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sábado, 10 de outubro de 2015

A derrota de Cunha é a derrota de Moro, da Lava Jato e da mídia (Paulo Nogueira)

Postagem 10/out/2015...


Agora vai ser difícil rir
Agora vai ser difícil rir
Postado em 10 out 2015
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O grande azar de Cunha foi ter ficado ao alcance de quem não está sob seu domínio nem de seus amigos e aliados: a Suíça.
Foi o mesmo azar de Marin.
No Brasil, Cunha permaneceria impune como sempre aconteceu nestes anos todos de uma carreira obscura e cheia de acusações de delinquência.
Nem Moro e nem a Polícia Federal têm alguma ação sobre tipos como Cunha.
Isso mostra a face real do combate à corrupção que se trava no Brasil da Lava Jato.
Quem acredita nos propósitos redentores dessa cruzada demagógica acredita em tudo.
O alvo é um, e ele não inclui figuras como Cunha ou Marin.
Isso significa que, passado o circo da Lava Jato, nada de efetivo terá mudado – a não ser que se alterem profundamente a estrutura de fiscalização a roubalheiras no Brasil de forma que fiquem desprotegidos os plutocratas e amigos seus como Cunha.
O episódio deixa também exposta a imprensa.
O que ela fez para investigar Cunha nestes anos todos, e sobretudo nos últimos meses quando ele acumulou um poder extraordinário no Congresso graças a seu gangsterismo?
Nada. Nada. Mais uma vez: nada.
Não por inépcia, ou não por inépcia apenas. Mas por má fé, por desonestidade.
Cunha era aliado, porque significava um ataque permanente ao governo Dilma.
E aos aliados a imprensa não cobra nada. Veja como Aécio tem sido tratado. Como ele escapou de ser sequer citado como amigo de Perrela no caso (abafado por jornais e revistas) do helicóptero de meia tonelada de pasta de cocaína.
A derrota de Cunha frente às autoridades suíças é, também, a derrota de Moro, da Lava Jato e da imprensa, não necessariamente nesta ordem.
Tanto estardalhaço nas prisões dos suspeitos de sempre, e tanta permissividade em relação a tipos como Eduardo Cunha.
É preciso destacar também o papel patético, nesta história criminosa, do PSDB.
Já eram cabais as evidências contra Cunha e seus líderes, num universo paralelo, diziam que era preciso dar a ele o benefício da dúvida.
Este benefício jamais foi dado a ninguém fora do círculo de interesses do PSDB.
É uma demonstração incontestável de que a lengalenga anticorrupção do PSDB é a continuação da mesma estratégia golpistas que matou Getúlio e derrubou Jango.
É a velha UDN de Lacerda ressuscitada nos tucanos.
Na condição de morto vivo, ou morto morto, Eduardo Cunha cala sobre o que deveria ser dito – a questão das contas – e tagarela sobre o que é ridículo dizer.
Ele está se fazendo de vítima. Diz que está sendo perseguido pelo governo e pelo PT.
Não foi ele que roubou, não foi ele que barbarizou, não foi ele que criou contas secretas expostas pelas autoridades suíças: é o PT que está perseguindo.
A isso se dá o nome de doença.
É preciso louvar, por último, o papel de Janot.
Fosse nos tempos de FHC com seu engavetador geral, sabemos onde ia dar o dossiê dos suíços.
Na gaveta.
Paulo Nogueira
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

sábado, 29 de agosto de 2015

A importância simbólica do gesto de Manu ao ‘matar’ o Lula inflado (Paulo Nogueira)

Postagem 29/ago/2015...


