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segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

A 'grande imprensa' sucumbe ao próprio veneno (Cadu Amaral)


segunda-feira, 30 de dezembro de 2013


A 'grande imprensa' sucumbe ao próprio veneno

Para encerrar bem o ano de 2013, a autoproclamada “grande imprensa”, solta seus já conhecidos sambas de uma nota só. Além de um provável programa no Fantástico (?) da Globo sobre a mãe de Joaquim Barbosa, que pode ser candidato à presidência em 2014, uma lista com nomes para participarem dos jogos bobocas do Programa do Faustão em que nela aparece Aécio Neves (PSDB) e as equipe são nas cores azul e amarelo. Coincidência?

O canal de tevê fechada GloboNews, em seu programa Painel, apresentado pelo apresentador mais próximo dos EUA no país, William Waack, apresentou um “debate” sobre direita e esquerda.

Como não podia deixar de ser, senão não era a Globo, todos os três “debatedores” eram de direita, entre eles o Reinaldo Azevedo, de Veja. Junte isso ao próprio apresentador e tivemos, por quase cinquenta minutos, quatro pessoas tentando destruir o espectro ideológico de esquerda no Brasil. Se a Globo tive o mínimo de senso de ridículo, ao menos um dos convidados seria de esquerda. Porém pedir o senso de ridículo à Globo é pedir demais. Seja na quantidade que for.


Entre as inúmeras baboseiras que soltavam em rede nacional de tevê fechada, estava a de que “os esquerdista não sabem lidar com a diferença”. Pois é, falaram isso durante um programa para debater direita e esquerda e que só participaram debatedores de direita. Isso sim é saber lidar com as diferenças, não acham?

Outra bobagem ditas pelos “entendedores” de linhas ideológicas foi a de que o Brasil é “um país de esquerdista” e “ser liberal é ser revolucionário”. Seria cômico se não fosse trágico.

O programa Painel, da GloboNews, é a prova material do que disse Márcio Pochmann, da Fundação Perseu Abramo, à revista Fórum, sobre a imprensa no Brasil.

Os jornais que temos hoje também escrevem para os seus militantes, escrevem o que eles querem ouvir, e por isso esses jornais estão com dificuldades para ampliar o seu número de leitores, é por isso que os jovens não interagem com esses jornais. Mas eles têm um público cativo, e para manter esse público cativo ficam alimentando uma visão que é, a meu ver, insustentável, isso não tem futuro. Estamos assistindo ao fim desse tipo de imprensa. Está em construção uma outra imprensa, uma outra cobertura, que é a coisa digital e isso também está em construção", afirmou Pochmann.

Por essas e outras que a internet vem ganhando o terreno da televisão como mídia mais consumida pelos brasileiros. De acordo com o um estudo realizado pelo IAB Brasil em parceria com a comScore chamado “Brasil Conectado – Hábitos de Consumo de Mídia”. Hoje no país, cerca de 100 milhões de pessoas, 82% dos entrevistados, se informam e se entretém pela internet.

Enquanto que, em 2013, a audiência da Globo foi a pior da História, principalmente de seu principal programa, o Jornal Nacional. Entre 2012 e 2013, a audiência caiu cerca de 18,4%. No acumulado da década, a queda foi de quase 30%. O Fantástico sua horrores para chegar a 20 pontos.

Lógica natural de uma mídia que tenta convencer as pessoas de uma realidade que não existe. Que é extremamente panfletária, mas jura de pés juntos ser imparcial e compromissada com a informação e a verdade factual. Provavelmente por acreditar que seus telespectadores, ouvintes e leitores tenham a capacidade intelectual do personagem de desenho animado Homer Simpson.

