Este é um trabalho muito
bem documentado para saber quem é quem e o quê na recente luta ainda em
curso na Ucrânia. O autor desmascara os corruptos e mafiosos políticos
ucranianos, fascistas e nacional-socialistas batizados de militantes do
Svoboda e outros partidos, mas também arranca a máscara de políticos e
de instituições dos EUA, do Canadá e da União Europeia, tal como a
instituições e aos governantes dos países membros da União Europeia que
se atropelaram na praça Maidán e conviveram em alegres comezainas com a
bandidagem ucraniana.
O movimento de protesto (chamado "Euromaidán") que a Ucrânia viveu
recentemente é interessante a vários títulos. Demonstra como com apoio
estrangeiro e sem intervenção militar se pode fomentar com êxito um
golpe de Estado civil contra um governo democraticamente eleito. Desvela
a flagrante parcialidade e a falta de integridade dos meios de
comunicação dominantes ocidentais que, com argumentos falaciosos, apoiam
cegamente o intervencionismo ocidental, e com uma visão maniqueísta da
situação qualificam uns de bons e os outros de maus. E, mais grave,
esboça ainda os até agora etéreos contornos do renascimento da Guerra
Fria, que se acreditava enterrada com a queda do muro de Berlim.
Finalmente, oferece-nos uma provável projeção da situação dos países
"primaverados", na medida em que a Ucrânia conheceu a sua "primavera" em
2004, primavera essa geralmente denominada por "revolução laranja".
Mas para compreender a atual situação da Ucrânia é primordial rever
algumas datas importantes e os nomes dos principais atores da política
ucraniana pós era soviética:
O movimento de protesto (chamado "Euromaidán") que a Ucrânia viveu
recentemente é interessante a vários títulos. Demonstra como com apoio
estrangeiro e sem intervenção militar se pode fomentar com êxito um
golpe de Estado civil contra um governo democraticamente eleito. Desvela
a flagrante parcialidade e a falta de integridade dos meios de
comunicação dominantes ocidentais que, com argumentos falaciosos, apoiam
cegamente o intervencionismo ocidental, e com uma visão maniqueísta da
situação qualificam uns de bons e os outros de maus. E, mais grave,
esboça ainda os até agora etéreos contornos do renascimento da Guerra
Fria, que se acreditava enterrada com a queda do muro de Berlim.
Finalmente, oferece-nos uma provável projeção da situação dos países
"primaverados", na medida em que a Ucrânia conheceu a sua "primavera" em
2004, primavera essa geralmente denominada por "revolução laranja".
Mas para compreender a atual situação da Ucrânia é primordial rever
algumas datas importantes e os nomes dos principais atores da política
ucraniana pós era soviética:
Cronologia da política Ucraniana
1991: Ucrânia separa-se da URSS.
1991-1994: Leonid Kravtchouk (ex-dirigente da era soviética) é o primeiro presidente da Ucrânia.
1991: Julia Timochenko cria a "Companhia de Petróleo Ucraniano".
1992-1993: Leonid Koutchma (pró-russo) é o primeiro-ministro sob a
presidência de Kravtchouk. Demitir-se-á em 1993 para se apresentar às
eleições presidenciais do ano seguinte.
1994-1999: Leonid Koutchma é o segundo presidente de Ucrânia.
1995: Julia Timochenko
reorganiza a sua empresa para fundar, com a ajuda de Pavlo Lazarenko a
companhia de distribuição de hidrocarbonetos "Sistemas Energéticos
Unidos da Ucrânia" (SEUU)
1995: Pavlo Lazarenko é nomeado vice primeiro-ministro encarregado da energia.
1996: SEUU tem um volume de negócios de 10.000 milhões de dólares e obtém 4.000 milhões de lucros.
1996-1997: Pavlo Lazarenko é o primeiro-ministro sob a presidência de Koutchma.
1997: O presidente Koutchma desiste para Pavlo Lazarenko.
1998: A polícia suíça detém Lazarenko na fronteira franco-suíça e as autoridades de Berna acusam-no de branqueamento de dinheiro.
1999: Lazarenko é detido no aeroporto JFK de Nova Iorque. É
condenado em 2004 por lavagem de dinheiro (114.000 milhões de dólares),
corrupção e fraude.
1999-2005 Leonid Koutchma é presidente de Ucrânia após a sua reeleição.
1999-2001: Viktor Iouchtchenko é primeiro-ministro sob a
presidência de Koutchma. Julia Timochenko é vice-primeiro ministro
encarregue da energia (lugar que tinha sido ocupado por Lazarenko).
2001: O presidente Koutchma desiste a favor Julia Timochenko em
Janeiro de 2001. Esta é acusada de "contrabando e falsificação de
documentos" por ter importado fraudulentamente gás russo em 1996, quando
era presidente da SEUU. Timochenko é detida e passa 41 dias na prisão. A
justiça investiga a sua atividade no setor da energia durante a década
de 1990 e a sua relação com Lazarenko.
2002-2005: Viktor Yanukovich (pró-russo), delfim de Koutchma, é primeiro-ministro sob a sua presidência.
A eleição presidencial opõe o primeiro-ministro Viktor Yanukovich e o ex
primeiro-ministro e líder da oposição Viktor Yushchenko
(pró-ocidental). Yanukovich ganha o segundo turno (49,46 contra 46,61%).
Discutem-se os resultados já que, segundo a oposição, as eleições são fraudulentas.
2004: Revolução Laranja: Movimento de protesto popular
pró-ocidental generosamente apoiado por organismos ocidentais de
"exportação" da democracia, particularmente americana. Considera-se
Julia Timochenko a inspiradora do movimento. O principal resultado desta
"revolução": anulação do segundo turno nas eleições presidenciais.
Organiza-se um terceiro turno das eleições: é eleito Viktor Yushchenko (51,99 contra el 44,19%).
2005-2010 Viktor Yushchenko é o terceiro presidente da Ucrânia.
2005 (7 meses): Julia Timochenko é a primeira-ministra sob a presidência de Yushchenko.
2006-2007: Viktor Yanukovich é o primeiro-ministro sob a presidência de Yushchenko.
2007-2010: Julia Timochenko é a primeira-ministra pela segunda vez sob a presidência de Yushchenko.
2010: Eleições presidenciais. Resultados do primeiro turno:
primeiro, Yanukovich (35,32%); Segundo, Timochenko (25,05%) e quinto,
Yushchenko (5,45%). Segundo turno: Yanukovich ganha a Timochenko (48,95%
contra 45,47%).
2010-2014: Viktor Yanukovich é o quarto presidente de Ucrânia.
2011: Julia Timochenko é condenada a sete anos de prisão por
abuso de poder nos contratos de gás assinados entre a Ucrânia e a Rússia
em 2009.
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Linha do tempo política da Ucrânia |
Um golpe de Estado plebiscitado pelo Ocidente
O que aconteceu na Ucrânia nestes últimos dias foi um autêntico golpe de
Estado. Na verdade, o presidente Viktor Yanukovitch foi
democraticamente eleito em 7 de Fevereiro de 2010 ao ganhar de Júlia
Timochenko no segundo turno das eleições presidenciais (48,95% contra
45,47% dos votos).
Evidentemente,
Timochnko não aceitou imediatamente o veredito das urnas [1].
Seguramente que em alguma parte houve fraude já que ela era a
primeira-ministra em exercício durante as eleições e Viktor Yushchenko
era o presidente do país. As duas figuras emblemáticas da "revolução"
laranja, amplamente apoiadas pelos países ocidentais, as mesmas pessoas
que se supunha iriam fazer entrar a Ucrânia numa nova era, a da
democracia e da prosperidade, foram folgadamente derrotados por um
candidato pró-russo. E que candidato, Yanukovitch! A pessoa que tinha
sido "assobiado" pelos ativistas da onda laranja de 2004. Em menos de
seis anos os ucranianos compreenderam que esta colorida "Revolução" não
era uma revolução.
Em 8 de Fevereiro de 2010, João Soares, presidente da Assembleia
Parlamentar da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa
(OSCE) declarou: "As eleições deram uma impressionante demonstração de
democracia. É uma vitória para todo o mundo dada pela Ucrânia. Agora é o
momento dos dirigentes políticos do país ouvirem o veredicto do povo e
de fazerem com que a transição de poder seja pacífica e construtiva"
[2].
Sem demasiada convicção mas perante a evidência do veredito dos
observadores internacionais, Timochenko acabou por retirar o seu recurso
judicial à invalidação do resultado das eleições [3].
Os "indignados" da praça Maidán reprovam Yanukovitch por ter decidido
suspender um acordo entre o seu país e a União Europeia (UE). E aqui
coloca-se uma pergunta fundamental: em democracia e no quadro das
prerrogativas da sua função, um presidente em exercício tem direito a
assinar os acordos que considere benéficos para o seu país? A resposta é
afirmativa, tanto mais quando muitos especialistas acreditam que aquele
acordo era nefasto para a economia da Ucrânia.
Assim, segundo David Teurtrie, Investigador do Instituto Nacional de
Línguas e Civilizações Orientais (INALCO, Paris): "A proposta que se fez
à Ucrânia era, o que eu chamaria, uma estratégia sem esperança. Por que
razão? O acordo estabelecia uma zona de livre comércio entre a União
Europeia (UE) e a Ucrânia. Mas esta zona de livre comércio era muito
desfavorável à Ucrânia porque abria o mercado ucraniano aos produtos
europeus e entreabria o mercado europeu aos produtos ucranianos, a maior
parte dos quais não são competitivos no mercado ocidental. Por isso, a
vantagem não era muito evidente para a Ucrânia. Em síntese, a Ucrânia
tinha todas as desvantagens com esta liberalização do comércio com a UE e
não conseguia qualquer vantagem" [4].
O economista russo Serguei Glaziev é da mesma opinião: "Todos os
cálculos incluindo os dos analistas europeus, dão conta de uma
desaceleração inevitável na produção de bens ucranianos nos primeiros
anos após a assinatura do Acordo de Associação, já que estão condenados a
uma perda de competitividade em relação aos produtos europeus" [5].
