Postagem 22/out/2016...
Xadrez do fator Eduardo Cunha
qui, 20/10/2016 - 06:04
Atualizado em 20/10/2016 - 09:44

A graça de um cenário é quando consegue identificar fatos pouco
conhecidos, montar ilações pouco percebidas, tirar conclusões
inesperadas.
Não é o caso da prisão do ex-deputado Eduardo Cunha, respeitosamente
detido pela Polícia Federal, com autorização do juiz Sérgio Moro, e com a
recomendação de não fazerem espetáculo.
As conclusões unânimes são as seguintes:
1. Eduardo Cunha era pato manco desde o ano passado. Era um caso de prisão óbvia.
2. Nunca pertenceu ao establishment
político e midiático, como Aécio Neves e José Serra. Portanto, seria
mínima a linha de resistência à prisão.
3. O grupo da Lava Jato, juiz Sérgio
Moro à frente, conta que, com a prisão, se consiga demonstrar um mínimo
de imparcialidade, ampliando a força para uma futura prisão de Lula.
Essas são as conclusões óbvias. Os desdobramentos, são mais imprevisíveis.
Ninguém minimamente informado tem a menor dúvida sobre a parcialidade
da Lava Jato e sobre as estratégias políticas por trás de cada
operação. Nas vésperas das eleições municipais, foram mais três
operações com estardalhaço sobre alvos petistas.
Agora, uma operação discreta sobre um não-petista.
Há os objetivos óbvios da Lava Jato e os desdobramentos ainda obscuros.
Peça 1 - Prisão e/ou inabilitação de Lula para 2018.
Dias atrás, a Vox Populi soltou uma pesquisa sobre eleições
presidenciais. Em todas elas, dava vitória de Lula no primeiro turno.
Nenhum veículo de imprensa repercutiu.
Ontem, foi a vez da CNT-IBOPE divulgar outra pesquisa com resultados semelhantes.
Mais ainda. No segundo turno, o único em condições de enfrentar Lula
seria Aécio Neves (devido ao recall das últimas eleições) e mesmo assim
haveria empate técnico.
Com todos os demais candidatos, haveria vitória de Lula.
Um dado da pesquisa Vox Populi foi pouco notado. Na relação dos
brasileiros mais admirados, o primeiro é Sérgio Moro, com 50%. O
segundo, Lula, com 33%. O terceiro, Dilma com 23%. Os demais vêm mais
abaixo.
Hipoteticamente, a única pessoa capaz de peitar Lula seria Sérgio
Moro. E em seu terreno, o Judiciário e no terreno comum da opinião
pública.
Peça 2 - Os tucanos blindados
Para analisar os desdobramentos da eventual delação de Eduardo Cunha, o primeiro passo é identificar os que NÃO serão atingidos.
Obviamente, serão as lideranças tucanas, devidamente blindadas pela Lava Jato e pela Procuradoria Geral da República (PGR).
Aécio Neves
Os jornais soltam fogos de artifício para demonstrar isenção. Foi o
caso da denúncia de que Aécio Neves viajou para os Estados Unidos com
recursos do fundo partidário, um pecadilho.
A dúvida que ninguém respondeu até agora: porque Dimas Toledo, o
caixa político de Furnas, jamais foi incomodado pela Lava Jato ou pela
Procuradoria Geral da República (PGR)?
Dimas é a chave de todo esquema de corrupção de Furnas.
Há o caso do helicóptero com 500 quilos de cocaína, que jamais mereceu uma iniciativa sequer do Ministério Público Federal.
Em 2013, o MPF aliou-se à Globo para derrubar a PEC 37, que pretendia
restringir seu poder de investigação. A alegação é que o MPF não
poderia ficar a reboque da Polícia Federal, quando percebesse pouco
empenho nas investigações.
A PF abafou o caso do helicóptero. E o MPF esqueceu.
José Serra
A recente decisão da Justiça, de anular a condenação dos réus do
chamado “buraco do Metrô”, escondeu um escândalo ainda maior. Os réus
eram funcionários menores das três empreiteiras envolvidas – Odebrecht,
Camargo Correia e OAS.
Fontes que acompanharam as investigações, na época, contam que a
intenção inicial do Ministério Público Estadual era indiciar os
presidentes das companhias. Houve uma árdua negociação política,
conduzida por instâncias superiores do Estado, que acabou permitindo que
as empreiteiras indicassem funcionários de escalão inferior. O custo da
operação teria sido de R$ 15 milhões, divididos irmãmente entre as três
empreiteiras.
