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domingo, 8 de setembro de 2013

A Carta-Testamento de Luiz Gushiken (Hildegard Angel)



A CARTA-TESTAMENTO DE LUIZ GUSHIKEN


Luiz Gushiken, o ex-ministro de Comunicação do Governo Lula, está com câncer, hospitalizado em estado terminal. Não está sedado e não quer ser sedado. Diante da dor, serve-se de medicamento, morfina.
Conforme contei no Twitter na quinta-feira, ele recebeu o deputado José Genoínono hospital e, posteriormente, na mesma quinta, à noite, recebeu outros poucos companheiros do PT, entre eles José Dirceu, que saiu de lá muito emocionado.
Gushiken vai deixar como legado uma carta-testamento. O “japonês”,  como ele é chamado carinhosamente pelos antigos companheiros, deu um longo depoimento a uma amiga do grupo do final dos anos 70 (Libelu), pedindo que ela o transcreva e divulgue. No documento, ele faz avaliações sobre o momento atual, governo Dilma, PT e os principais desafios que vê para os que querem aprofundar as mudanças no país. Nesse momento, ele fala da falta que está fazendo ao governo uma atuação mais ativa de José Dirceu.
luiz-gushiken-thumbLuiz Gushiken despede-se dos amigos
Disponível em: A CARTA-TESTAMENTO DE LUIZ GUSHIKEN

sábado, 7 de setembro de 2013

José Dirceu. Nunca, antes, na história deste país, um homem sofreu tal linchamento (Hildegard Angel)