Não obstante a sensibilidade pró-russa de Yanukovitch, está claro que a
proposta russa era muito mais interessante que a dos europeus. "A UE não
promete a lua aos manifestantes… só a Grécia" é o irónico título do
L’Humanité [6].
Depois dos sangrentos distúrbios de Kiev, curiosamente, muitos países
ocidentais apressaram-se a dizer que estavam dispostos a apoiar "um novo
governo" na Ucrânia [7], isto é, a reconhecer implicitamente o golpe de
Estado. Em vez de avivar a violência e de financiar as barricadas, não
deveriam estes países ter oferecido os seus bons ofícios para acalmar as
coisas e esperar as eleições seguintes, tal como prescrevem os
fundamentos da democracia que eles procuram exportar para a Ucrânia e
outros lugares do mundo?
Alguns detalhes sobre a "Revolução Laranja"
A "revolução" laranja faz parte de uma série de revoltas batizadas de
"revoluções coloridas" que se desenrolaram na década de 2000 nos países
de Leste, sobretudo nas antigas repúblicas soviéticas. As da Sérvia
(2000), da Geórgia (2003), da Ucrânia (2004) e Quirguizistão (2005)
terminaram em mudanças de governo.
Num exaustivo e muito detalhado artigo sobre o papel dos Estados Unidos
nas revoluções coloridas G. Sussman e S. Krader da Portland State
University dizem resumidamente o seguinte: "Entre 2000 e 2005 os
governos aliados da Rússia na Sérvia, na Geórgia, na Ucrânia e no
Quirguizistão foram derrubados por umas revoltas sem efusão de sangue.
Ainda que, de uma maneira geral, os meios de comunicação ocidentais
finjam que estes levantamentos são espontâneos, indígenas e populares
(poder do povo), as "revoluções coloridas" são de fato o resultado de
uma vasta planificação. Os Estados Unidos em particular, e os seus
aliados exerceram sobre os países pós comunistas um extraordinário
conjunto de pressões e utilizaram financiamentos e tecnologias ao
serviço da ajuda à democracia" [8].
Uma dissecação das técnicas utilizadas durante estas "revoluções" revela
que todas têm o mesmo modus operandi. Criaram-se vários movimentos para
dirigir estas revoltas: Otpor ("Resistência") na Sérvia, Kmara
("Basta!") na Geórgia, Pora ("É a hora") na Ucrânia e Kelkel
("Renascimento") no Quirguistão. O primeiro deles, Otpor, foi o que
provocou a queda do regime sérvio de Slobodan Milosevic. Depois, este
sucesso ajudou, aconselhou e formou todos os outros movimentos através
de um departamento especialmente criado para esta tarefa, o
Center for Applied Non Violent Action and Strategies (CANVAS)
domiciliado na capital sérvia. O CANVAS prepara dissidentes imaturos de
todo o mundo na aplicação da resistência individual não violenta,
ideologia teorizada pelo filósofo e politólogo norte-americano Gene
Sharp, cuja obra "From Dictatorship to Democracy" (Da ditadura à
democracia) foi a base de todas as revoluções coloridas.
 |
Manifestantes da da "revolução" laranja |
Tanto o
CANVAS
como os diferentes movimentos dissidentes se beneficiaram da ajuda de
muitas organizações norte-americanas de "exportação" da democracia como
United States Agency for International Development (USAID), National
Endowment Democracy (NED), International Republican Institute (IRI),
National Democratic Institute for International Affairs (NDI), Freedom
House (FH), Albert Einstein Institution e Open Society Institute (OSI).
Estes organismos são financiados pelo orçamento norte-americano ou por
capitais privados norte-americanos. A título de exemplo, o NED é
financiado por um orçamento votado pelo Congresso norte-americano e os
seus fundos são administrados por um conselho de administração onde está
representado o Partido Republicano, o Partido Democrata, a Câmara de
Comércio dos Estados Unidos e o sindicato American Federation of
Labour-Congress of Industrial Organization (AFL-CIO), enquanto o OSI faz
parte da Fundação Soros, cujo fundador é o bilionário e especulador
financeiro George Soros. É também interessante dizer que o conselho de
administração do IRI é presidido pelo senador John McCain, o candidato
derrotado nas eleições presidenciais norte-americanos de 2008. O
excelente documento que a jornalista francesa Mainon Loizeau dedicou às
revoluções coloridas mostra claramente como McCain está implicado nelas
[9]. Assim, compreende-se bem por que razão o senador se precipitou para
Kiev a fim de apoiar os amotinados ucranianos. Também se compreende por
que é que a Rússia endureceu o tom quando se refere às
ONGs estrangeiras presentes no seu território e por que expulsou a USAID do seu território [10].
A relação entre o movimento ucraniano "Pora" e estas organizações
norte-americanas é explicitada por Ian Traynor num excelente artigo
publicado em TheGuardian, em Novembro de 2014 [11].
"
Oficialmente o governo norte-americano gastou 41 milhões de
dólares durante um ano para organizar e financiar a operação que
permitiu desfazer-se de Milosevic […]. Na Ucrânia anda à volta dos 14
milhões de dólares", explica ele.
Julia Timochenko
e Viktor Yushchenko são considerados as figuras destacadas da
"revolução" laranja. Este movimento apoiado pelos ocidentais obteve a
anulação da segunda volta das eleições presidenciais de 2004, que em
princípio tinham sido ganhas por Viktor Yanukovich a Viktor Yushchenko. A
"terceira" volta deu finalmente a vitória a Yushchenko, que se tornou
no terceiro presidente da Ucrânia, para grande alegria dos
norte-americanos e dos europeus.
Orgulhoso dos seus êxitos "revolucionários" coloridos, o belicoso
senador McCain declarou que tinha proposto Viktor Yushchenko o seu
homólogo georgiano pró-ocidental Mikhail Saakashvili como candidatos ao
prémio Nobel da Paz [12]. Em Fevereiro de 2005 viajou até Kiev para
felicitar o seu "pupilo" e possivelmente também para lhe mostrar que ele
tinha alguma coisa a ver com a sua eleição.
Mal foi nomeado presidente, Yushchenko apressou-se a nomear
primeira-ministra Julia Timochenko, mas a "lua de mel" entre os
companheiros não durou muito tempo. Apesar de incensados pelo Ocidente o
casamento Yushchenko-Timochenko não resultou e os seus resultados foram
decepcionantes.
Justin Raimondo descreve assim o balanço do governo de Yushchenko
(2005-2010): "Hoje, passado que foi há muito o brilho laranja da sua
revolução, o seu regime mostrou ser tão incompetente e recheado de
amiguismo como os seus corruptos e venais predecessores, se é que não é
mais. Uma grande parte da "ajuda" monetária ocidental desapareceu […].
Pior, a economia está paralisada pela imposição do controlo dos preços e
corrompida por um tráfico de influência descarado. O país
desintegrou-se não só econômica mas também socialmente em consequência
do acordo de partilha do poder entre Yushchenko e a volátil Julia
Timochenko, a princesa do gás e amazona oligarca [...]. A queda radical
da economia e os escândalos que se tornaram cotidianos do governo
Yushchenko levaram a uma completa marginalização da veneranda laranja
revolucionária: na primeira voltadas eleições presidenciais [2010]
obteve uns humilhantes 5% dos votos. Fora da corrida e sem necessidade
de mais simulações, Yushchenko lançou uma verdadeira bomba para a arena
política ao homenagear Stepan Bandera, o nacionalista ucraniano e
colaborador dos nazis como herói da Ucrânia [14].
Por último diga-se que as organizações norte-americanas de "exportação"
da democracia também estiveram muito implicadas no que se chamou a
"primavera" árabe (
nota blog Anti-NOM: leia mais neste artigo "
Falsas Revoluções Coloridas - Como Derrubar Governos com ONGs Globalistas"). Os jovens ativistas árabes foram formados na resistência individual, pelo
CANVAS
e na ciber-dissidência por organismos norte-americanos como Allience of
Youth Movements (AYM, uma organização patrocinada pelo Departamento de
Estado) e pelo gigantes norte-americanos das novas tecnologias como o
Google, o Facebook ou o Twitter [15].
Os "amáveis" amotinados da praça Maidán
Apesar da enorme diversidade da "fauna" revolucionária que ocupou a
praça Maidán em Kiev, os observadores coincidem no reconhecimento que a
dissidência é composta por quatro grupos diferentes situados num
espectro que vai da direita à extrema-direita.
Em primeiro lugar vem "Batkivshina" ou União Pan-ucraniana "Pátria", um partido político liderado por
Julia Timochenko,
secundada por Olexandre Turtchinov, um velho amigo considerado o seu
"fiel' escudeiro [16]. Foi este último que foi nomeado presidente depois
da partida de Yanukovitch.
 |
Olexandre Turtchinov e Julia Timochenko |
Fundado em 1999, Batkivshina é um partido liberal pró-europeu. É membro
observador do Partido Popular Europeu (PPE) que reúne os principais
partidos da direita europeia, entre eles a CDU (União Cristã-Democrata
Alemã) da chanceler Angela Merkel. Diga-se que a Fundação Konrad
Adenauer (Konrad Adenauer Stiftung),
think-tank
da CDU, também está filiada no PPE. Por outro lado, o PPE mantém
estreitas relações com o International Republican Institute (IRI).
Wilfied Martens, então presidente do PPE, apoiou John McCain nas
eleições presidenciais de 2008 [17]. Naturalmente, como já dissemos,
John McCain é sobretudo o presidente do conselho de administração do
IRI.
Segundo um dos responsáveis do "Mejlis Of Crimean Tatar People",
movimento associado ao partido "Pátria", o IRI está ativo na Ucrânia
desde há mais de dez anos, isto é, desde a "revolução" laranja nunca
abandonou o território [18].