Como o próximo ano é eleitoral, a postura da “grande imprensa” deverá ser o mesmo e seguindo o mesmo comportamento sua audiência cairá ainda mais. Ela não é uma grande imprensa, não trata os temas de forma grandiosa, completa, com a finalidade que deveria. Ela é apenas uma imprensa grande, graças inclusive ao golpe de 1964. Mas do jeito que vai, nem uma imprensa grande será mais. E em menos tempo do que se pensa.
Disponível em: Blog do Cadu: A 'grande imprensa' sucumbe ao próprio veneno

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Os intelectuais e a esfera pública (Emir Sader)

26/07/2013

Os intelectuais e a esfera pública



O governo Lula surpreendeu aos intelectuais, que ficaram desarmados sobre como reagir. Estavam despreparados para encarar um governo que se propunha a enfrentar a herança neoliberal nas condições realmente existentes.

A primeira atitude foi a mais tradicional nos intelectuais de esquerda: a deníncia de “traição” do Lula, que haveria herdado e mantido o governo neoliberal de FHC e seu programa. A nomeação da equipe econômica seria a prova irrefutável do crime.

Essa concepção foi adotada desde um primeiro momento pelos intelectuais da ultra esquerda, com seus esquemas pré-fabricados de que todo partido “social democrata”, quando chega ao governo, “trai” a classe trabalhadora e se assume como governo “burguês”, de direita, que apenas administra a crise capitalista, enganando a classe trabalhadora. Só viram no governo Lula a “confirmação” do que sempre – eles e seus antepassados políticos – previam.

A eles se juntaram os que acompanhavam, com bastante desconfiança, a vitória do PT e, diante da primeira circunstância, se distanciaram, com denúncias similares às mencionadas acima, sem nenhuma criatividade. O PT teria se aburguesado, se distanciado de suas bases tradicionais, se adequado à herança recebida e fazia um governo de continuidade com o governo de FHC. Houve até mesmo economistas que tentaram provar que não teria existido sequer “herança maldita” que demandasse políticas específicas para herdá-las, que tudo eram mentiras do governo Lula para justificar medidas econômicas conservadoras.

Na crise de 2005, intelectuais da extrema esquerda aderiram ao coro de denúncias da direita contra o governo Lula. Abandonaram qualquer crítica à política econômica e se centraram em que a “traição” teria ganhado contornos morais, com a corrupção grassando em todo o governo Lula.

Perderam o norte do mundo contemporâneo, em que o capitalismo assumiu o modelo neoliberal, que busca a mercantilização de tudo. Se somaram ao liberalismo, na sua crítica ao Estado, de que as denúncias de corrupção são um capítulo.

Terminaram fazendo da crítica ao governo Lula e ao PT seu objetivo fundamental, aliados à direita – em particular a seus espaços midiáticos – e terminando grotescamente, assim, sua trajetória intelectual.

Seguem nesse lugar, sem revelar nenhuma capacidade de análise e compreensão do Brasil e da América Latina contemporâneas, com o que não captam a natureza e o estado atual da luta pela superação do modelo neoliberal.

Os intelectuais de direita, que se haviam reanimado com os governos Collor, Itamar e FHC, revigorados pelo fim da URSS e, com ela, o fracasso do Estado, se mobilizaram no apoio às versões brasileiras do projeto neoliberal, de forma eufórica. Conseguiam retomar a ofensiva diante da esquerda, com um projeto que se pretendia “modernizador” e desqualificava a esquerda como pré-histórica.

Uniram-se intelectuais tradicionais da direita – vários deles que haviam estado com a ditadura –, mais intelectuais tucanos e economistas acadêmicos, em torno da liderança de FHC. Tiveram o gosto de derrotar o Lula e o PT duas vezes, pretendiam ter chegado ao poder por 20 anos e ter derrotado de vez a esquerda.

Naufragaram com o fracasso do governo FHC. Nem foram capazes de fazer um balanço da experiência desse governo e diagnosticar a derrota do candidato de continuísmo – que, na própria distância em relação ao governo de FHC, confessava sua derrota.

A intelectualidade de esquerda que não se rendeu à fácil versão da “traição” do governo Lula manteve seu apoio ao governo e ao PT, mas em geral sem teorizar as razões desse apoio. Haviam ficado na defensiva diante dos caminhos inesperados adotados pelo governo Lula e as acusações de corrupção levantadas contra ele. Se passava a uma situação claramente de defensiva diante da ofensiva da direita e da ultra esquerda.

