Postagem 24/out/2016...
Congressistas dos EUA denunciam a ilegalidade do impeachment
por Miguel Martins, com Eduardo Graça
—
publicado
22/07/2016 09h59,
última modificação
22/07/2016 18h09
Em carta a John Kerry, 37 parlamentares pedem ao secretário de Estado que se abstenha de declarações favoráveis a Temer
Montagem
Figueiredo, Dilma e Kerry: disputa política
Nos Estados Unidos, a denúncia sobre a farsa do impeachment de Dilma Rousseff, encampada por grandes jornais como o The New York Times, ganha força agora entre parlamentares norte-americanos.
Em
carta destinada a John Kerry, secretário de Estado, 37 congressistas
[eram 33 quando esta reportagem foi publicada] do Partido Democrata e
diversas entidades sociais e sindicatos, entre eles a influente
Federação Americana do Trabalho e Congresso de Organizações Industriais,
pedem ao integrante do governo de Barack Obama e provável representante
norte-americano nas Olimpíadas do Rio de Janeiro para lidar de forma
cautelosa com as “autoridades interinas” brasileiras
e de se abster de declarações ou ações passíveis de serem vistas como
um apoio dos Estados Unidos à campanha contra a presidenta eleita. É
previsto um crescimento do número de adesões à missiva até a
segunda-feira 25.
“Nosso governo deve expressar sua forte preocupação com as circunstâncias que envolvem o processo de impeachment e exigir a proteção da Constituição democrática no Brasil”, afirmam os signatários do documento ao qual CartaCapital teve acesso.
A carta será endereçada a Kerry na segunda-feira 25, mas teve o
conteúdo antecipado após seu vazamento para a embaixada do Brasil em
Washington. Ao receber a missiva, o Luiz Alberto Figueiredo Machado,
embaixador do Brasil nos EUA, encaminhou uma réplica aos signatários na
quarta-feira 20, na qual defende a legalidade do processo de impeachment.
O esforço de Machado em convencer os congressistas a rever sua
posição mostra como a carta é incômoda para o governo interino. A
estratégia não deu certo. Em tréplica, o deputado democrata Alan Grayson
afirmou esperar que a correspondência dos parlamentares “ajude a
Administração a rever sua posição política em relação ao que aconteceu
no Brasil”.
“Este não é um julgamento legal, mas político, onde dois terços de um
Senado tomado pela corrupção podem dar fim ao mandato de Dilma”,
afirmam os parlamentares e entidades na correspondência a Kerry. “O processo de impeachment está sob críticas de irregularidades
de procedimentos, corrupção e motivações políticas desde seu início. O
governo dos EUA deveria expressar sua preocupação sobre a ameaça às
instituições democráticas que se desdobra em um dos nossos mais
importantes aliados econômicos e políticos da região.”
A carta tece duras críticas ao presidente interino: “Michel Temer
chegou ao poder e imediatamente substituiu uma administração
progressista, diversa e representativa por outra que inclui apenas homens brancos
a anunciar planos de impor a austeridade, a privatização e uma agenda
de extrema-direita”. O documento lista ainda o pacote de maldades
prometido pelo governo interino e a “divisão profunda” da sociedade
brasileira.
A carta relata também a queda do ex-ministro Romero Jucá
por causa da divulgação de sua conversa com Sérgio Machado, operador do
PMDB na Lava Jato e um dos delatores da operação, e registra a decisão
do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo que considerou Temer
ficha-suja e o tornou inelegível, “incluindo para o cargo que atualmente
ocupa”, por oito anos.
Os congressistas e entidades alertam Kerry do fato de Dilma Rousseff jamais ter sido acusada de corrupção
e que as pedaladas fiscais, motivo alegado para seu afastamento, são
“práticas utilizadas largamente em todos os níveis de governo no Brasil,
incluindo seus dois antecessores”.
Em conclusão, os congressistas e entidades se dizem preocupados com
os sinais emitidos pelo governo americano que “podem ser interpretados
como um apoio” ao afastamento de Dilma. “Pelo fato de muitos brasileiros
terem rotulado o processo de impeachment como um ‘golpe’ contra a
presidenta brasileira eleita, é especialmente importante que as ações
dos EUA não sejam interpretadas como favoráveis ao impeachment.”
Eles lembram ainda que, em 19 de abril, dois dias após a Câmara dos
Deputados ter votado o afastamento de Dilma, o senador Aloysio Nunes
(PSDB-SP) reuniu-se com Thomas Shannon, subsecretário de Estado para
Assuntos Políticos. “Essa medida foi interpretada como um gesto de apoio
ao afastamento de Dilma do cargo.”
Ao saber do conteúdo da carta, o embaixador Figueiredo enviou a
réplica a cada um dos congressistas afirmando estar “surpreso”.
“Permita-me esclarecer que o processo de impeachment de Dilma
Rousseff está sendo realizado de acordo com as exigências da lei
brasileira”, afirma o diplomata. “A Constituição brasileira está sendo
respeitada de forma rigorosa pelas três esferas de governo, um fato que
pode ser corroborado a partir de uma análise cuidadosa e imparcial.”
"Eu sublinho que a firme batalha contra a corrupção tem o apoio da
grande maioria da população brasileira e tem gerado demonstrações de
admiração e apreciação da comunidade internacional", emenda o
embaixador, para então defender o interino. "Temer expressou publica e
repetidamente seu comprometimento na luta contra a corrupção e em manter
o ritmo das investigações em curso no Brasil livres de qualquer tipo de
viés político ou partidário".
Em uma linha semelhante à desqualificação do New York Times por seus editoriais críticos ao impeachment,
o embaixador afirma que considerar o processo manchado por
“irregularidades, corrupção e motivações políticas” revela
“desconhecimento do sistema jurídico brasileiro”. A carta segue o
discurso falacioso. “O respeito às regras orçamentárias esteve presente
no Brasil em cada Constituição brasileira como um dever que um dirigente
público não pode negligenciar.” O festival de enganação não arrefece
até o último alento.
“O embaixador não reconhece problema algum com o processo, apesar de
diversas organizações internacionais, veículos de mídia, intelectuais,
acadêmicos, organizações da sociedade civil, artistas, mulheres e grupos
de direitos humanos terem manifestado uma séria preocupação com a falta
de transparência do processo”, diz Maria Luísa Mendonça, coordenadora
da rede Social Justiça e Direitos Humanos.
Resta saber se Kerry, também democrata, se sensibilizará com a
denúncia de seus correligionários quando vier ao Brasil para os Jogos
Olímpicos.
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Original disponível em: (http://www.cartacapital.com.br/revista/911/em-carta-deputados-americanos-criticam-o-impeachment-de-dilma?utm_content=buffere8253&utm_medium=social&utm_source=twitter.com&utm_campaign=buffer). Acesso em 24/out/2016.
Original disponível em: (http://www.cartacapital.com.br/revista/911/em-carta-deputados-americanos-criticam-o-impeachment-de-dilma?utm_content=buffere8253&utm_medium=social&utm_source=twitter.com&utm_campaign=buffer). Acesso em 24/out/2016.
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