Arseni Yatseniuk, personalidade pró-ocidental de primeiro plano da vida
política ucraniana, é considerado "um líder guia dos protestos na
Ucrânia". Um puro produto da "revolução" laranja (ocupou o cargo de
ministro sob a presidência de Yushchenko), criou primeiro o seu próprio
partido (Frente para a Mudança) antes de se ligar às fileiras de
Batkivshina e de se aproximar de Timochenko. Yatseniuk, que acaba de ser
nomeado primeiro-ministro, foi eleito pelos amotinados da praça Maidán.
A sua missão é dirigir um movimento de união nacional antes das
eleições presidenciais antecipadas previsivelmente para 25 de Maio de
2014 [20].
 |
Arseni Yatseniuk |
O segundo partido implicado no violento protesto ucraniano é a UDAR
(Aliança Ucraniana Democrática para a Reforma). Este partido, também
liberal e pró-europeu, foi criado em 2010 pela união de dois partidos,
um dos quais é o Pora, surgido do movimento de jovens que tinha sido a
vanguarda da "revolução" laranja. A UDAR (que quer dizer golpe em
ucraniano), é dirigido pelo boxeador e ex-campeão do mundo de pesos
pesados, Vitali Klitschko (foro abaixo). Nascido no Quirguizistão,
Klitschko é ucraniano mas viveu em Hamburgo e Los Angeles durante vários
anos, e os seus três filhos têm a nacionalidade norte-americana por
terem nascido nos Estados Unidos [21].
 |
Vitali Klitschko |
Uma rápida visita
à sua página web
permite saber que a UDAR conta entre os seus parceiros estrangeiros o
IRI (de McCain), o NDI (presidido por Madeleine K. Albright,
ex-secretária de Estado estadunidense) e o CDU (de Merkel). Seja ainda
dito que o IRI e o NDI são duas das quatro organizações satélite do
National Endowment Democracy (NED).
 |
Os parceiros da UDAR
|
Num relatório do German Foreign Policy intitulado "
O nosso homem de
Kiev" datado de Dezembro de 2013 pode ler-se a propósito de Klitschko e
do seu partido: "De acordo com os relatórios de imprensa, o governo
alemão gostaria que o campeão de boxe Vitali Klitschko aspirasse à
presidência para o levar ao poder na Ucrânia. Deseja melhorar a
popularidade da política da oposição organizando, por exemplo, aparições
com o ministro dos Negócios Estrangeiros alemão. Para isso também está
previsto que Klitschko se reúna com a chanceler Merkel na próxima cúpula
da União Europeia em meados de Dezembro. Com efeito, a Fundação Konrad
Adenauer não só apoiou massivamente Klitschko e o seu partido, a UDAR,
mas também, segundo um político da CDU, o partido UDAR foi fundado na
sequência de ordens diretas da fundação da CDU. Os relatórios sobre as
atividades da fundação para desenvolver o partido de Klitschko mostram
indícios de como os alemães influem nos assuntos da Ucrânia através da
UDAR" [22]. Assim, a UDAR seria uma criação da CDU, o que explica a
forte implicação da diplomacia alemã no "atoleiro" ucraniano. Muitos
outros artigos confirmaram esta informação [23].
Um terceiro movimento participou na insurreição ucraniana pró-ocidental.
Trata-se do "Svoboda" (“liberdade” em ucraniano), um partido da
extrema-direita ultranacionalista dirigido por Oleg Tiagnibok. O Svoboda
fez correr muita tinta devido à suas posturas xenófoba, anti-semita,
homofóbica, anti-russa e anticomunista [24]. Este partido, aberto a
todos os ucranianos de "linhagem pura", glorifica personagens históricos
ucranianos abertamente fascistas e pró-nazis, como o tristemente
célebre Stepan Bandera. Durante a Segunda Guerra Mundial Stepan Bandera
lutou contra os soviéticos ao mesmo tempo que estabelecia relações com a
Alemanha nazista [25]. Acrescente-se que o Svoboda está estritamente
relacionado com uma organização paramilitar, os "Patriotas da Ucrânia"
[26]. Considerada nazista, ela esteve muito ativa durante os recentes
acontecimentos que ensanguentaram as ruas de Kiev.
 |
Oleg Tiagnibok |
Estes três partidos fizeram uma aliança chamada "
Grupo de Acão para a Resistência Nacional"
com o objetivo de levar a cabo a desestabilização do governo de
Yanukovich. Além disso, sabe-se que no parlamento ucraniano
pós-Yanukovich foi criado uma nova coligação chamada "Opção Europeia",
que reúne 250 deputados de diferentes grupos parlamentares, entre os
quais se encontram Batkivtchina, UDAR e Svoboda [27].
 |
Os líderes do "Grupo de Ação para a Resistência Nacional": Klitschko, Tiagnibok e Yatseniuk |
E para reforçar o novo poder sobre as instituições ucranianas, Oleg
Mahnitsky acaba de ser nomeado Procurador-geral da Ucrânia, cargo de
importância capital neste período de sobressaltos "revolucionários" e de
evidentes acertos de contas "democráticos". Um pequeno detalhe:
Mahnitsky é membro do partido Svoboda [28]. A cereja no cimo do bolo? No
novo governo pós-Euromaidán largamente dominado pelo partido
Batkivshina de Timochenko entregaram-se três pastas a membros do partido
Svoboda: Olexandr Sych, vice Primeiro-ministro; Andriy Mokhnyk,
ministro do Meio Ambiente e Oleksandr Myrnyi, ministro da Agricultura
[29].
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Oleg Mahnitsky |
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Oleksandr Sych |
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Andriy Mokhnyk |
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Oleksandr Myrnyi |
Há uma outra nomeação que não passa despercebida neste governo: a de
Pavel Sheremeta, que de 1995 a 1997 foi diretor de programa no Open
Society Institute of Budapest, a famosa fundação de George Soros [30].
 |
Pavel Sheremeta |
O quarto grupo presente na praça Maidán é provavelmente o mais violento.
Conhecido pelo nome de "Pravy Sektor" (Setor da Direita), é a coligação
de uma multitude de grupúsculos da extrema-direita radical e fascista
que considera o Svoboda "demasiado liberal" (sic) [31]. Criado em
Novembro de 2013 [32], é liderado por Dmitro Yarosh, chefe de uma
organização de extrema-direita chamada "Trizub" (Tridente) com fama de
ser o núcleo duro desta dissidência brutal [33]. Além do Trizub
encontram-se aqui os "Patriotas da Ucrânia", a "Ukrainska Natsionalna
Asambleya – Ukrainska Narodna Sambooborunu – UNA-UNSO" (Assembleia
Nacional Ucraniana – Autodefesa Nacional Ucraniana) Bilyi Molot (Martelo
Branco) e a ala radical do Svoboda [34].
 |
Dmitro Yarosh |
Numa
entrevista concedida à revista TIME publicada em 4 de Fevereiro de 2014 Yarosh declarou que "
os seus grupos de soldados antigovernamentais em Kiev estão preparados para a luta armada" [33]. "
Não somos políticos, somos soldados da revolução nacional",
acrescentou. Há que dizer que o líder do Pravy Sekyor passou alguns
anos no exército soviético e que para ele "a ”revolução nacional” é
impossível sem violência e que deverá conduzir a um Estado “puramente
ucraniano” com capital em Kiev" [36]. Na entrevista também revela que a
sua coligação tinha armazenado um arsenal de armas letais. E detalha:
"Justamente as suficientes para defender a Ucrânia dos ocupantes
internos [ os membros do governo]".
Com efeito vêem-se em muitos vídeos e fotos militares de Pravy Sektor
vestidos com uniformes militares treinando-se publicamente na praça
Maidrán [37], metidos em escaramuças extremamente violentas com as
forças da ordem ou usando armas de fogo contra os "Berkut" (forças
antidistúrbio) [38].
Numa reportagem escrita de Kiev o jornalista britânico David Blair
dá-nos o seu ponto de vista sobre a organização do Pravy Sektor: "O que
está claro é que estão muito organizados. Aos voluntários das barricadas
chega-lhes um provisionamento regular de máscaras de gás, comida e de
excedentes de camuflagem do exército. Ex-soldados apresentam-se em
formação de combate sem nada nas mãos em frente da tenda que serve de
pequena base do Pravy Sektor na praça da independência de Kiev. Os
voluntários descreveram um sistema de comando com vários dirigentes à
frente de um heterogêneo exército implantado na barricada principal da
rua Gruhevskogo de Kiev. O que muitas pessoas se interrogam é o que
faria um grupo tão poderoso fora do controle dos políticos tradicionais
triunfar a revolução e o governo cair [39].
 |
Milicias de autodefesa organizadas pelo grupo de
extrema-direita Pravy Sektor (Fonte: Le Monde) |
Ninguém pode dizer que a revolução triunfou nem sequer que esta
insurreição se pode considerar como tal. Mas o que é certo é que o
governo na verdade caiu e foi nomeado Dmitro Yarosh como Adjunto do
Presidente do Conselho de Segurança e Defesa Nacional da Ucrânia [40],
um organismo consultivo do Estado encarregado da Segurança nacional que
depende do presidente do país. E quem é o presidente deste conselho?
Nada mais nada menos do que Andriy Parubiy, "o comandante de Maidán"
[41], "o chefe do Estado-Maior da revolução ucraniana" [42], que durante
a "revolução" despiu-se de sua roupa de deputado do partido
Batkivshchyna para vestir a de "generalíssimo" dos amotinados de
Euromaidán. Mas o mais interessante é saber que Parubiy é um vira-casaca
do partido Svoboda. Na verdade ele é co-fundador juntamente com Oleg
Tiagnibok, em 1991, do Partido Nacional-Socialista da Ucrânia (SNPU),
rebatizado de Svoboda em 2004 [43].
Isto demonstra que na Ucrânia as
barricadas, os amotinados, a desobediência civil, a violência e o
fascismo podem ir muito longe.