O governador da época era José Serra.
Na Operação Castelo de Areia (que envolveu a Camargo Correia, e que
foi anulada graças a um trabalho político do advogado Márcio Thomas
Bastos) havia indícios veementes do pagamento de R$ 5 milhões pela
empreiteira. Agora, a delação da Odebrecht menciona quantia similar.
Interromperam a delação do presidente da OAS, mas não seria difícil que
revelasse os detalhes.
São bolas quicando na área do PSDB e que dificilmente serão aproveitadas pela Lava Jato ou pelo PGR.
Peça 3 – os desdobramentos da delação de Cunha
Desdobramento 1 - Temer
Eduardo Cunha é obcecado, mas não rasga dinheiro. Tem noção clara de
seus limites. Sabe que uma delação só aliviará suas penas se aceita pela
Lava Jato ou pelo PGR.
Como existe o privilégio de foro para políticos com mandato ou
cargos, o árbitro para as delações envolvendo o andar de cima é o PGR
Rodrigo Janot. O conteúdo das delações dependerá muito mais das
intenções de Janot e da Lava Jato do que do próprio Cunha.
Portanto, todos os desdobramentos da prisão de Cunha dependerão nas
relações entre PSDB-mídia-Judiciário e a camarilha dos 6 (Temer, Cunha,
Jucá, Geddel, Padilha, Moreira Franco) que assumiu o controle do país.
Poderá haver acertos de conta pessoais de Cunha com um Moreira
Franco, por exemplo, que poderá ser defenestrado sem danos maiores ao
grupo de Temer.
Mas qualquer ofensiva mais drástica sobre o grupo teria que ser
amarrada, antes, com a mídia (especialmente Globo), com o PSDB e sentir
os ventos do STF (Supremo Tribunal Federal). São esses os parâmetros que
condicionam os movimentos da Lava Jato e da PGR.
Temer tem se revelado um presidente abaixo da crítica. Mas ainda é
funcional, especialmente se entregar a PEC 241. A cada dia, no entanto,
amplia seu nível de desgaste. Em um ponto qualquer do futuro se tornará
disfuncional. E aí a arma Eduardo Cunha poderá ser sacada pelo PGR.
Desdobramento 2 – Lava Jato
A Lava Jato vive seus últimos momentos de glória. Seu reinado termina
no exato momento em que pegar Lula. Justamente por isso, é possível que
queira tirar alguns fogos de artifício da gaveta para o pós-Lula.
À medida em que se esgote, os tribunais superiores passarão a rever
suas ilegalidades, a fim de poupar os políticos até agora não atingidos
por ela.
Mas ainda é uma caixa de Pandora.
Desdobramento 3 – as novas lideranças
A prioridade total é a inabilitação e/ou prisão de Lula.
Só depois disso é que haverá o novo realinhamento político, e aí com novo atores.
Do lado do PSDB:
1. Geraldo Alckmin subindo, depois da vitória de João Dória Jr.
2. Aécio em queda, pelos indícios de crime, mesmo não levando a consequências legais.
3. Serra fora do jogo, tentando decorar siglas de organizações multilaterais, sem apoio no PSDB e no DEM.
Do lado das oposições:
1. Já está em formação um núcleo de
governadores progressistas, visando costurar estratégias e alianças
acima das executivas dos partidos. Anote que daqui para a frente
tenderão a ter um protagonismo cada vez maior na cena política,
substituindo as estruturas partidárias, imobilizadas em lutas internas.
2. Ciro Gomes é o opositor de maior
visibilidade, até agora, mas mantendo o mesmo estilo carbonário da
juventude. Suas verrinas contra Temer fazem bem ao fígado, mas preocupam
as mentes mais responsáveis.
3. Há uma tendência de crescimento
de Fernando Haddad, prefeito derrotado nas últimas eleições. Na
expressão do governador baiano Rui Costa, Haddad caiu para cima. Sua
avaliação, no MEC e na prefeitura de São Paulo, crescerá com o tempo.
Original disponível em: (http://jornalggn.com.br/noticia/xadrez-do-fator-eduardo-cunha). Acesso
em 22/out/2016.
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