Foi o enfrentamento dessa crise pelo governo Lula e a vitória eleitoral de 2006 – que revelava as novas bases populares que as políticas sociais tinham conquistado para o governo e para a esquerda – que projetaram uma nova imagem do governo. A ideia de que, pela primeira vez, mesmo se por caminhos inesperados e até mesmo reprovados pela esquerda – como os elementos conservadores da política econômica –, a fisionomia social do país tinha mudado, de forma significativa, e pela primeira vez a esquerda tinha uma base realmente popular, voltou a sensibilizar a setores da intelectualidade da esquerda. 

O apoio ao governo veio, sobretudo, das conquistas sociais dos setores populares e, em menor medida, da política externa soberana do governo. A confiança na figura do Lula comandou essa retomada de apoio dos intelectuais de esquerda ao governo.

Mas sem ainda teorizar as razões do sucesso do governo. É esse processo que precisa ser dinamizado, para retomar uma interação entre o pensamento crítico e os governos do PT, que tinha sido deixada de lado. O pensamento social necessita rearticular-se com os processos políticos contemporâneos – o brasileiro e o latino-americano – e os governos e os partidos de esquerda precisam da oxigenação do pensamento crítico.

Essa retomada deve se centrar no balanço da luta pela superação do modelo neoliberal e nos traços fundamentais de uma sociedade fundada na esfera pública, na universalização dos direitos, na democratização radical da economia, da política e da vida cultural.


Postado por Emir Sader às 08:25

(http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=1290). 

domingo, 18 de setembro de 2011

"O PT é a esquerda que o Brasil conseguiu ter" (Lincoln Secco, entrevista à Caros Amigos)


Entrevista Lincoln Secco
"O PT é a esquerda que o Brasil conseguiu ter"
O professor da USP acaba de lançar livro em que analisa a trajetória do PT e fala sobre o papel de Lula na história da agremiação
Por Júlio Delmanto

“O PT ampliou o seu discurso para cima (burguesia) e para baixo e conquistou parte das classes desamparadas. Assim, não podemos negar que Lula e o PT tiveram a capacidade de compreender as contradições sociais de seu tempo. Eles encontraram a forma na qual as contradições podiam se mover. E este é, no fim das contas, o método pelo qual elas são resolvidas segundo disse Marx. Ao menos até o instante em que o leito em que adormecem os conflitos se torne estreito demais para acomodá-los.”

O parágrafo final do livro História do PT (Ateliê Editorial), de Lincoln Secco, professor da matéria desde 2003 na USP, resume bem o tom e os objetivos da obra recém publicada. Como aponta o autor, não há uma história do Partido dos Trabalhadores, nem mesmo uma oficial feita pela agremiação que governa o país desde 2002.

A partir de um olhar que “não se pretende nem oficial nem de um dissidente”, é a complexidade da trajetória de um partido que nasce negando as vanguardas e o Leste Europeu, em meio a diversidade de formas políticas que voltaram a ganhar fôlego com o ocaso da ditadura configura- se com uma inédita convivência de tendências e com o tempo acaba colocando como horizonte organizador da vida partidária não mais estas tendências, mas os parlamentares e o jogo institucional que Lincoln Secco (autor também de Caio Prado Júnio - o sentido da revolução - Boitempo) apresenta e analisa em seu novo livro, e sobre a qual conversou com a Caros Amigos na entrevista que segue.

Caros Amigos - Em primeiro lugar, gostaria que você comentasse o que o motivou a escrever esta história do PT. Nota-se que há preocupação em que o livro seja leve e acessível ao público em geral, para além da academia, gostaria que comentasse essa opção também.
Lincoln Secco - Eu notei que não havia uma história abrangente do PT e que agora era o momento de alguém fazer isso, porque o PT passou por todas as fases possíveis, das greves do ABC paulista ao governo do Brasil. Eu também fui testemunha ocular de algumas coisas, embora na base do partido. Assim, pude ver bagrinhos de ontem tornarem-se os capas pretas de hoje, como se diz no jargão petista. Numa condição assim, eu nem poderia fazer uma obra estritamente acadêmica. Além disso, eu acho que a história do PT pode ser lida de maneira mais equilibrada pelos jovens que nem tinham nascido em 1989, por exemplo, e por um público amplo, politizado, mas nem sempre partidarizado.