Andriy Parubiy
Há que reconhecer que os acontecimentos de Kiev fizeram salivar um
grande amante de guerras "sem gostar delas". Tal como um tubarão atraído
pelo sangue, Bernard-Henri Levy (BHL), o famoso "rouxinol dos
cemitérios" acorreu a Kiev encontrar-se com os amotinados. Mentindo
descaradamente com todos os dentes que tem na boca, exclamou: "
Não vi neonazis, não ouvi anti-semitas falar" [44].
Em contradição com o que afirma o "dandy" de camisas engomadas, vejamos o
que diz a ucraniana Natalia Vitrenko, presidenta do Partido Socialista
Progressista da Ucrânia: "No princípio [os líderes] eram os deputados da
oposição Yatseniuk, Klintschko e Tiagnibok. Estas três pessoas
encabeçavam Maidán. Mas depois foi o Pravy Sektor quem assumiu a
direção. Desde meados de dezembro que a política em Maidán era decidida
pelo Pravy Sektor, uma aliança de diversos partidos e movimentos
neonazis. São grupos paramilitares, terroristas, muito bem treinados
[45].
 |
Bernard-Henry Levy (BHL) posando na praça Maidán em Kiev |
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Caricatura de "l’événement" |
Mas a melhor resposta e a que está mais de acordo com o nível da
declaração de Bernard-Henry Levy foi a da jornalista Irina Lebedeva: "
ele
[BHL] tem sorte, não há dúvida que os militantes do Svoboda e do Pravy
Sektor, organizações que defendem a pureza racial, receberam instruções
para não lhe tocar" [46].
Julia Timochenko: Loira ou Morena
A figura política ucraniana mais mediatizada pela imprensa ocidental dominante é sem qualquer dúvida
Julia Timochenko.
Tratada como uma personalidade histórica de uma dimensão desmedida,
goza de elogiosos cognomes e, sobretudo, pomposos: a "Marianne da
trança", a "princesa do gás", a "Joana d’Arc ucraniana" ou a "Dama de
Ferro". Mas mesmo que alguns tenham visto uma estatueta de Joana d’Arc e
as memórias de Margaret Tatcher em destaque no seu escritório [47], a
sua trajetória está longe de ser virtuosa. De fato, a sua prática
política tem mais a ver com as novelas de escândalos
político-financeiros (mesmo mafiosos) que com a abnegação pela pátria e o
povo ucraniano. Mas julguem-na os leitores.
A propósito de romances, comecemos por Olexandre Turtchinov que, ao que
parece, é um verdadeiro romancista de "ficção científica". Na verdade,
ele é o atual presidente da Ucrânia, foi qualificado de "fiel escudeiro"
de Timochenko e, tal como ela, nasceu na cidade de Dnipropetovsk.
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Julia Timochenko morena |
Em 1994 Turtchinov criou com Pavlo Lazarenko, um notável de
Dnipropetovsk, o partido Hromada de que Timochenko se tornaria
presidente em 1997. Um ano depois, em 1995, a "Marianne da trança",
tinha começado modestamente a sua carreira de dona de empresa com um
empréstimo de 5.000 dólares, reorganiza a sua modesta "Companhia de
Petróleo Ucraniano" (fundada em 1991) para fundar com a ajuda de
Lazarenko a companhia de distribuição de hidrocarbonetos "Sistemas
Energéticos Unidos da Ucrânia" (SEUU). Nesse mesmo ano Lazarenko é
nomeado vice Primeiro-ministro da energia. Os resultados dispararam,
seguramente empurrados por favores políticos da responsabilidade de
Lazarenko: 10.000 milhões de dólares de volume de negócios e 4.000
milhões de lucros no ano de 1996! Tudo isto graças a contratos muito
lucrativos ligados à venda na Ucrânia de gás russo [48]. Os anos de
bonança continuam com a promoção de Lazarenko ao cargo de
Primeiro-ministro em maio de 1996, apesar de ele ter escapado a um
atentado à bomba apenas dois meses depois [49]. Em princípios de 1997 a
SEUU controlava vários bancos, tinha participações em dezenas de
empresas de metalurgia e de construção mecânica, era co-proprietária da
terceira maior companhia aérea da Ucrânia e do seu segundo maior
aeroporto, o de Dnipropetrovvsk, além de participar no desenvolvimento
de gasodutos turcos e bolivianos e de controlar vários jornais locais e
nacionais [50].
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Lazarenko e Timochenko |
Dado que o enriquecimento "exponencial" costuma ser sinônimo de negócios
escuros, começaram a levantar-se suspeitas à relação de Lazarenko com a
SEUU. Em Abril de 1997 o New York Times informou que Lazarenko tinha
participação nesta empresa. Saíram à luz do dia outros negócios e, em
Julho desse ano, o presidente Koutchma demite Lazarenko. O que se segue é
rocambolesco. Em 1998 a polícia suíça detém Lazarenko na fronteira
franco-suíça, acusam-no de lavagem de dinheiro e libertam-no depois de
pagar uma elevada fiança. Num artigo publicado em 2000 intitulado "
As contas fantásticas do senhor Lazarenko", Gilles Gaetner fala de um desvio de dinheiro público ucraniano na ordem dos 800 milhões de dólares, "
sem dúvida o caso mais importante de lavagem de dinheiro do pós guerra"
[51]. Lazarenko foge para os Estados Unidos onde trata de obter asilo
político, mas é detido em 1999. Ainda que tenham sido eleitos como
membros do Hromada, depois dos dissabores de Lazarenko, tanto ele como
Timochenko abandonam este partido em 1999 para criarem, juntos, o
partido Batkivshina [52].
Perseguido pela justiça norte-americana, Lazarenko é condenado em 2006 a
nove anos de cadeia por extorsão de fundos, lavagem de dinheiro e
fraudes [53]. Um
relatório de 2004
de "Transparency International Global Corruption" classifica Lazarenko
como um dos dez dirigentes políticos mais corruptos do mundo [54]. Na
justiça ucraniana corre um processo contra Lazarenko por assassinato do
deputado Evguen Scherban e sua mulher em 1996. De acordo com a acusação o
grupo de Scherban concorria com a SEUU e era um empecilho às suas
atividades.
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Evguen Scherban |
Lazarenko foi libertado em Novembro de 2013, tendo sido transferido para
um centro de detenção de imigrantes, já que o seu visto tinha caducado
[55].
A detenção de Lazarenko não diminui o oportunismo político de
Timochenko. Quando Viktor Yushchenko acede ao cargo de Primeiro-ministro
em 1999, ela é nomeada vice Primeira-ministra da energia, cargo que
pertencera a Lazarenko meses antes. No entanto, o escândalo de Lazarenko
acaba por salpicá-la e,em 2001, é acusada de "contrabando e
falsificação de documentos" por ter importado fraudulentamente gás russo
em 1996, quando era presidenta da SEUU [56]. Timochenko passa algumas
semanas na cadeia [57]. Em 2002 é vítima de um grave acidente de
trânsito que ela interpreta como uma tentativa de assassínio [58].
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Timochenko já loira mas ainda sem tranças |
É nesta altura que muda de aspecto. Passa de morena a loira. "
Julia
muda o seu estilo de mulher de negócios sexy de cabelos soltos e
saia-casaco justos por roupas mais recatadas como camisolas de gola alta
e saia abaixo dos joelhos. Adopta o seu atual penteado, a famosa trança
loira colocada como um diadema" [59].
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Timochenko com o seu novo visual |
Em 2004 rebenta a revolução laranja e Timochenko converte-se na sua
musa. Viktor Yushchenko sobe ao Supremo Tribunal em 2005 e ela, por duas
vezes, ao cargo de Primeira-ministra. Como que por encanto, todas as
acusações são esquecidas.
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O par Timochenko-Yushchenko |
Um relatório ao Congresso norte-americano datado de 2005 divulgado pelo Wikileaks descreve assim a "princesa do gás": "
Timochenko
é uma líder energética e carismática com um estilo político combativo
que fez uma campanha eficaz a favor de Viktor Yuschenko. No entanto, é
uma personagem controversa devido à sua relação, em meados da década de
1990 com as elites oligárquicas, inclusive com o ex primeiro-ministro
Lazarenko, que cumpre atualmente pena numa cadeia americana por fraude,
lavagem de dinheiro e extorsão. Timochenko tanto exerce o cargo de chefe
de uma empresa de negócio de gás como o de vice primeira-ministra de um
governo notoriamente corrupto como o de Lazarenko. Diz-se ser
extremamente rica […]. Foi depois objeto de uma investigação por
corrupção e lavagem de dinheiro e esteve pouco tempo na cadeia. Depois
da eleição de Viktor Yushchenko foram oficialmente retiradas todas as
acusações. Pouco antes da campanha eleitoral a Rússia também interpôs
oficialmente acusações de corrupção contra ela" [60].
A chegada ao poder do par Yuschenko-Timochenko (graças à onda laranja)
permite a Turtchinov ocupar o posto de chefe dos serviços secretos
ucranianos (SBU) em Fevereiro de 2005. Mas em 2006 tanto ele como o seu
adjunto são objecto de uma investigação. São acusados de terem destruído
o processo de um perigoso padrinho do crime organizado ucraniano,
Semyon Mogilevich [61].
Este mafioso, suspeito de dirigir um vasto império criminal, é descrito, em 1998, pelo FBI como "
o gangster mais perigoso do mundo"
[62]. Uns meses depois as acusações foram estranhamente retiradas e
inclusive conseguiu uma excelente promoção. Com efeito, no seu segundo
mandato como primeira-ministra (2007), Timochenko atribui-lhe o cargo de
vice Primeiro-ministro, função que ocupou até 2010, data em que
Timochenko perde as eleições para Yanukovich.
As conflituosas relações do par Yushchenko-Timochenko dão o golpe de
misericórdia em qualquer miragem da "revolução" laranja. Timochenko é
acusada de ter atraiçoado o interesse nacional para preservar as suas
ambições pessoais [63].