JOSÉ DIRCEU: NUNCA, ANTES, NA HISTÓRIA DESTE PAÍS, UM HOMEM SOFREU TAL LINCHAMENTO


Publicado em 6 de setembro de 2013 às 23:12
Ao fim da transmissão, ontem, da sessão no STF, Maria Alice Vieira, a colaboradora braço direito de José Dirceu, anunciou que todos os presentes ali reunidos no salão de festas do prédio do ex-Chefe da Casa Civil estavam convidados para retornar na quarta-feira e, juntos, assistirem novamente à próxima sessão, que provavelmente deverá julgar os Embargos Infringentes, assim todos esperam.
Havia no ar uma certa sensação de alívio. Alguém atrás de mim comentou: “Mais uma semana!”. O que entendi como “mais uma semana de esperança”.
O irmão de José Dirceu, Luís, que naquela manhã teve um mal estar cardíaco e precisou ser atendido numa clínica, veio me cumprimentar e agradecer o apoio, “em nome da família”. Gesto inesperado e tocante, de quem estava claramente emocionado.
José Dirceu é o que a literatura define como “homem de fibra”. Impressionante como se manteve e se mantém de pé, ao longo de todos esses anos, mesmo atacado por todos os lados, metralhado por todas as forças, todos os poderosos grupos de mídia, os políticos seus detratores, todas as forças da elite do país, formadores de opinião de todos os segmentos e matizes, de forma maciça e ininterrupta, massacrante.
De modo como jamais se viu uma pessoa nesta Nação ser ofendida, ele vem sendo acossado, desmoralizado, num processo de demolição continuada, sem deixarem pedra sobre pedra, esmiuçando-se cada milímetro de sua intimidade, devassando, perseguindo, escarafunchado e, sem qualquer evidência descoberta, juízes o condenam proferindo frases do tipo “não tenho prova cabal contra Dirceu, mas vou condená-lo porque a literatura jurídica me permite”. Nem mesmo o mais reles criminoso foi satanizado de tal forma ou sofreu linchamento tão perverso.
Com tal carga a lhe pesar sobre os ombros, ele não os curva. Às vezes mais abatido, outras aparentemente decepcionado, contudo sempre em combate, preparando-se para o momento seguinte. Não se queixa, não acusa, não lamenta, nem cobra a ausência de apoio daqueles que, certamente, deveriam o estar respaldando. É discreto. Não declina nomes. Nunca deixa transparecer quem está próximo dele, quem não. Um eterno militante de 68, que jamais despiu a boina.
“Família”, antes da reunião ontem, em seu prédio, com os companheiros que o apoiam nessa via crucis penal, para juntos assistirem à transmissão da TV Justiça, ele almoçou em casa com suas suas três ex-mulheres, filhas, irmãos, uma confraternização familiar necessária para quem poderia, dali a algumas horas, escutar o pior dos resultados.
E lá estávamos nós, aguardando sua chegada, falando baixo, sem grande excitação no ambiente, enquanto um técnico ajeitava, no laptop, o projetor das imagens da TV que seriam exibidas na parede.
A diretora de cinema Tata Amaral fez uma preleção sobre seu filme “O grande vilão”, um documentário sobre esse período da vida de Dirceu, “o homem mais perseguido da história da República”, e distribuiu termos de autorização de uso de imagem para que os presentes, que assim o desejassem, assinassem. Pelo que percebi, todos assinaram.
Dirceu cumprimentou um por um, agradecendo a presença de todos. Parecia calmo ao chegar. E calmo permaneceu até o final. Quando se despediu de mim, José Dirceu disse, elogiando: “O ministro Barroso estava certo, quando defendeu a suspensão da sessão até a próxima semana”.
Ele se referia à argumentação do ministro Luis Roberto Barroso, que, para garantir aos advogados plena defesa dos réus, usou a  frase “seria gentil e proveitoso dar aos advogados a oportunidade de apresentar memoriais”. Ponderação que o presidente Joaquim Barbosa acolheu muito a contragosto.
Na próxima semana, estaremos lá todos com você de novo, José Dirceu. Acredito em sua inocência. Acredito em Mentirão, não em Mensalão, que para mim existe muito mais para desqualificar a luta dos heróis e mártires da ditadura militar do que para qualquer outra coisa. Mais para justificar o apoio dado pela direita reacionária de 1964 – as elites e a classe média manipulada – ao totalitarismo que massacrou nosso país, tolheu nossa liberdade e nosso pensamento, dizimou valores, destruiu famílias, acabrunhou, amedrontou, paralisou, despersonalizou e tornou apático o povo brasileiro por duas décadas.
E como alvo maior desse processo de desqualificação reacionária, que ressurge como um zumbi nostálgico assombrando o país, foi eleito José Dirceu, o qual, como bem analisa o cineasta Luiz Carlos Barreto, cometeu o grave delito de colocar no poder um sindicalista das classes populares, o Lula.
Pois foi por obra, empenho, articulação e graça de José Dirceu que Luís Inácio Lula da Silva chegou a Presidente da República. E chegou com um projeto político de sucesso, bem estruturado, com um discurso certo, que alçou Luís Inácio não só a um patamar diferenciado de Estadista em nossa História, como também a um conceito internacional jamais alcançado por um Chefe de Estadobrasileiro.
Grande parte disso tudo pode ser creditada (ou, segundo interpretação de alguns,debitada) a José Dirceu.
Motivos não faltaram nem faltam para essa obsessão de tantos por destrui-lo.
Disponível em: JOSÉ DIRCEU: NUNCA, ANTES, NA HISTÓRIA DESTE PAÍS, UM HOMEM SOFREU TAL LINCHAMENTO

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

A roupa nova do Rei Brasil – Uma fábula para todas as épocas (Hildegard Angel)