A importância simbólica do gesto de Manu ao ‘matar’ o Lula inflado


Postado em 29 ago 2015
Plácida em pleno fragor
Plácida em pleno fragor
Que você faz diante de um boneco que para você simboliza o que há de pior – preconceito, ignorância, vulgaridade, calúnia e achincalhe?
A líder estudantil Manu Thomazielli descobriu uma resposta simples e eficaz: fura.
Manu, com a ousadia típica da juventude e de quem tem convicções, aplicou assim, com um furo, um contragolpe extraordinário nos extremistas de direita que estavam usando o boneco de Lula presidiário como um símbolo de sua campanha insolente contra a democracia.
Manu, que milita na União da Juventude Socialista, a UJS, virou instantaneamente, na tarde de sexta, uma vagaba comunista para os direitistas e uma heroína para os progressistas.
Isso ficou patente em sua conta no Facebook.
A Folha publicou seu nome, e os revoltados descobriram sua página no Facebook.
Manu sofreu um linchamento virtual. Os insultos mostram, acima de tudo, a mente tumultuada dos militantes arquiconservadores.
O local escolhido pelos fanáticos foram os comentários sob a foto de perfil que Manu postou depois de furar o boneco. Nela, está abraçada a Lula.
Demorou algum tempo para que simpatizantes da causa de Manu fossem em seu socorro no Facebook.
Mas eles chegaram, e a polarização que domina hoje o país se reproduziu, em escala reduzida, na página de Manu.
A mensagem mais expressiva pró-Manu veio de uma amiga sua de UJS.
Ela avisou: “E se encherem o boneco a gente fura de novo.”
Eis aí a força maior do gesto de Manu. Ela deixou clara a vulnerabilidade do Pixuleco, uma fragilidade tão grande quanto seu tamanho.
Um furo e a festa acaba.
Tudo indica, por isso, que o Pixuleco morreu ontem.
Era uma vez
Era uma vez
Sobrou a zoeira típica da internet. O Sensacionalista anunciou que com a morte do boneco assume o Aécio de Papelão.
Um outro meme afirmou o seguinte. “Boneco inflado de Lula: 12 mil reais. Ver as minas da UJS acabar com a palhaçada: não tem preço.”
Entre as histórias, a maior delas ainda não confirmadas, em torno do episódio, uma é o retrato dos manifestantes.
O que contam é que os donos do boneco foram prestar queixa na polícia contra Manu por destruição de bem privado.
Um policial teria pedido a nota fiscal para formalizar a queixa. Mas cadê a nota fiscal?
Sonegação é um dos piores tipos de corrupção, mas isso parece ser um detalhe para os radicais da direita.
Para os progressistas, o gesto de Manu tem um forte significado simbólico. Finalmente alguém deu uma resposta, e que resposta, aos conservadores.
Manu deixou claro que não há motivo para os militantes progressistas ficarem de braços cruzados diante da escalada da extrema direita.
Sozinha, ela colocou de joelhos dezenas, centenas de fanáticos.
Duas fotografias contam tudo sobre a história.
Numa delas, está o boneco miseravelmente esvaziado.
Na outra, protegida por policiais da fúria dos revoltados, Manu aparece sorrindo, plácida, tranquila no meio do fragor que provocou.
Seu sorriso é de quem cumpriu uma missão, e muito bem.
Era como se ela dissesse aos que vociferavam xingamentos, como o grande general romano Mário diante de um bárbaro que o desafiara para um duelo: “Estão com raiva? Se matem. Eu estou muito bem.”
(Acompanhe as publicações do DCM no Facebook. Curta aqui).
Paulo Nogueira
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

domingo, 26 de maio de 2013

Por que Dilma ficou com Barroso (Paulo Nogueira)