A chegada ao poder de Yanukovich acaba com a impunidade da candidata
derrotada nas urnas e tira do armário o seu dossier judicial relativo a
antigos e novos "negócios". Timochenko é acusada em vários processos
judiciais: má utilização de fundos obtidos em 2009 com a venda de quotas
de emissão de CO2, abuso de poder em 2009 com a assinatura de contratos
de gás com a Rússia, considerados desfavoráveis para a o seu país,
fraude fiscal e desvio de fundos relativos ao caso Lazarenko e
responsabilidades próprias na gestão da empresa SEUU [64]. Mais grave é a
acusação de ser cúmplice (com Lazarenko) no assassinato do casal
Scherban (1996). Segundo o Procurador-geral Adjunto, "
a vítima estava
em conflito com Julia, que detinha então a distribuição de gás na
Ucrânia e tentava obrigar as empresas da região industrial de Donetsk a
comprar esta matéria-prima da sua empresa Sistemas Energéticos Unidos da
Ucrânia (SEUU), graças ao apoio do Primeiro-ministro de então Pavlo
Lazarenko. […] Evguen Scherban, um nome forte na região e cujo grupo
empresarial era concorrente da sociedade de Julia Timochenko, opôs-se
publicamente à expansão da SEUU e pagou isso com a sua vida [65]. E
acrescenta "que havia testemunhos que ela e o Primeiro-ministro Pavlo
Lazarenko pagaram pelos assassinato [de Scherban e e sua esposa]".
Estas acusações eram reafirmadas por Ruslan, filho de Scherban, que
sobreviveu ao assassinato dos seus pais. Numa conferência de imprensa
declarou ter
enviado documentos
para o gabinete do Procurador-geral que implicavam os dois ex
primeiros-ministros (Lazarenko e Timochenko) nos assassinatos. [66]
Timochenko também é suspeita de ser cúmplice de assassinato em outros
casos, como do homem de negócios Alexander Momot (assassinado em 1996,
alguns meses antes de Scherban) e do ex-governador do Banco Nacional da
Ucrânia, Vadym Hetman (assassinado em 1998) [67].
Timochenko foi condenada a sete anos de prisão em Outubro de 2011 e
encarcerada pela sua implicação no caso dos contratos de gás [68].
Os inesperados acontecimentos de Euromaidán tiraram a "princesa do gás"
da masmorra. E de que maneira! Sábado, 22 de Fevereiro de 2014, pelas
12H08 horas, Turtchinov, o braço direito de Timochenko, é eleito
presidente do parlamento ucraniano. Trinta minutos depois, como o mais
urgente caso a tratar num país em insurreição, o parlamento vota a
libertação "imediata" de Timochenko. A título de comparação, note-se que
só às 16H19 horas este mesmo parlamento votou a destituição de
Yanukovivh [69].
Com a nomeação do militante da extrema-direita Oleg Mahnitsky como
Procurador-Geral e a de muitos membros do Partido Batkisshina para
postos-chave do aparelho de Estado, é fácil prever que, pelo menos
durante algum tempo, Timochenko não irá ter preocupações com os seus
problemas judiciais.
Há que reconhecer que em duas ocasiões Timochenko foi arrancada das mãos
da Justiça por perturbações sociais de grande amplitude, a "revolução"
laranja em 2004 e agora o Euromaidán.
Como além do seu talento como novelista, o presidente Turtchinov também é
pastor evangélico, será que foi a este título que salvou a amiga de
toda a vida?
Mas "Kiev vale bem uma missa", não?
A descarada ingerência ocidental
A Euromaidán pode considerar-se uma "revolução" colorida, revista e
corrigida com molho de "primavera" Árabe com aroma sírio. Ainda que se
possam encontrar muitas semelhanças entre a "revolução" laranja e o
Euromaidán, há que apontar diferenças fundamentais. A primeira, já
anteriormente referida, é a violência das revoltas, que se deve
essencialmente à omnipresença de manifestantes da extrema-direita
fascista e neonazi. A "revolução" laranja baseava-se nas teorias
não-violentas de Gene Sharp. A segunda diferença é a descarada presença
de personalidades ocidentais, civis e políticas, na praça Maidán,
arengando às massas e incitando à desobediência civil, em frontal
contradição com o princípio fundamental da não-ingerência nos assuntos
internos de um país soberano cujos dirigentes foram democraticamente
eleitos.
Comecemos por John McCain, presidente do conselho de Administração do
IRI que, em Kiev, está em terreno conhecido. Depois (e não durante) da
"revolução" laranja viajou (em Fevereiro de 2005) para se entrevistar
com os seus patrocinados, a quem tinha generosamente financiado.
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Yushchenko e McCain (Fevereiro de 2005) |
O senador norte-americano também viajou aos países árabes
"primaverisados": Tunísia (21 de Fevereiro de 2010), Egito (27 de
Fevereiros de 2011), Líbia (22 de Abril de 2011) e Síria (27 de Maio de
2013). Nas duas primeiras viagens os governos já tinham caído. Nos dois
últimos a batalha causava estragos (e continua a causá-los na Síria).
Em Kiev, McCain dirigiu-se aos rebeldes de Maidán a 14 de Dezembro de 2013: "
Estamos
aqui para apoiar a vossa justa causa, o direito soberano da Ucrânia a
escolher livremente o seu destino e com total independência. E o destino
que desejais está na Europa" aclarou [70].
Entrevistou-se com o "triunvirato de Maidán", isto é, com Yushchenko,
Klitschko e Tiagnibok. Não teve problemas em posar com Tiagnibok apesar
de a este último ter sido proibido de entrar nos Estados Unidos devido
aos seus discursos anti-semitas [71]. Não corou minimamente ao lidar com
o líder do Svoboda, um partido abertamente ultra-nacionalista, xenófobo
e defensor dos valores neonazis, tal como não lhe importou apoiar os
sanguinários terroristas da Síria e da Líbia. Por fim justifica os
meios: o importante é arrebatar a Ucrânia do lado da Rússia.
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McCain à mesa com Klitschko, Yatseniuk y Tiagnibok (Dezembro de 2013) |
A ingerência norte-americana também se vê claramente no "tema Nuland",
demonstração clara que o vocabulário utilizado por alguns altos cargos
políticos norte-americanos não tem nada a invejar do dos carroceiros,
"Fuck the UE! [Que se fo… a União Europeia!], exclamou Nuland, o que diz
muito da luta pela influência entre o Tio Sam e o velho continente.
E como chama Victoria Nuland, a subsecretária de Estado para a Europa e
Eurásia aos líderes do Euromaidán? Yats e Klitsch? [72] Como "Jon" e
"Ponch", da popular série norte-americana CHIPS? O mínimo que se pode
dizer da utilização de uma linguagem tão à vontade é que isso demonstra
uma familiaridade evidente, e uma conivência indesmentível entre os
membros do triunvirato e a administração estadunidense.
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Tiagnibok, Victoria Nulan, Klitschko e Yatseniuk com indisfarçável alegria nos rostos |
Além do IRI também o NED esteve presente em Kiev. Para constatar isso
basta acompanhar Nadia Diuk que escreve a partir de Kiev e cujos artigos
são publicados no Kivy Post e outros famosos jornais. Os títulos dos
artigos são idílicos: "
A revolução auto-organizada da Ucrânia" [73], "
As visões do futuro da Ucrânia"
[74], etc.. Já em 2004, em plena "revolução" laranja, a jornalista
escrevia: "Na Ucrânia, uma liberdade indígena" [75], para demonstrar que
a revolução era espontânea, o que contradiz todos os estudos
(ocidentais) publicados depois. Há que rendermo-nos à evidência de que o
conteúdo dos seus artigos não mudou muito com os tempos. E com razão,
pois a senhora Diuk é vice-presidenta da NED, encarregada dos programas
para a Europa, Eurásia, África, América Latina e Caribe [76].
Os relatórios anuais da NED mostram que, precisamente em 2012, o
montante concedido a uns 60 organismos ucranianos se elevaram a quase
3,4 milhões de dólares [77]. Esse relatório indica que o IRI de McCain e
o NDI de Albright beneficiaram de 380.000 e 345.000 dólares,
respectivamente, para as suas actividades na Ucrânia.
Esta evidente implicação americana na Ucrânia foi assinalada por Serguei Glaziev, que declarou que os "
estadunidenses gastam 20 milhões de dólares por semana para financiar a oposição e os rebeldes, incluindo armas" [78].
O segundo país ocidental largamente implicado no Euromaidán é a
Alemanha. Doze dias antes de McCain, Guido Westerwelle, chefe da
diplomacia alemã, teve um banho de multidão entre os manifestantes da
praça Maidán, na companhia dos seus "protegidos", "Yats" e "Klitsch" ou
de forma mais polida, Yatseniuk e Klitschko. Depois de se entrevistar
com eles às portas fechadas declarou: "
Não estamos aqui para
apoiar um partido, mas para apoiarmos os valores europeus. E quando nos
comprometemos com esses valores europeus naturalmente que nos agrada
saber que a maioria dos ucranianos compartilha desses valores, e quer
partilhá-los e seguir a via europeia" [79].
Por falar de maioria, certamente que Westerwelle não consultou as sondagens recentes que mostram que
apenas 37% da população ucraniana é partidária da adesão do seu país á União Europeia
[80]. Por outro lado, são cidadãos europeus? Não é tão seguro assim.
Por exemplo uma sondagem recente demonstra que 65% dos franceses se opõe
à ideia de uma ajuda financeira pela França e pela União Europeia à
Ucrânia, e 67% está contra a entrada deste país na UE [81].