A ROUPA NOVA DO REI BRASIL – UMA FÁBULA PARA TODAS AS ÉPOCAS



A ROUPA NOVA DO REI BRASIL – UMA FÁBULA PARA TODAS AS ÉPOCAS


Quando postei, na noite de quarta-feira, no meu ímpeto de pessoa impulsiva, que por vezes age mais como as vísceras do que com o bom senso, a minha fala pronunciada no debate no auditório da ABI, no Rio de Janeiro, em que foi levantada a bandeira pelo cancelamento do julgamento do dito Mensalão (que eu chamo deMentirão), logo em seguida pensei: “Estou frita!”.
Afinal, neste espaço falo amenidades, belezas, coisas aprazíveis, delícias, não é para estar aqui guerrilhando ideias, disseminando propostas que 99,99% do meu leitorado não abraça e, até mesmo, ferozmente repudia.
Mas Alea Jacta Est (a sorte está lançada). Durante toda a minha vida procurei respeitar as pessoas como elas são. E elas sempre me respeitaram e demonstraram gostar de mim com meu jeito e minha bagagem. E minhas opiniões. Mesmo que delas discordem. E vice-versa. Isso se chama civilidade democrática. Bacana.
Era madrugada. Fui dormir pensando: “Pronto, não vou ter mais acessos no meu blog”. E o que aconteceu? Ontem, meus acessos dobraram! E foram milhares os que curtiram o post controverso, em que proponho um pensamento contraditório a tudo que até agora foi publicado na grande mídia sobre o dito Mensalão (que eu chamo de Mentirão). Sem esquecer as centenas de comentários no meu Blog e nos sites e blogs de outros jornalistas que o reproduziram, entre eles, o  Conversa Afiada, de Paulo Henrique Amorim, Blog do Miro, Viomundo, Correio do Brasil, Blog do Zé, Brasil 247, #Dilmanarede e inúmeros espaços de grande importância e grande acesso na internet.
Dado, sobretudo, o teor dos comentários do post, que se vocês tiverem curiosidade ou tempo recomendo ler, sabem como eu me senti? Como aquele menino da fábula que gritou “o Rei está nu!”, e todos se sentiram liberados para declarar, abertamente, sua opinião contrária à daqueles ao seu redor…
Leiam abaixo.
A ROUPA NOVA DO REI BRASIL – UMA FÁBULA PARA TODAS AS ÉPOCAS
(Livre adaptação minha para a Roupa Nova do Rei, fábula primorosa e épica sobre os costumes humanos, de autoria do dinamarquês Hans Christian Andersen, leitura preferencial de minha infância).
O Rei era muito vaidoso. Um vaidoso de marca maior. E tinha um fraco especial por roupas novas. Com calções e mangas bufantes, mantos arrastando pelo chão. Quanto mais comprido melhor. Sua grande distração e o ponto alto de seu reinado era quando desfilava por seus domínios com suas roupas novas. Os arautos corriam todos os vilarejos avisando a data e a hora, colocavam cartazes, e todos os súditos eram obrigados a estar ali a postos para assistir à passagem da nova roupa real.
O Rei vaidoso, filho de pais excêntricos, que o batizaram com o nome de uma árvore exótica, de um continente remoto, o Pau Brasil,  já tinha provado dos talentos dos maiores alfaiates do mundo. Os Saint-Laurents, Givenchys, Dolce&Gabbanas, Armanis, Versaces da época, todos já tinham estagiado no palácio costurando uma roupa nova para o Rei. Quem seria o próximo?
E foi nesse momento de majestosa indecisão que apareceu lá pelos lados do reino um vigarista de terras distantes, tremendo 171, que, sabedor da fraqueza do soberano, fez-se passar por um alfaiate muito famoso lá de onde vinha e prometeu ao Rei que criaria para ele a mais linda das roupas que jamais ele tivera ou sonhara ter. Um modelito haute couture, refinadérrimo, que sairia muito caro, caríssimo, pois necessitava aviamentos especiais, linhas de ouro e prata, miçangas de diamantes, esmeraldas, safiras, colchetes de platina e por aí foi.
Encantado com tantas extravagâncias, o Rei lhe fez todas as vontades. O pilantra, então, guardou no seu baú todo aquele tesouro, e lá ficou diante do tear tecendo com fios imaginários e bordando com pedras inexistentes dias e dias.
Fazia isso com tal zelo, pompa, arrogância, ares de importância e convicção, que as pessoas, para não se fazerem passar por idiotas, confirmavam que, sim, elas o viram costurando a roupa do Rei!
Até que chegou o dia de “Monsieur” estilista vestir o Rei para a grande parada. O povo lotava as ruas ansioso. As bandeirolas, a expectativa, os cochichos: “Será que a roupa dele vai ser mais bonita do que aquela do Gucci?”, perguntavam-se alguns. Alguns até faziam bolo de apostas: “Joguei todas as minhas economias naquela veste do Calvin Klein, com manto clean. Pra mim vai desbancar a desse Monsieur estrangeiro”.
E estava o povão nesse tit-ti-ti, enquanto o Monsieur costureiro provava, diante do espelho, a roupa no Rei, cercado dos usuais nobres puxa-sacos.
O REI ESTÁ NU
O Rei Brasil, inicialmente inseguro e intrigado diante daquela roupa invisível, que o estilista, afetado, requintado, sofisticado, exibia com tantos salamaleques, misturando o idioma local com várias palavras afrancesadas, porque era très chic, começou a ficar impressionado e, já que nada enxergava, julgando estar sofrendo ou de catarata ou de Alzheimer, pra não dar bandeira, exclamou: “Que lindas vestes! Você fez um trabalho magnífico!”.