Por que Dilma ficou com Barroso

PAULO NOGUEIRA 26 DE MAIO DE 2013 22

Ela resolveu o problema do mensalão sem se indispor com a Globo, que gosta do novo ministro.
Resolveu um problema sem criar outro
Resolveu um problema sem criar outro
O que você faz para resolver um problema e não criar outro?
Bem, no caso do STF, você nomeia Luís Roberto Barroso.
Barroso resolve o problema do mensalão. Sua chegada ao Supremo muda o cenário no momento fundamental dos recursos.
Desfaz-se o estado de espírito anti-réus que dominou o STF, e que por um momento pareceu que levaria Zé Dirceu à cadeia.
(Quem não se lembra do relato de Mônica Bergamo, na Folha, sobre o dia em que Dirceu fez as malas à espera de que o levassem pela madrugada?)
Joaquim Barbosa, o grande derrotado na nomeação, agora é minoritário, e é uma benção que seja assim, tamanha a inépcia grosseira, pedante e autoritária do ex Batman.
A segunda etapa do julgamento – aquela, sabemos agora, que será a definitiva – quase que começa do zero. Dirceu pode desfazer a mala, se já não desfez.
As sentenças extraordinariamente rigososas comandadas por Barbosa, e alinhadas com a mídia, vão sofrer uma enorme redução.
Teses como a Teoria do Domínio do Fato, pela qual você pune sem provas, voltarão ao ostracismo.
Será difícil, como aconteceu, condenar alguém com base em denúncias de jornais e revistas – a maior parte delas sem comprovação.
Barroso trouxe isso a Dilma – a certeza de que ela não terá que aturar a expressão de sarcasmo vitorioso de Barbosa, tão bem captada por um fotógrafo no funeral de Niemeyer.
Para os repórteres, Dilma disse que a nomeação nada teve a ver com o mensalão, mas chamo aqui Wellington para comentar: quem acredita nisso acredita em tudo.
É um pastelão, é verdade – mas o final é melhor que o começo, tamanhas as barbaridades dos juízes no mensalão.
Dilma, com Barroso, resolve também um problema, como foi dito acima.
Ela poderia enfrentar muitas críticas da mídia com a indicação. Com Barroso, ela neutralizou o maior foco das críticas: as Organizações Globo. Monopolista como a Globo é, você ganha a aprovação dela e o resto está feito no capítulo das relações com a mídia.
Barroso é amigo da Globo. Foi advogado da Abert, a associação que defende os interesses da Globo. Conforme mostrei num artigo anterior, chegou a escrever um artigo em que defendia a reserva de mercado para a Globo. (Os argumentos eram ridículos: até Mao Tsetung era invocado como um risco. Mas o fato é que ele escreveu o artigo e ele foi publicado no Globo.)
Portanto: você não vai ver Jabor, Merval, Ali Kamel, Míriam Leitão ou quem quer que seja na Globo atacando Barroso agora ou, um pouco depois, em suas intervenções no julgamento dos recursos.
A família Marinho gosta dele: então seus vassalos também gostam. Gostam muito.
São todos papistas, para usar a expressão pusilânime e servil com que o ex-diretor do Globo Evandro de Andrade se insinuou a Roberto Marinho quando quis o cargo.
Faço o que o senhor mandar, disse Evandro. É o que todos ali fazem, basicamente.
Barroso só não resolve o problema dos brasileiros de ter um Supremo patético – mas nada é perfeito.

(http://www.diariodocentrodomundo.com.br/por-que-dilma-ficou-com-barroso/). 

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Por que os EUA são o único país a contestar a eleição de Maduro? (Paulo Nogueira)



Por que os EUA são o único país a contestar a eleição de Maduro?

DIARIO DO CENTRO DO MUNDO 26 DE ABRIL DE 2013


Segundo o secretário John Kerry, a América Latina é o “quintal” americano.
Kerry ao resgate
Kerry ao resgate