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Klitschko, Guido Westerwelle e Yatseniuk |
Também a chanceler alemã, tal como o seu ministro, recebeu Yushenko e
Klitschko em 17 de Fevereiro de 2014 em Berlim. O candidato em que
aposta Merkel, a CDU e o seu think thank, a Fundação Konrad Adenauer, é
Klitschko [82]. No entanto, o partido de Timochenko também é considerado
aliado do PPE e da CDU, segundo afirmou Martens num discurso no Club da
Fundação Adenauer, em 2011: "Julia Timochenko é uma amiga de confiança e
o seu partido é um importante membro da nossa família política". Nesse
mesmo discurso declarou que a sua postura era idêntica à de McCain
quanto ao apoio a Timochenko (para a sua libertação da prisão) [83].
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Klitschko, Merkel e Yatseniuk |
Seja dito que o sublinhar desta visão convergente entre o IRI e a
Fundação Konrad Adenauer não é fortuita nem recente. Na verdade ela
remonta à criação da NED, como nos explica Philip Agee, o antigo agente
da
CIA
que abandonou a Agência para viver em Cuba [84]. Em primeiro lugar há
que entender que a NED foi criada para assumir certas tarefas que
originalmente pertenciam à CIA, neste caso a gestão dos programas
secretos de financiamento da sociedade civil estrangeira. Depois de se
consultarem com um largo leque de organizações nacionais e estrangeiras,
as autoridades norte-americanas decidiram interessar-se pelas fundações
dos principais partidos da Alemanha ocidental, financiadas pelo governo
alemão: a Friederich Ebert Stiftung dos social-democratas e a Konrad
Adenauer Stitfung dos democrata-cristãos. Atualmente encontramos uma
estrutura análoga na paisagem política norte-americana. Os dois
satélites da NED, o IRI e o NDI estão respectivamente relacionados com
os partidos republicano e democrata norte-americanos e tal como os seus
homólogos alemães são financiados por fundos públicos. Como a CIA
colaborava com esses "Stiftungs" alemães para financiar movimentos em
todo o mundo, muito antes da criação do NED em 1983 pelo presidente
Reagan, as relações permaneceram sólidos até aos dias de hoje.
Se bem que mais discreto que os dois anteriores, o terceiro país
implicado nos acontecimentos ucranianos é o Canadá. Este interesse é
talvez devido ao fato de o Canadá albergar a maior diáspora ucraniana do
mundo depois da Rússia. Mais de 1,2 milhões de canadienses são de
origem ucraniana [85].
John Baird, ministro dos Negócios Estrangeiros canadense, teve uma
entrevista com o triunvirato ucraniano em 4 de Dezembro de 2013 em Kiev,
e, tal como os outros, fez uma "peregrinação" à praça Maidán. O chefe
da diplomacia canadense voltou a Kiev em 28 de Fevereiro de 2014 para se
encontrar com as novas autoridades: o presidente Turtchinov, o
Primeiro-ministro Yatseniuk e a "Joana d’Arc" ucraniana. Perguntado
sobre o seu apoio "incondicional" à Ucrânia e as suas consequências para
as relações com a Rússia respondeu: "
Certamente que não vamos pedir desculpa por apoiar o povo ucraniano na sua luta pela liberdade"
[86]. Há que dizer que Paul Grod, o presidente dos
ucranianos-canadianos (UCC) acompanhou Baird nas suas viagens. As suas
posições são decalcadas das da diplomacia canadiana.
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Tiagnibok, Yatseniuk, Baird, Klitschko e Grod |
As posições e reações de todos estes políticos nos deixam perplexos.
Naturalmente, há de se lamentar as vidas perdidas durante esse sangrento
conflito mas, que teriam eles feito se manifestantes violentos
pertencentes a grupos extremistas tivessem ocupado o centro das suas
capitais, matado membros das forças da ordem, sequestrado dezenas de
policiais, ocupado serviços oficiais e alterado a ordem pública durante
meses? Não terão estes políticos uma parte da responsabilidade pelo
aumento do número de vítimas, por terem deitado lenha para a fogueira de
Maidán?
Na França, por exemplo, o ministro do Interior, Manuel Valls,
insurgiu-se em 22 de Janeiro contra uma manifestação de "Black Bloc"
onde seis polícias foram feridos. Vejam os seus comentários: "
Esta
violência vinda da ultra-esquerda, esses Black-Bloc que são originários
do nosso país mas também de países estrangeiros, é inadmissível e
continuará a encontrar uma resposta particularmente determinada da parte
do Estado". Depois de prestar homenagem "
ao prefeito de Loire Atlântica, às forças da ordem que com grande sangue frio e profissionalismo contiveram essa manifestação" Manuel Valls acrescentou: "
Não se podem admitir tais abusos" [87].
E os ucranianos devem aceitá-los? E como teria reagido a classe política
francesa e ocidental se esses "Black Bloc" tivessem sido financiados,
treinados ou apoiados por organismos políticos estrangeiros russos,
chineses?
Deixo a resposta ao cuidado do leitor.
---///---
Definitivamente, há que rendermo-nos à evidência de que o Euromaidán,
tal como a "revolução" laranja, é um movimento largamente apoiado pelos
departamentos ocidentais. Esta conclusão não deve apagar a realidade da
corrupção de toda a classe política ucraniana. Fingir nos apresentar,
como fazem os meios de comunicação social ocidentais, os "bons" com
Timochenko e os "maus" com Yanukovich é uma visão distorcida da
realidade. O governo de Yanucovich foi eleito democraticamente, os
recentes acontecimentos foram sem qualquer dúvida um golpe de Estado.
Este golpe de Estado permitiu que os militantes da extrema-direita
ucraniana, ultra-nacionalista, fascista e neonazi fizessem parte do novo
governo da Ucrânia. Esta presença, abertamente apoiada pelos
governos ocidentais, e nefasta para o futuro e a estabilidade do país. A
apressada, controversa e incompreensível derrogação da lei "sobre as
bases da política linguística do Estado" é um exemplo marcante [88].
Além disso, a aproximação "forçada" da Ucrânia à União Europeia e o seu
correspondente afastamento da Rússia não é benéfica para o povo
ucraniano. Segundo os especialistas ocidentais e não ocidentais a
proposta russa é de longe muito mais interessante que a proposta
conjunta da União Europeia e dos Estados Unidos, cuja única alternativa é
oferecer ao país "a medicina do FMI" [89].
Ao contrário das piedosas vozes de Timochenko em Maidán, seria utópico
pensar que a Ucrânia fará parte da União Europeia "em um futuro próximo"
[90], devido à desastrosa situação de alguns países europeus, como a
Grécia por exemplo. A "Marianne da trança" provavelmente não ouviu o
ministro francês dos Assuntos Europeus Thierry Repentin. "
Em todas as negociações para oferecer à Ucrânia um acordo de associação temos lutado duramente para retirar qualquer alusão a uma adesão à União Europeia. Nada de alterar a posição", declarou num artigo publicado o passado dia 3 de Fevereiro [91].
Se a Ucrânia não pode pretender uma adesão à União Europeia e os
defensores ocidentais da sua "revolução" não estão dispostos a pagar a
fatura, tudo parece indicar que este país é apenas um "cavalo de Tróia"
para embaraçar a Rússia, que está a ganhar muita relevância e
desenvoltura nos jogos internacionais, como se viu no conflito sírio.
Uma forma como qualquer outra de abrir uma nova era de Guerra Fria. As
revoltas na Crimeia e as ameaças de excluir a Rússia do G8 [92] são
apenas o princípio.
Os ucranianos devem saber que estão condenados a viver em boa vizinhança
com a Rússia, unidos por uma fronteira comum e laços históricos,
comerciais, culturais e linguísticos.
Apesar de tudo, uma coisa é certa: o despertar "pós-revolucionário" será doloroso para os ucranianos.
Fontes:
-
Blog Anti-NOM: Ucrânia, Autópsia de um Golpe de Estado (Correção, revisão e adaptação para português Brasil)
Este texto foi originalmente publicado em:
-
Ahmed Bensaada: Ukraine: autopsie d’un coup d’éta
Tradução inicial por José Paulo Gascão:
-
O Diário.info: Ucrânia, autópsia de um golpe de Estado (
PDF)
Versão Espanhol:
-
Ucrania, autopsia de un golpe de Estado
Referências:
* Marianne é o busto que representa a República Francesa
[1] AFP, «Élection présidentielle - Ioulia Timochenko refuse de reconnaître sa défaite», Le Point, 9 de Fevereiro de 2010,
http://www.lepoint.fr/actualites-monde/2010-02-09/election-presidentielle-ioulia-timochenko-refuse-de-reconnaitre/924/0/422135
[2] AFP, «Ukraine: l'OSCE reconnaît la bonne tenue de l'élection», Le Monde, 8 de Fevereiro de 2010,
http://www.lemonde.fr/europe/article/2010/02/08/ukraine-ianoukovitch-revendique-une-courte-victoire_1302464_3214.html
[3] AFP, «Présidentielle en Ukraine: Timochenko retire son recours en justice», RTL, 20 de Fevereiro de 2010,
http://www.rtl.be/info/monde/france/308688/presidentielle-en-ukraine-timochenko-retire-son-recours-en-justice
[4] David Teutrie, «L'accord d'association de l'UE avec l'Ukraine est
une stratégie perdant-perdant», Institut de la Démocratie et de la
Coopération, 4 de Fevereiro de 2014,
http://www.idc-europe.org/fr/-Accord-d-Association-avec-l-Ukraine-est-une-strategie-perdant-perdant-
[5] Sergeï Glaziev, «L’Union économique eurasiatique n’aspire pas à
devenir un Empire comme l’UE», Solidarité et Progrès, 18 de Janeiro de
2014,
http://m.solidariteetprogres.org/actualites-001/article/sergei-glaziev-l-union-economique-eurasiatique-n.html
[6] Gaël De Santis, «Ukraine. L’UE ne promet pas la lune aux
manifestants... juste la Grèce», L’Humanité, 24 de Fevereiro de 2014,
http://www.humanite.fr/monde/ukraine-l-ue-ne-promet-pas-la-lune-aux-manifestant-559788
[7] AFP, «Ukraine: Washington et Londres prêts à soutenir "un nouveau gouvernement"», Le Monde, 22 de Fevereiro de 2014,
http://www.lemonde.fr/europe/article/2014/02/22/ukraine-londres-pret-a-soutenir-un-nouveau-gouvernement_4371763_3214.html
[8] G. Sussman y S. Krader, «Template Revolutions: Marketing U.S. Regime
Change in Eastern Europe», Westminster Papers in Communication and
Culture, University of Westminster, Londres, vol. 5, n° 3, 2008, p.