Em diversos momentos do começo da história do PT você tem o cuidado de ressaltar o número de vezes em que a palavra “socialismo” é pronunciada, em encontros e documentos, por exemplo. É possível dizer que o PT nasce como um partido socialista?

Ele nasce como espaço em disputa por muitas tendências socialistas ou não. Florestan Fernandes achava que o PT era operário e socialista, ainda em 1990. Ele tinha que dizer isso, porque estava disputando o PT. Eu sempre fui admirador dele no partido e ainda penso que ele foi o intelectual mais importante que o PT teve. Mas hoje, vejo que o PT nasceu com linguagem radical e extraparlamentar até que se tornasse o contrário disso por volta de 1990. Ou seja: o futuro do PT não estava definido em 1980, mas uma vez que o caminho trilhado se completou, nós podemos vê-lo como uma típica trajetória social democrata.

Em seu livro notam-se algumas datas chave na história do PT, como 1978, 1984, 1989, 2002 e 2005. Algum destes momentos pode ser destacado como mais marcante nesta trajetória?

É difícil escolher. Mas eu apontaria dois muito próximos: a chegada de Lula à presidência em 2002 e a crise do PT em 2005, quando pareceu que Lula poderia ter sofrido um impeachment de consequências mortais para o partido.

Você destaca muito o papel, retórico e prático dos núcleos de base na trajetória do PT, especialmente nos anos 1980. A perda de importância dos núcleos é causa ou consequência da crescente priorização da via eleitoral na vida do partido?

Esta é uma excelente questão, porque ambos os processos andaram combinados. Eu diria que um alimenta o outro. Como eu mostro no livro, os núcleos do PT não desapareceram. Eles estão aí ainda hoje. Por outro lado, mesmo no início eles tinham dificuldade de influenciar a vida partidária. A tensão dialética entre o impulso eleitoral e a força militante se resolveu na forma de um partido ao mesmo tempo parlamentar e hegemônico nos movimentos sociais. Mas lembremos que a burocratização não foi só do PT. Não ocorre o mesmo com a CUT e, em menor medida, com a UNE e o MST?

O PT teve, desde seu início, forte ligação com movimentos sociais. Como você avaliaria o peso de movimentos como CUT e MST na história do PT? O partido sempre criticou a tática de movimentos serem utilizados como “correia de transmissão” de ideais partidários, é possível dizer que, com o tempo, o próprio PT acabou atuando desta forma em relação aos movimentos sociais?

O que aconteceu é que os movimentos sociais também se submeteram à lógica da sociedade que os acolheu. Assim como o PT foi se inserindo na Ordem, os movimentos também foram. A situação mudou em 2002. Ali, sim, os movimentos se submeteram, mas não ao PT e sim ao Governo Federal. O próprio PT submeteu-se inteiramente ao governo.

Qual o papel que a derrota nas eleições de 1989 tem na trajetória subsequente do PT? Caso Lula vencesse, seria possível governar o país com as proposições e a conjuntura daquele momento?

Como historiador, eu devo dizer que só em circunstâncias muito específicas me interessa o que deveria ou poderia ter acontecido. Esta é uma delas, porque nos faz pensar nas vias que a esquerda tentou para chegar ao poder na América Latina. É provável que a um hipotético Governo Lula, em 1990, fosse um fracasso do ponto de vista econômico e terminasse desmoralizado pela inflação, embora não por corrupção, como aconteceu com Alan Garcia no Peru. Mas o que importa é o fato de que a derrota foi importantíssima para que o PT escolhesse de vez o caminho da integração à Ordem estabelecida, até mesmo expulsando as tendências que não concordavam com o aggiornamento.

Para ler a entrevista completa e outras matérias confira edição de setembro da revista Caros Amigos, já nas bancas, ou clique aqui e compre a versão digital da Caros Amigos.