O artigo abaixo foi publicado no Guardian. O autor, Mark Weisbrot, é um economista americano, co-diretor do Centro para Pesquisas Econômicas e de Políticas Públicas em Washington.
Enquanto a maioria das notícias sobre a Venezuela, desde a eleição presidencial de 14 de abril, foi sobre os esforços do candidato perdedor Henrique Capriles de contestar os resultados, uma outra campanha, com sede em Washington, era bastante reveladora – e as duas eram definitivamente ligadas. Sem um apoio forte de Washington – a primeira vez que os EUA se recusaram a reconhecer o resultado de eleições da Venezuela -, é improvável que Capriles tivesse se juntado aos elementos mais barra pesada de seu time para fingir que a eleição foi roubada.
Os esforços de Washington para deslegitimar a eleição marcam uma escalada significativa dos esforços dos EUA na mudança de regime na Venezuela. Desde seu envolvimento no golpe militar de 2002 que o governo dos EUA não fazia tanta força para promover o conflito aberto na Venezuela. Quando a Casa Branca anunciou pela primeira vez, na segunda-feira, que uma auditoria de 100% dos votos era “um importante passo, prudente e necessário”, não se tratava de um esforço verdadeiro para promover uma recontagem.
Chegou-se ao ponto de dizer ao governo da Venezuela o que era necessário para fazer suas eleições legítimas. Esta foi também a resposta rápida aos esforços de Nicolás Maduro, de acordo com o New York Times de 15 de Abril, quando ele se aproximou da administração Obama para melhorar as relações, através do ex-secretário de energia de Clinton, Bill Richardson.
Mas o esforço da equipe de Obama falhou miseravelmente. Na quarta-feira, o governo da Espanha, o único aliado importante dos EUA a apoiar uma “auditoria de 100%”, reverteu sua posição e reconheceu a eleição de Maduro. Em seguida, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, recuou de seu alinhamento prévio com a administração Obama e reconheceu o resultado.
Não foram apenas os governos de esquerda da Argentina, Brasil, Equador, Bolívia e Uruguai que rapidamente felicitaram Maduro por sua vitória, mas os do México, Colômbia, República Dominicana, Guatemala, Haiti e outros. A administração Obama foi completamente isolada do mundo.
Os esforços desajeitados de Washington também ajudaram a destacar a eleição como uma questão de soberania nacional, algo que é profundamente apreciado na região. “Os americanos deveriam cuidar de seu próprio negócio um pouco e deixar a gente decidir o nosso próprio destino”, disse Lula em um comício no Brasil. Claro, havia gritos de ironia: George W Bush, “derrotado” por Al Gore em 2000, perdeu no voto popular e “ganhou” na Florida, oficialmente, por talvez 900 votos, sem nenhuma recontagem.
Mas a exigência de uma recontagem dos votos na Venezuela foi uma farsa desde o início. Os eleitores marcam sua escolha pressionando a tela sensível ao toque em um computador, o que imprime um recibo do voto. O eleitor verifica o recibo e o deposita em uma urna. Quando do fechamento das urnas, 53% das máquinas são selecionadas aleatoriamente e seus resultados comparados com os de papel, na frente de testemunhas de todos os lados. Não houve relatos de incompatibilidades até agora, nem mesmo o campo da oposição.
O representante da oposição no Conselho Nacional Eleitoral, Vicente Díaz, reconheceu “sem dúvida” que a contagem dos votos foi precisa. “Sem dúvida” é um eufemismo. O meu colega David Rosnick calculou a probabilidade de que estender uma auditoria para os restantes 47% das máquinas pudesse mudar o resultado da eleição: cerca de um em 25 trilhões.
Na quinta-feira à noite, o CNE da Venezuela concordou em fazer uma auditoria completa dos votos restantes e Capriles cancelou seus protestos. Mas não está claro o que a auditoria implica. A votação legal na Venezuela é o voto da máquina (como em partes dos Estados Unidos, onde há votação eletrônica), o recibo de papel não é um voto, e não é claro que seria possível auditar os votos remanescentes da maneira que os primeiros 53% foram auditados no local.
Na quarta-feira, o secretário de Estado John Kerry, dizendo perante o Congresso que os EUA se recusavam a reconhecer as eleições na Venezuela, referiu à América Latina como o “quintal” dos Estados Unidos. Opa. Bem, o desprezo era óbvio de qualquer maneira, não?


(http://www.diariodocentrodomundo.com.br/por-que-os-eua-sao-o-unico-pais-a-contestar-a-eleicao-de-maduro/). 

domingo, 28 de abril de 2013

A controversa carreira de Gilmar (Paulo Nogueira)