91-112,
http://www.westminster.ac.uk/__data/assets/pdf_file/0011/20009/WPCC-Vol5-No3-Gerald_Sussman_Sascha_Krader.pdf
[9] Manon Loizeau, «États-Unis à la conquête de l’Est», 2005. Pode ver neste enlace:
http://www.ahmedbensaada.com/index.php?option=com_content&view=article&id=120:arabesque-americaine-chapitre-1&catid=46:qprintemps-arabeq&Itemid=119
[10] BBC , «Russia expels USAID development agency», 19 de Setembro de 2012,
http://www.bbc.co.uk/news/world-europe-19644897
[11] Ian Traynor, «US campaign behind the turmoil in Kiev», The Guardian, 26 de Novembro de 2004,
http://www.guardian.co.uk/world/2004/nov/26/ukraine.usa
[12] VOA, «Senator McCain Tells Ukrainians of Nobel Nomination for Yushchenko», 4 de Fevereiro de 2005,
http://www.insidevoa.com/content/a-13-34-mccain-intvu-4feb2005/177965.html
[13] Arquivos do governo ucraniano, «Orange Revolution Democracy Emerging in Ukraine»,
http://www.archives.gov.ua/Sections/Ukraineomni/ukrelection030905a.htm
[14]. Justin Raimondo, «The Orange Revolution, Peeled», Antiwar, 8 de Fevereiro de 2010,
http://original.antiwar.com/justin/2010/02/07/the-orange-revolution-peeled/
[15] Ahmed Bensaada, «Arabesque américaine: Le rôle des États-Unis dans
les révoltes de la rue arabe», Éditions Michel Brûlé, Montréal (2011),
Éditions Synergie, Alger (2012),
[16] Maud Descamps, «Ukraine: le nouveau président par intérim est un pasteur», Europe 1, 23 de Fevereiro de 2014,
http://www.europe1.fr/International/Ukraine-le-nouveau-president-par-interim-est-un-pasteur-1809869/
[17] DW, «McCain Feels the Love From European Conservatives», 4 de Setembro de 2008,
http://www.dw.de/mccain-feels-the-love-from-european-conservatives/a-3618489-1
[18] Mikhail Mikhaylov, «Zair Smedlyaev: The Crimean Tatars should have self-autonomy», World and We, 10 de Julho de 2013,
http://www.worldandwe.com/en/page/Zair_Smedlyaev_The_Crimean_Tatars_should_have_selfautonomy.html#ixzz2uUeETy00
[19] Faustine Vincent, «Arseni Iatseniouk, leader phare de la contestation en Ukraine», 20 minutes, 28 de Janeiro de 2014,
http://www.20minutes.fr/monde/1283098-20140128-arseni-iatseniouk-leader-phare-contestation-ukraine
[20] AFP, «Ukraine: Iatseniouk, désigné premier ministre, face à une tâche herculéenne», Le Devoir, 26 de Fevereiro de 2014,
http://www.ledevoir.com/international/actualites-internationales/401165/des-echauffourees-eclatent-en-crimee-pendant-que-poutine-ordonne-des-manoeuvres
[21] Centro Europeu para a Ucrânia Moderna, «Élections ukrainiennes –Informations», 10 de Outubro de 2012,
http://www.modernukraine.eu/wp-content/uploads/2012/10/Elections-Ukrainiennes-Newsletter-7-10-octobre-2012.pdf
[22] German Foreign Policy, «Our Man in Kiev», 10 de Dezembro de 2013,
http://www.german-foreign-policy.com/en/fulltext/58705/print
[23] Veja-se, por exemplo, Olivier Renault , «Ukraine: Klitchko, ou la
construction d'un président par l'OTAN», La voix de la Russie, 24 de
Janeiro de 2014,
http://french.ruvr.ru/2014_01_24/Ukraine-Klitschko-ou-la-construction-dun-president-par-lOTAN-3540/
[24] Palash Ghosh , «Svoboda: The Rising Spectre Of Neo-Nazism In The
Ukraine», International Business Times, 27 de Dezembro de 2012,
http://www.ibtimes.com/svoboda-rising-spectre-neo-nazism-ukraine-974110
[25] Palash Ghosh, «Euromaidan: The Dark Shadows Of The Far-Right In
Ukraine Protests», International Business Times, 19 de Fevereiro de
2014,
http://www.ibtimes.com/euromaidan-dark-shadows-far-right-ukraine-protests-1556654
[26] Tadeusz Olszaski, «Svoboda Party – The New Phenomenon on the
Ukrainian Right-Wing Scene», Centre for Eastern Studies, 4 de Julho de
2011,
http://www.isn.ethz.ch/Digital-Library/Publications/Detail/?lng=en&id=137051
[27] Ria Novosti, «Ukraine: la coalition "Choix européen" créée au parlement», 27 de febrero de 2014,
http://fr.ria.ru/world/20140227/200603490.html
[28] 62, «Rada appointed the new Attorney General», 24 de Fevereiro de 2014,
http://www.62.ua/news/482461
[29] Katya Gorchinskaya, «Kyiv Post: The not-so-revolutionary New Ukraine Government», Novinite , 27 de Fevereiro de 2014,
http://www.novinite.com/articles/158543/Kyiv+Post%3A+The+notso-revolutionary+New+Ukraine+Government
[30] IPO Forum, «Pavlo Sheremeta»,
http://www.ipoforum.com.ua/en/speakers/?pid=422
[31] BBC, «Ukraine crisis: Key players», 27 de Fevereiro de 2014,
http://www.bbc.com/news/world-europe-25910834
[32] BBC, «Groups at the sharp end of Ukraine unrest», 1 de Fevereiro de 2014,
http://www.bbc.com/news/world-europe-26001710
[33] Simon Shuster, «Exclusive: Leader of Far-Right Ukrainian Militant
Group Talks Revolution With TIME», TIME, 4 de Fevereiro de 2014,
http://world.time.com/2014/02/04/ukraine-dmitri-yarosh-kiev/
[34] Global Security, «Pravy Sektor / Praviy Sector (Right Sector)», 6 de Fevereiro de 2014,
http://www.globalsecurity.org/military/world/ukraine/right-sector.htm
[35] Ver nota 31.
[36] Ibid.
[37] Le Parisien, «La tortue du Pravy Sektor 25/01/2014 Kiev Ukraine», 28 de Janeiro de 2014,
http://who-when-where-photo.blog.leparisien.fr/archive/2014/01/27/le-secteur-droit-sur-la-place-maidan-25-01-2014-kiev-ukraine-14727.html
[38] RT, «Acciones ilegales de 'manifestantes pacíficos' en Kiev», 18 de Fevereiro de 2014,
http://www.youtube.com/watch?v=byAi0vMSSHs#t=34
[39] David Blair y Roland Oliphant, «As Kiev violence escalates,
opposition leader says 'a foreign power' wants to divide Ukraine», The
Telegraph, 25 de Janeiro de 2014,
http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/europe/ukraine/10596968/As-Kiev-violence-escalates-opposition-leader-says-a-foreign-power-wants-to-divide-Ukraine.html
[40] Alexei Korolyov, «Commander' of Ukraine protests: Let parliament lead», USA TODAY, 27 de Fevereiro de 2014,
http://www.usatoday.com/story/news/world/2014/02/27/ukraine-opposition-parubiy/5844437/
[41] Yann Merlin y Jérôme Guillas, «Ukraine: "Nous sommes là pour la révolution"», Metronews, 19 de Fevereiro de 2014,
http://www.metronews.fr/info/ukraine-andriy-parubiy-nous-sommes-la-pour-la-revolution/mnbs!cSw0WJ6VjTN8/
[42] Roman Olearchyk, «Arseniy Yatseniuk poised to become Ukraine prime minister», Financial Times, 26 de Fevereiro de 2014,
http://www.ft.com/intl/cms/s/0/88987cf8-9f12-11e3-8663-0144feab7de.html?siteedition=intl#axzz2ufydXR5l
[43] Liga, «Andriy Parubiy», 28 de Fevereiro de 2014,
http://file.liga.net/person/866-andrei-parybii.html
[44] Euronews, «Ukraine: Bernard-Henri Levy parmi les opposants au Maïdan», 10 de Fevereiro de 2014,
http://fr.euronews.com/2014/02/10/ukraine-bernard-henri-levy-parmi-les-opposants-au-maidan
[45] Natalia Vitrenko, «Ukraine: un putsch néonazi poussé par l'OTAN», Dailymotion, 25 de Fevereiro de 2014,
http://www.dailymotion.com/video/x1di876_ukraine-un-putsch-neonazi-pousse-par-l-otan_news
[46] Irina Lebedeva , «Bernard-Henri Lévy: Harangues of Ignorant
Buffoon», Strategic Culture Foundation, 15 de Fevereiro de 2014,
http://www.strategic-culture.org/news/2014/02/15/bernard-henri-levy-harangues-of-ignorant-buffoon.html
[47] AFP, «Timochenko: dame de fer et "princesse du gaz"», La Libre, 22 de Fevereiro de 2014,
http://www.lalibre.be/actu/international/timochenko-dame-de-fer-et-princesse-du-gaz-5308d0f335709867e404dc0b
[48] Oleg Varfolomeyev, «Will Yulia Tymoshenko be Ukraine's first woman
prime minister?», PRISM, Volumen 4, ejemplar 3, 6 de Fevereiro de 1998,
The Jamestown Foundation,
http://web.archive.org/web/20061125034223/http://www.jamestown.org/publications_details.php?volume_id=5&issue_id=249&article_id=2820
[49] Marta Kolomayets, «Lazarenko escapes assassination attempt», The Ukrainian Weekly, 21 de Julho de 1996,
1996,
http://www.ukrweekly.com/old/archive/1996/299601.shtml
[50] Ver nota 47.
