Acessos

Mostrando postagens com marcador Erro judiciário. Acaso retirou da prisão um condenado por estupro. (Cf. Marina Schettini). Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Erro judiciário. Acaso retirou da prisão um condenado por estupro. (Cf. Marina Schettini). Mostrar todas as postagens

sábado, 26 de julho de 2014

Erro judiciário. Acaso retirou da prisão um condenado por estupro. (Cf. Marina Schettini)

26/jul/2014...

Acaso pune e também salva  

Paulo Antônio da Silva, 68, fala sobre os mais de cinco anos que ficou preso, condenado por estupro

 

PUBLICADO EM 26/07/14 - 03h00

Em casa, a única companhia de Paulo é o som que vem do rádio. De lá, ecoam frases religiosas que são um alento para o homem que passa o dia sozinho, enquanto os filhos cumprem suas obrigações diárias. Na sala de estar, o principal cômodo da pequena casa, estão também quadros que reproduzem cenas católicas e uma Bíblia, guardada sobre um dos poucos móveis do local.
O cenário dá uma prévia do que fez o ex-porteiro manter a esperança durante todos os anos de acusações injustas: a fé. Paulo Antônio da Silva recebeu a reportagem de O TEMPOem sua casa, nesta sexta, para uma conversa. Em pouco mais de uma hora, falou das dificuldades vividas na prisão e do alívio ao ser inocentado, 15 anos depois, por um golpe de sorte, quando uma das vítimas reconheceu, na rua, o verdadeiro criminoso.
Aos 68 anos, com o andar difícil, os olhos cansados e a saúde castigada por cinco anos e sete meses de prisão injusta, Paulo demonstra boa memória com nomes. Ele se lembra bem das pessoas que o ajudaram, como a “dona Célia, síndica do prédio em que eu trabalhava como porteiro, e os doutores Robson, advogado, e Nelci, delegada”, que o acompanharam no início do processo. Mas ele também guarda rancor pelos parentes que não o teriam ajudado, em especial um irmão, “o sargento da Polícia Militar”, e um advogado dos tempos do julgamento.
Veja vídeo
Anos perdidos
Paulo também é bom com datas, pelo menos aquelas que marcaram a luta para provar sua inocência, inclusive um 1º de abril, em 1997, ironicamente dia da mentira, quando ele foi levado pela primeira vez à delegacia para prestar depoimento sobre os crimes que lhe roubariam anos de trabalho e de convivência familiar.
Anos que o privaram de ver o crescimento das filhas, que o afastaram da mulher e o impediram de dar um tão lamentado adeus à mãe, que morreu enquanto ele ainda estava preso.
Hoje, Paulo comemora os 25 anos da filha do meio, Ana Paula. Ele também é pai de Adelson, 39, e Natália, a caçula, de 22 anos. Com tristeza, se lembra do quarto filho, que morreu aos 14 anos em um acidente. Mas não dá muitos detalhes, afinal, é “coisa ruim de falar”, justifica.
O único vício adquirido ao longo da vida foi o cigarro, apesar de os médicos já terem avisado que faz mal à saúde. O ex-porteiro nunca bebeu. Antes de ser confundido com um estuprador, também não teve qualquer problema com a Justiça, nunca havia sido preso.
Para o futuro, ele pensa em usar os R$ 2 milhões que deve receber de indenização para comprar um imóvel e incrementar a renda da aposentadoria. “Por causa desse dinheiro, meus filhos não querem mais que eu fique aqui, sozinho. Mas eu não tenho medo. É como aquela música que fala que o ladrão foi lá em casa e quase morreu do coração. Não tem uma música assim?”, pergunta, referindo-se a “Pega Eu”, de Bezerra da Silva. Parece que ainda não se deu conta do montante que poderá receber.
Outro desejo é arrumar uma companheira. Para isso, ele já ensaia investir no visual e adianta que a filha Ana Paula sugere a retirada do chapéu para ficar mais bonito. Mas enquanto a amada não chega, ele aproveita os dias de liberdade passeando pelas ruas do bairro (que não será divulgado para preservá-lo) e cuidando de suas galinhas, tentando, quem sabe, compensar o tempo perdido.
Entenda o caso
Prisão. Paulo ficou cinco anos e sete meses preso em regime fechado, até ter o benefício da prisão domiciliar, em 2002.
Ação. A investigação voltou à tona em março de 2012 após uma mulher que havia sido estuprada quando criança reconhecer o suspeito ao andar pelo bairro Anchieta, na região Centro-Sul da capital. Ela chamou a polícia, que prendeu o ex-bancário Pedro Meyer, o Maníaco do Anchieta. Ele confessou. Paulo foi então inocentado.
Indenização. Nesta semana, a Justiça decidiu que o Estado deve indenizar o ex-porteiro em R$ 2 milhões. Cabe recurso.
(Disponível em: (http://www.otempo.com.br/cidades/acaso-pune-e-tamb%C3%A9m-salva-1.889723). Acesso em: 26/jul/2014.