A controversa carreira de Gilmar

DIARIO DO CENTRO DO MUNDO 28 DE ABRIL DE 2013


Para ajudar os leitores, preparamos perguntas e respostas sobre o complicado ministro do Supremo.
Um problema nacional
Um problema nacional
E eis que o ministro Gilmar Mendes está metido em mais uma controvérsia. Para ajudar os leitores do Diário a se situarem, montamos um grupo de perguntas e respostas sobre Gilmar.
Quem indicou Gilmar Mendes para o STF?
Fernando Henrique Cardoso.
Como a indicação de Gilmar Mendes para o STF foi recebida por juristas ilibados?
No dia 8 de maio de 2002, a Folha de S. Paulo publicou um artigo do professor Dalmo Dallari, a propósito da indicação de Gilmar Mendes para o Supremo Tribunal Federal, sob o título de Degradação do Judiciário.
Qual era o ponto de Dallari?
“Se essa indicação vier a ser aprovada pelo Senado”, afirmou Dallari, “não há exagero em afirmar que estarão correndo sério risco a proteção dos direitos no Brasil, o combate à corrupção e a própria normalidade constitucional.”
Por quê?
Gilmar, segundo Dallari, especializou-se em “inventar” soluções jurídicas no interesse do governo. “Ele foi assessor muito próximo do ex-presidente Collor, que nunca se notabilizou pelo respeito ao direito”, escreveu Dallari. ”No governo Fernando Henrique, o mesmo  Gilmar Mendes, que pertence ao Ministério Público da União, aparece assessorando o ministro da Justiça Nelson Jobim, na tentativa de anular a demarcação de áreas indígenas. Alegando inconstitucionalidade, duas vezes negada pelo STF, “inventaram” uma tese jurídica, que serviu de base para um decreto do presidente Fernando Henrique revogando o decreto em que se baseavam as demarcações. Mais recentemente, o advogado-geral da União, derrotado no Judiciário em outro caso, recomendou aos órgãos da administração que não cumprissem decisões judiciais.”.
Como Gilmar, no cargo de advogado- geral da União, definiu o judiciário brasileiro depois de suas derrotas judiciais?
Ele fez uma afirmação textual segundo a qual o sistema judiciário brasileiro é um “manicômio judiciário”.
Como os juízes responderam a isso?
Em artigo publicado no “Informe”, veículo de divulgação do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, um juiz observou  que “não são decisões injustas que causam a irritação, a iracúndia, a irritabilidade do advogado-geral da União, mas as decisões contrárias às medidas do Poder Executivo”.
Havia alguma questão ética contra Gilmar quando FHC o indicou?
Sim.  Em abril de 2002, a revista “Época” informou que a chefia da Advocacia Geral da União, isto é, Gilmar, pagara R$ 32.400 ao Instituto Brasiliense de Direito Público – do qual o mesmo Gilmar é um dos proprietários – para que seus subordinados lá fizessem cursos.
Criador e criatura
Criador e criatura
O que Dallari disse desse caso?
“Isso é contrário à ética e à probidade administrativa, estando muito longe de se enquadrar na “reputação ilibada”, exigida pelo artigo 101 da Constituição, para que alguém integre o Supremo”, afirmou Dallari.
Em outros países a indicação de juízes para o STF é mais rigorosa?
Sim.  Nos Estados Unidos, por exemplo, um grande jurista conservador, Robert Bork, indicado por Reagan, em 1987, foi rejeitado (58 votos a 42), depois de ampla discussão pública.
Como o Senado americano tratou Bork?
Defensor declarado dos trustes, Bork foi arrasado pelo senador Edward Kennedy A América de Bork – disse Kennedy – será aquela em que a polícia arrombará as portas dos cidadãos à meia-noite, os escritores e artistas serão censurados, os negros atendidos em balcões separados e a teoria da evolução proscrita das escolas.
O caso foi tão emblemático que to bork passou a ser verbo. Mais tarde, em outubro de 1991, o juiz Clarence Thomas por pouco não foi rejeitado, por sua conduta pessoal. Aos 43 anos, ele foi acusado de assédio sexual – mas os senadores, embora com pequena margem a favor (52 votos a 48), o aprovaram, sob o argumento de que seu comportamento não o impedia de julgar com equidade.
Na forte campanha contra sua indicação as associações femininas se destacaram. E o verbo “borquear” foi usado por Florynce Kennedy, com a sua palavra de ordem “we’re going to bork him”.
Já no Supremo, Gilmar continuou a agir contra os interesses dos índios, como fizera antes?
Sim. Em 2009, o governo cedeu aos guaranis-caiovás a terra que eles ocupavam então. Em 2010, o STF, então presidido por Gilmar Mendes, suspendeu o ato do governo, em favor de quatro fazendas que reivindicam a terra.
A mídia tem cumprido seu papel de investigar Gilmar?
Não, com exceção da Carta Capital. Na edição de 8 de outubro de 2008, a revista revelou a ligação societária entre o então presidente do Supremo Tribunal Federal e o Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP).
