 2015. A investigação, iniciada no fim de 2013, analisou o comportamento de conselheiros do CARF e de escritórios de advocacia suspeitos de operar dentro do conselho e de terem causado prejuízos estimados em quase R$ 6 bilhões aos cofres públicos. Já foram examinados 70 processos em andamento ou já encerrados no Conselho. Ainda segundo o jornal O Estado de São Paulo, os investigadores suspeitam que a RBS teriam efetuado o pagamento de R$ 15 milhões de reais para fazer desaparecer um débito de mais de R$ 150 milhões de reais. No total, diz também a reportagem, as investigações se concentram em débitos da RBS que chegam a R$ 672 milhões.
O Grupo RBS divulgou nota oficial neste sábado dizendo que desconhece a investigação da Operação Zelotes e negando qualquer irregularidade em suas relações com a Receita Federal. “A RBS não foi procurada para fornecer qualquer informação sobre a suposta investigação e confia na atuação das instituições responsáveis pela apuração para o devido esclarecimento dos fatos, que, como sempre, seguirão tendo cobertura normal de nossos veículos”, afirma a nota publicada na página institucional do grupo. A empresa também transmitiu “a todos os seus colaboradores a sua total tranquilidade quanto à lisura e à transparência dos procedimentos junto ao Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), bem como em todos os seus atos externos e internos em todas as áreas”.
Gerdau investigado pela suspeita de tentar anular débito de R$ 1,2 bi
O Grupo Gerdau também é investigado pela suposta tentativa de anular débitos que chegariam a R$ 1,2 bilhão. Entre as empresas mencionadas na matéria do Estado de São Paulo, os maiores débitos foram os discutidos por Santander, com R$ 3,3 bilhões, Banco Bradesco e Bradesco Saúde, com R$ 2,7 bilhões e Ford, com R$ 1,7 bilhão. Dos grupos gaúchos, Gerdau aparece com R$ 1,2 bilhão, RBS com R$ 672 milhões e Marcopolo com R$ 260 milhões. Até a tarde deste sábado, o Grupo Gerdau não havia se manifestado oficialmente sobre o caso. O Ministério da Fazenda informou que já abriu processos administrativos contras as empresas envolvidas, tendo como base a Lei Anticorrupção. Essas ações, ainda segundo a Fazenda, “têm em vista a aplicação das medidas administrativas punitivas pertinentes, sem prejuízo da eventual responsabilização civil e penal”.
O Ministério da Fazenda também informou que, “desde o começo de 2015, o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, órgão responsável pelo julgamento dos contenciosos administrativos fiscais de segunda instância, iniciou uma reforma dos seus processos internos, com vistas a aprimorar suas atividades, dando-lhes maior transparência, previsibilidade, celeridade e segurança”. O Procurador da República Frederico Paiva, que atua na Operação Zelotes, disse à Agência Brasil que o CARF tem um modelo de composição e atuação que é “suscetível à corrupção”. Vinculado ao Ministério da Fazenda, o CARF é composto por 216 conselheiros, sendo 113 indicados pelo Ministério da Fazenda e 113 por confederações representativas de categorias econômicas de nível nacional e pelas centrais sindicais. O trabalho dos conselheiros não é remunerado.
“Estamos falando de grandes advogados, experientes que, obviamente, não vão ficar três anos afastados sem remuneração. O sistema é naturalmente falho, tem que ser mudado e esperamos que o Ministério da Fazenda tome as providências. Neste momento de ajuste fiscal, em que se busca receitas, o CARF é um grande escoadouro de recursos públicos. Isso é de conhecimento público, pelo menos dos grandes escritórios de advocacia”, disse ainda Frederico Paiva.