Os aspones em volta fizeram coro, em francês, naturalmente (porque era très chic,repito)…
Primeiro vieram as bajulações em “ique”. “Magnifique”, disse um. Seguido em coro por “Fantastique”, “Féerique”, “Aristocratique”, “Monarchique”, “Mirifique”
Depois, repetindo o ritual de sempre, nas provas das roupas, vieram os elogios em “ant”: “Éclatant”, “Éblouissant”, “Resplendissant”,”Étincelant”, “Flamboyant”, “Brillant”, “Rutilant”, “Rayonnant”, “Puissant”, “Imposant”, “Important”, “Mirobolant”, “Marquant”, “Étonnant”...
Em seguinda, com terminação em “el”: “Sensationnel”, “Surnaturel”, “Solennel”…
Por fim a apoteose dos “eux”: “Somptueux”,”Merveilleux”, “Radieux”, “Fastueux”, “Lumineux”, “Luxueux”, “Majestueux”, “Glorieux”, “Fameux”, “Prestigieux”, “Miraculeux”, “Prodigieux”,”Fabuleux”, “Courageux”
Teve um, que não havia decorado o vocabulário francês distribuído pela assessoria real para ser pronunciado pela corte e soltou uns “Jabaculeux”, “Congelê” (provavelmente referindo-se ao frio que o rei desnudo estaria sentindo em pleno inverno), “Vexamê”. Mas, no meio de tantas palavras rococós, ninguém percebeu e também ficaram valendo como elogios.
Foi assim, cercado de suspiros de admiração, com o ego lá em cima, espetado mais alto do que o rubi no topo de sua coroa, que o Rei sai, nuzão, de cetro na mão, e foi desfilar sua banha, depois de consumir dois javalis no almoço, diante da multidão.
O povo até achou esquisito o rei pelado virar-se, pra lá e pra cá, como se segurasse um manto (o estilista ensinou-o a fazer assim), fazendo pivôs com sua capa aristocrática, pretensamente coberta de pedras preciosas.
Sim, porque os jornais locais já haviam descrito a roupa detalhadamente, até os croquis haviam sido divulgados em detalhes (o vigarista era bom desenhista) e todos sabiam como a roupa efetivamente era (ou seria).
Como não a enxergaram, todos daquele reinado temeram sofrer ou de catarata ou de Alzheimer e, para não dar bandeira, exclamaram: “Que marrrravilha!”. “Ah, esta bateu o Fendi disparado”. “Nem o Ferragamo faria melhor”. “Que Dior que nada, estilista bom é o estrangeiro”. Por fim: “Estou ferrado, perdi todas as minhas economias!!!”…
Até que um menino, sim, uma despretensiosa e desimportante criança, apontou para o Rei com os olhos bem abertinhos e gritou: “O Rei está nu!”.
E todos os olhos do Reino se abriram. E todos constataram que não tinham catarata, muito menos Alzheimer, e que estavam certos em seu julgamento inicial sobre o quão ridículo era aquele espetáculo de salamaleques falsos, pivôs pelados e manto fictício balançando pra lá e pra cá.
O Rei estava nu, nuzão, “nuzinho, pelado, nu com a mão no bolso”, como dizia a canção da abertura da novela.
E o povo pôde ver com os próprios olhos e pensar com a própria cabeça e julgar com o próprio juízo. E riu e gargalhou e se fartou. E cantou e dançou, gozando o “grande mico” do Rei.
E naquela noite, naquele reino, houve uma festança inesquecível, com todos opinando, comentando o quão ridículo e lastimável era ter um Rei tão vaidoso a ponto de achar que podia dominar as mentes de um reino inteiro.
Pois, seja num reino de contos de fadas ou num reino de contos de mídia, não basta mais do que um único dedo que aponte para qualquer castelo construído sobre as fundações da mentira começar a desmoronar.