O que é o IDP?
É uma escola de cursinhos de direito cujo prédio foi construído com dinheiro do Banco do Brasil sobre um terreno, localizado em área nobre de Brasília, praticamente doado (80% de desconto) a Mendes pelo ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz.
Ayres Brito deu aula magna no IBD
Ayres Brito deu aula magna no IDP
 O que a Carta Capital revelou sobre o IDP?
O autor da reportagem, Leandro Fortes, revelou que o IDP, à época da matéria, fechara 2,4 milhões em contratos sem licitação com órgãos federais, tribunais e entidades da magistratura, “ volume de dinheiro que havia sido sensivelmente turbinado depois da ida de Mendes para o STF, por indicação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso”.
Quem dava aulas no IDP, segundo a Carta Capital?
O corpo docente do IDP era formado, basicamente, por ministros de Estado e de tribunais superiores, desembargadores e advogados com interesses diretos em processos no Supremo. “Isso, por si só, já era passível de uma investigação jornalística decente”, escreveu em seu blog o autor da reportagem. “O que, aliás, foi feito pela Carta Capital quando toda a imprensa restante, ou se calava, ou fazia as vontades do ministro em questão.”
O jornalista deu algum exemplo?
Sim.  Na época da Operação Satiagraha,  dois habeas corpus foram concedidos por Mendes ao banqueiro Daniel Dantas, em menos de 48 horas. Em seguida, conforme Leandro Fortes, “a mídia encampou a farsa do grampo sem áudio, publicado pela revista Veja, que serviu para afastar da Agência Brasileira de Inteligência o delegado Paulo Lacerda, com o auxílio do ministro da Defesa, Nelson Jobim, autor de uma falsa denúncia sobre existência de equipamentos secretos de escuta telefônica que teriam sido adquiridos pela Abin”.
Como Gilmar reagiu às denúncias?
A Carta Capital e o repórter, por revelarem as atividades comerciais paralelas de Gilmar Mendes, acabaram processados pelo ministro.
Mendes acusou a reportagem de lhe “denegrir a imagem” e “macular sua credibilidade”. Alegou, ainda, que a leitura da reportagem atacava não somente a ele, mas serviria, ainda, para “desestimular alunos e entidades que buscam seu ensino”.
Como a justiça se manifestou sobre o processo?
Em 26 de novembro de 2010, a juíza Adriana Sachsida Garcia, do Tribunal de Justiça de São Paulo, julgou improcedente a ação de Gilmar Mendes e extinguiu o processo.
O que ela disse?
“As informações divulgadas são verídicas, de notório interesse público e escritas com estrito animus narrandi. A matéria publicada apenas suscita o debate sob o enfoque da ética, em relação à situação narrada pelo jornalista. (…) A população tem o direito de ser informada de forma completa e correta. (…) A documentação trazida com a defesa revela que a situação exposta é verídica; o que, aliás, não foi negado pelo autor.”
É verdade que Ayres Brito, que prefaciou o livro de Merval Pereira sobre o Mensalão, proferiu aula magna no IDP?
Sim.
Procede a informação de que, em pleno Mensalão, Gilmar foi ao lançamento de um livro de Reinaldo Azevedo em que os réus eram tratados como “petralhas”?
Sim.
Bons amigos: Merval e Ayres Brito
Bons amigos: Merval e Ayres Brito
E agora, como entender a crise entre o Supremo Tribunal Federal e o Congresso?
Nas palavras do colunista Janio de Freitas, esta crise “não está longe de um espetáculo de circo, daqueles movidos pelos tombos patéticos e tapas barulhentos encenados por Piolim e Carequinha. É nesse reino que está a “crise”, na qual quase nada é verdadeiro, embora tudo produza um efeito enorme na grande arquibancada chamada país”.
É verdade que o Congresso  aprovou um projeto que submete decisões do Supremo ao Legislativo?
Não. A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, como explicou Janio de Freitas,  nem sequer discutiu o teor do projeto que propõe a apreciação de determinadas decisões do STF pelo Congresso. “A CCJ apenas examinou, como é de sua função, a chamada admissibilidade do projeto, ou seja, se é admissível que seja discutido em comissões e eventualmente levado a plenário”, explicou Jânio. “A CCJ considerou que sim. E nenhum outro passo o projeto deu.”
E qual foi a atitude de Gilmar neste caso?
Ele afirmou que os parlamentares “rasgaram a Constituição”.  Isso só é equiparável, segundo Jânio, à afirmação de Gilmar de que “o Brasil estava sob “estado policial”, quando, no governo Lula, o mesmo ministro denunciou a existência de gravação do seu telefone, jamais exibida ou comprovada pelo próprio ou pela investigação policial”.

(http://www.diariodocentrodomundo.com.br/a-controversa-carreira-de-gilmar/).