[51] Gilles Gaetner, «Les comptes fantastiques de M. Lazarenko», L’Express, 1 de Junho de 2000,
http://www.lexpress.fr/actualite/monde/europe/les-comptes-fantastiques-de-m-lazarenko_491978.html
[52] Ver nota 16.
[53] BBC, «Former Ukraine PM is jailed in US», 25 de agosto de 2006,
http://news.bbc.co.uk/2/hi/americas/5287870.stm
[54] Transparency International Global Corruption Report 2004, «World's Ten Most Corrupt Leaders»,
http://www.infoplease.com/ipa/A0921295.html
[55] Arielle Thedrel , «Ukraine: Ioulia Timochenko accusée de meurtre», Le Figaro, 22 de Janeiro de 2013,
http://www.lefigaro.fr/international/2013/01/22/01003-20130122ARTFIG00336-ukraine-ioulia-timochenko-accusee-de-meurtre.php
[56] Libération, «La vice-Première ministre ukrainienne limogée», 20 de Janeiro de 2001,
http://www.liberation.fr/monde/2001/01/20/la-vice-premiere-ministre-ukrainienne-limogee_351716
[57] BBC, «Ukraine: opposition leader injured», 29 de Janeiro de 2002,
http://news.bbc.co.uk/2/hi/europe/1788924.stm
[58] Marie Jégo, «Ioulia Timochenko, la "marianne à la tresse"», Le Monde, 24 de Fevereiro de 2014,
http://www.lemonde.fr/europe/article/2005/09/09/ioulia-timochenko-la-marianne-a-la-tresse_687380_3214.html
[59] Ibid.
[60] Wikileaks, «CRS: Ukraines Political Crisis and U.S. Policy Issues», 1 de Fevereiro de 2005,
http://wikileaks.org/wiki/CRS:_Ukraines_Political_Crisis_and_U.S._Policy_Issues,_February_1,_2005
[61] Ver nota 16.
[62] Robert I. Friedman , "The Most Dangerous Mobster in the World", The Village Voice, 26 de Maio de 1998,
http://www.villagevoice.com/1998-05-26/news/the-most-dangerous-mobster-in-the-world/
[63] Reuters, «Crise au sommet en Ukraine, menace d'élections anticipées», Le Point, 3 de Setembro de 2008,
http://www.lepoint.fr/actualites-monde/2008-09-03/crise-au-sommet-en-ukraine-menace-d-elections-anticipees/924/0/271036
[64] AFP, «Ukraine: nouvelle inculpation de Timochenko pour des délits financiers», l’Express, 11 de Novembro de 2011,
http://www.lexpress.fr/actualites/1/monde/ukraine-nouvelle-inculpation-de-timochenko-pour-des-delits-financiers_1050142.html
[65] AFP, «Ukraine: le parquet va inculper Ioulia Timochenko dans une affaire de meurtre», RTBF, 19 de Junho de 2012,
http://www.rtbf.be/info/societe/detail_ukraine-le-parquet-va-inculper-ioulia-timochenko-dans-une-affaire-de-meurtre?id=7789919
[66] BBC, «Tymoshenko rejects Ukraine murder link as 'absurd'», 9 de Abril de 2012,
http://www.bbc.com/news/world-europe-17658811
[67] Newspepper, «Prosecutor General of Ukraine examines the involvement
of Timoshenko to the three murders», 7 de Abril de 2012,
http://newspepper.su/news/2012/4/7/prosecutor-general-of-ukraine-examines-the-involvement-of-timoshenko-to-the-three-murders/
[68] Thomas Vampouille , «Ioulia Timochenko condamnée à sept ans de prison», Le Figaro, 11 de Outubro de 2011,
http://www.lefigaro.fr/international/2011/10/11/01003-20111011ARTFIG00517-ioulia-timochenko-condamnee-a-sept-ans-de-prison.php
[69] Iris Mazzacurati , «En direct. Ukraine: Ianoukovitch démis de ses
fonctions, Timochenko libérée», L’Express, 22 de Fevereiro de 2014,
http://www.lexpress.fr/actualite/monde/europe/en-direct-ukraine-vers-la-fin-du-regne-de-viktor-ianoukovitch_1494265.html
[70] Richard Balmforth y Gabriela Baczynska, «Nouvelle manifestation à
Kiev, l'UE suspend les négociations», Le Point, 15 de Dezembro de 2013,
http://www.lepoint.fr/fil-info-reuters/nouvelle-manifestation-a-kiev-l-ue-suspend-les-negociations-15-12-2013-1769842_240.php
[71] Bill Van Auken, Leaked phone call on Ukraine lays bare Washington’s gangsterism», WSWS, 10 de Fevereiro de 2014,
http://www.wsws.org/en/articles/2014/02/10/pers-f10.html
[72] BBC, «Ukraine crisis: Transcript of leaked Nuland-Pyatt call», 7 de Fevereiro de 2014,
http://www.bbc.com/news/world-europe-26079957
[73] Nadia Diuk, «Ukraine's self-organizing revolution», Kyiv Post, 3 de Fevereiro de 2014,
http://www.kyivpost.com/opinion/op-ed/nadia-diuk-ukraines-self-organizing-revolution-336155.html
[74] Nadia Diuk, «Ukraine's visions of the future», Kyiv Post, 4 de Dezembro de 2013,
http://www.kyivpost.com/opinion/op-ed/nadia-diuk-ukraines-visions-of-the-future-333037.html
[75] Nadia Diuk, «In Ukraine, Homegrown Freedo», Washington Post, 4 de Dezembro de 2004,
http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/articles/A34008-2004Dec3.html
[76] NED, «Nadia Diuk, Vice President, Programs – Africa, Central Europe and Eurasia, Latin America and the Caribbean»,
http://www.ned.org/about/staff/nadia-diuk
[77] NED, «Ukraine 2012 Annual report»
http://www.ned.org/publications/annual-reports/2012-annual-report/central-and-eastern-europe/ukraine
[78] Michel Viatteau y Olga Nedbaeva, «Le président ukrainien à Sotchi sur fond de tensions», La Presse, 6 de Fevereiro de 2014,
http://www.lapresse.ca/international/europe/201402/06/01-4736241-le-president-ukrainien-a-sotchi-sur-fond-de-tensions.php
[79] Philippe Pognan, «Bain de foule de Westerwelle à Kiev», DW, 5 de Dezembro de 2013,
http://www.dw.de/bain-de-foule-de-westerwelle-%C3%A0-kiev/a-17272897
[80] Samuel Charap y Keith A. Darden, «Kiev Isn’t Ready for Europe», The New York Times, 20 de Dezembro de 2013,
http://www.nytimes.com/2013/12/21/opinion/kiev-isnt-ready-for-europe.html?_r=0
[81] Atlantico, «65% des Français opposés à une aide financière à l’Ukraine», 27 de Fevereiro de 2014,
http://www.atlantico.fr/decryptage/65-francais-opposes-aide-financiere-ukraine-jerome-fourquet-ifop-994234.html
[82] Ralf Neukirch, Nikolaus Blome y Matthias Gebauer, «UKRAINE:
Klitchko, l’opposant coaché par Merkel, Der Spiegel, 11 de Dezembro de
2013,
http://www.presseurop.eu/fr/content/article/4396161-klitchko-l-opposant-coache-par-merkel
[83] Konrad Adenauer Stiftung, «Speech by EPP President Wilfried
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http://www.kas.de/ukraine/en/publications/28776/
[84] Philip Agee, «Terrorism and Civil Society as Instruments of U.S. Policy in Cuba», Cuba Linda, Maio de 2003,
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[85] Statistics Canada, «2011 National Household Survey: Data tables»,
http://www12.statcan.gc.ca/nhs-enm/2011/dp-pd/dt-td/Rp-eng.cfm?
[86] Sonja Puzic, «'We don't apologize for standing with Ukrainian people,' Baird says», CTVNews, 28 de Fevereiro de 2014,
http://www.ctvnews.ca/politics/we-don-t-apologize-for-standing-with-ukrainian-people-baird-says-1.1707909
[87] AFP, «Valls cible «l’ultra-gauche» et les «Black Bloc» après les heurts de Nantes», Libération, 22 de Fevereiro de 2014,
http://www.liberation.fr/societe/2014/02/22/valls-cible-l-ultra-gauche-et-les-black-bloc-apres-les-heurts-de-nantes_982282
[88] RIA Novosti, «Ukraine: la Rada abroge la loi sur le statut du russe», 23 de Fevereiro de 2014,
http://fr.ria.ru/world/20140223/200560426.htmlhttp://fr.ria.ru/world/20140223/200560426.html
[89] AFP , «Une équipe du FMI mardi en Ukraine pour discuter du plan d’aide», Libération,
http://www.liberation.fr/monde/2014/03/03/une-equipe-du-fmi-mardi-en-ukraine-pour-discuter-du-plan-d-aide_984175
[90] Le Journal du siècle, «Timochenko: "L’Ukraine va devenir un membre de l’Union européenne"», 23 de Fevereiro de 2014,
http://lejournaldusiecle.com/2014/02/23/timochenko-lukraine-va-devenir-un-membre-de-lunion-europeenne/
[91] Alain Franco, «Ukraine: l'Union européenne sans boussole», Le Point, 3 Fevereiro de 2014,
http://www.lepoint.fr/monde/ukraine-l-union-europeenne-sans-boussole-03-02-2014-1787567_24.php
[92] Kevin Lamarque, «Une première étape vers une exclusion de la Russie du G8», RFI, 3 de marzo de 2014,
http://www.rfi.fr/europe/20140303-une-premiere-etape-vers-une-exclusion-russie-g8-obama-poutine-france-union-europeenne-allemagne-g7/