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AberturaMundoJuridico 30/dez/2016...

Emir Sader
Colunista do 247, Emir Sader é um dos princOs Estados Unidos prepararam os golpistas

Os EUA prepararam os golpistas de 1964 desde a ida das tropas brasileiras à Italia, no final da Segunda Guerra Mundial. Castelo e Branco e Golbery foram encarregados de fundar a Escola Superior de Guerra que, com a Escola das Américas, no Panamá, formaram a alta oficialidade das FFAA brasileiras na Doutrina de Segurança Nacional – e nos métodos de tortura –, que deram as diretrizes que desembocaram no golpe de 1964 e na ditadura militar que comandou o pais durante 21 anos.
Foi a mentalidade que militarizou o
Estado brasileiro, fazendo do SNI o seu eixo, para controlar e reprimir
tudo o que lhes aparecesse como sintoma de conflito, de contradição, de
divergência, que se enfrentasse à visão totalitária de que quem se
opusesse ao Estado militar seria agente subversivo e deveria ser
extirpado.
Na pós-guerra fria, com o fim do
campo socialista e da URSS, os EUA buscaram seu novo inimigo, figura
essencial para canalizar os males do pais em algum inimigo externo. O
narcotráfico, o terrorismo, passaram a desempenhar esse papel de
exorcismo para os EUA.
Como parte da luta contra o
terrorismo, com toda a abrangência que George W. Bush passou a dar ao
tema – que fez com que até a Tríplice Fronteira fosse incluída na lista
de organizações terroristas -, desenvolveu-se um campo de atividade
chamado de “contraterrorismo”, como parte da função de “policia do
mundo” que os EUA assumiram quando passaram a ser a única super potência
A lavagem de dinheiro passou a fazer
parte dessa ação, na suposta crença de que o terrorismo lavasse os seus
recursos. Passou-se à “investigação e punição nos casos de lavagem de
dinheiro, incluindo a cooperação formal e informal entre os países,
confisco de bens, métodos para extrair provas, negociação de delações ,
uso de exame como ferramenta , e sugestões de como lidar com
Organizações Não Governamentais (ONGs) suspeitas de seres usadas para
financiamento ilícito”.
No seminário “Projeto Pontes:
construindo pontes para a aplicação no Brasil” , - cujo teor foi
revelado pelo Wikileaks, - realizado em outubro de 2009, realizado em
pleno Rio de Janeiro, com a presença de autoridades norte-americanas, de
formação do novo pessoal a serviço do Império, para consolidar
treinamento bilateral de aplicação e habilidades praticas de
contraterrorismo. Participavam no treinamento promotores e juízes
federais de 26 estados brasileiros, além de 50 policiais federais de
todos os estados entre outros, na maior delegação de países, que contava
também com representantes do Mexico, da Costa Rica, da Argentina, do
Panamá, do Uruguai e do Paraguai.
No meio dos trabalhos, intervém
Sergio Moro, que fala sobre os “cinco pontos mais comuns acerca da
lavagem de dinheiro no Brasil”. “Os participantes requisitaram
treinamento adicional, sobre a coleta de evidenciais, entrevista e
interrogatório, habilidades usadas nos tribunais”. Esse interesse se
daria porque “a democracia brasileira não alcança 20 anos de idade.
Assim os juízes federais, promotores e advogados brasileiros são
iniciantes no processo democrático, não foram treinados em como lidar
com longos processos judiciais (...) e se encontram incapazes de
utilizar eficazmente o novo código criminal que foi alterado
completamente”.
O informe pede, nos resultados da
reunião, que se ministrem cursos mais aprofundados em Sao Paulo,
Curitiba e Campo Grande. O relatório conclui que “o setor judiciário
brasileiro claramente está muito interessado na luta contra o
terrorismo, mas precisa de ferramentas e treinamento para empenhar
forcas eficazmente. (...) Promotores e juízes especializados conduziram
no Brasil os casos mais significativos envolvendo corrupção de
indivíduos de alto escalão”.
O surgimento de governos que
contrariam as orientações dos EUA foi a oportunidade para adaptar essas
orientações a projetos de desestabilização desses governos, apoiado em
ações que se concentrem na denúncia de supostas irregularidades
cometidas por esses governos, pelos partidos que os apoiam e por seus
lideres. A contribuição de Moro foi a de usar os métodos que aprenderam
com os norte-americanos – que incluíam ja o uso das delações, entre
outros métodos – para destruir a democracia, reconstruída depois do
esgotamento das ditaduras militares, instaladas pela geração anterior de
golpistas formados pelos EUA.
Os dados revelados pelo Wikileaks, a
começar por essa reunião de 2009, devem ser investigados pelo Congresso
brasileiro, como a mais escandalosa intervenção nos assuntos internos
do pais, violando sua soberania, com a participação de membros do
Judiciário e da Polícia Federal. Como preparação, pelos EUA, da nova
violação da democracia brasileira, valendo-se dos seus agentes internos.
Original disponível em: (http://www.brasil247.com/pt/blog/emirsader/272365/Os-Estados-Unidos-prepararam-os-golpistas.htm). Acesso em 30/dez/2016.
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