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Exposição sobre François Truffaut revela o universo dos filmes - e as musas - do diretorp4g
'Truffaut': um cineasta apaixonado esmiúça o universo do gênio francês – com atenção especial a suas musas
RUAN DE SOUSA GABRIEL
17/07/2015 - 08h00 - Atualizado 17/07/2015 15h08
Em 1959, aos 27 anos, François Truffaut exibiu seu primeiro filme no Festival de Cannes e levou para casa o prêmio de Melhor Diretor. Os incompreendidos contava a história de Antoine Doinel, um garoto de 14 anos que preferia as salas de cinema às salas de aula. Doinel, interpretado pelo ator Jean-Pierre Léaud,
era um alter ego de Truffaut. Acendia velas para o escritor francês
Honoré de Balzac (1799-1850) e roubava fotos de Harriet Andersson, a
atriz sueca que enlouquecia os homens em Monika e o desejo,
um dos filmes mais ousados de Ingmar Bergman (1918-2007). Truffaut
queria contar histórias como Balzac e retratar mulheres fortes como
Bergman. Uma exposição que chega a São Paulo na próxima semana mostra
que ele conseguiu.
Truffaut: um cineasta apaixonado chega ao Museu da Imagem e Som (MIS)
depois de uma temporada na Cinemateca Francesa, em Paris. A exposição
reúne mais de 600 itens como livros, revistas, recortes de jornal,
entrevistas, fotografias, anotações, croquis de figurinos, cartas,
objetos pessoais e até o vídeo do teste de elenco de Léaud. Todas as
peças foram doadas à Cinemateca pela família de Truffaut – o cineasta
também tinha pendor de arquivista. André Sturm, diretor do MIS, afirma
que a exposição paulistana é bem diferente da que esteve em cartaz em
Paris: “A nossa versão permite que a experiência dos visitantes seja
mais divertida”. Na Cinemateca, a exposição se resumia a vitrines e
objetos pendurados nas paredes. Em São Paulo, os cinéfilos
percorrerão os corredores do MIS como se estivessem passeando por um
filme. A versão brasileira também mudou de nome. Na França, era
simplesmente François Truffaut. No Brasil, como o título sugere, a exposição
permite que se explorem as paixões do diretor. Uma delas, claro, é o
cinema. Outra, ainda mais intensa, são as mulheres. Poucos diretores se
envolveram romanticamente com tantas atrizes. E, provavelmente, nenhum
levou tantas personagens femininas fortes e fascinantes às telas.
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Ao contrário da exposição francesa, a brasileira traz um setor
totalmente destinado às musas de Truffaut. Ele recebeu o sugestivo nome
de “Peeping” (“espiadinha”,
numa tradução livre) e exibe imagens das atrizes com as quais o cineasta
trabalhou – e que, em muitos casos, amou. “É uma sala que remete ao
voyeurismo e representa a paixão de Truffaut pelas mulheres bonitas”,
afirma Sturm. Truffaut se apaixonou por várias de suas atrizes, como Catherine Deneuve, que dirigiu em A sereia do Mississippi e O último metrô. Ele também se envolveu com Marie-France Pisier (1944-2011) e Claude Jade (1948-2006), que interpretaram namoradas de Antoine Doinel no cinema. Marie-France e Claude atuaram juntas no antológico Amor em fuga,
que passa em revista a vida sentimental de Doinel – e, por tabela, a do
próprio Truffaut. Em 1983, Truffaut teve uma filha com Fanny Ardant,
que atuou em A mulher ao lado e De repente, num domingo.
Não é difícil imaginar por que, em 1977, Truffaut rodou um filme chamado O homem que amava as mulheres,
que traz Charles Denner (1926-1995) na pele de um dom-juan que se
distraía espiando as pernas femininas. “Para mim, não existe nada mais
bonito de ver do que uma mulher andando”, afirma Denner, numa das cenas
mais famosas do filme. “As pernas das mulheres são compassos que
percorrem o globo terrestre em todos os sentidos, dando-
lhe equilíbrio e harmonia.”>> Woody Allen: “Faço filmes para distrair as pessoas dos horrores”
A paixão de Truffaut pelas mulheres é a mesma paixão que o imberbe Antoine Doinel sentia pela emancipada Harriet Andersson em Os incompreendidos. Monika e o desejo chegou
às telas em 1953 e escandalizou plateias com cenas de nudez e uma
protagonista que lidava naturalmente com a sexualidade. O filme de
Bergman antecipou a maneira como Truffaut e os jovens cineastas
franceses se relacionavam com suas atrizes e retratavam as mulheres –
como senhoras de seu próprio desejo, e não apenas como objetos do desejo
masculino. “Os filmes de Truffaut traziam mulheres fortes, decididas,
que tomavam as rédeas da própria vida. O que desencadeava a ação era o
desejo dessas mulheres”, afirma Pedro Maciel Guimarães – que, em
setembro e outubro, ministrará o curso Truffaut, o Homem Que Amava as
Atrizes... e Jean-Pierre Léaud, em São Paulo.
Truffaut era um cineasta que valorizava os roteiros, como se fosse um
Balzac moderno. “Ele era apaixonado pelo lado literário do cinema, pela
possibilidade de contar uma história que envolvesse o espectador e o
convidasse a interagir com o que se passava na tela”, afirma Guimarães,
doutor em cinema e audiovisual pela Universidade Sorbonne Nouvelle
(Paris III). Ao contrário de Jean-Luc Godard – o filho rebelde da
nouvelle vague, que transformou seu cinema em arma revolucionária
–,Truffaut preferia contar histórias de amor e recorria sempre à
literatura (os dois cineastas, aliás, nutriram uma rivalidade sangrenta
ao longo da vida, até o ponto em que deixaram de se falar). “Truffaut
era um escritor do cinema ou um escritor cineasta. Os livros eram, para
ele, um material vivo”, diz Serge Toubiana, diretor da Cinemateca.
Toubiana foi o curador da exposição parisiense e fará uma palestra no
MIS na segunda-feira, dia 13, um dia antes da abertura da mostra.
Truffaut se esforçava para ser fiel aos textos literários. Fahrenheit 451, de 1966, adaptação da distopia de Ray Bradbury, é o melhor exemplo do respeito de Truffaut pela palavra do escritor.
Jules e Jim,
filme de 1962, um dos preferidos dos fãs do cineasta, é uma adaptação
do livro de Henri-Pierre Roché (1879-1959). Conta a história de dois
amigos, um francês e um alemão, que se apaixonam pela mesma mulher, a
emancipada Catherine (Jeanne Moreau). Truffaut também não resistiu aos
encantos da atriz – embora ambos fossem casados. O diretor respeita o
texto e os personagens da obra. A Catherine cinematográfica de Truffaut e
a Catherine literária de Roché são bem parecidas, e a presença de um
narrador foi o recurso usado para transpor o texto literário para a
tela. Jules e Jim terá um espaço especial na exposição que desembarca em São Paulo.
A maior das homenagens “ao cineasta apaixonado”, seu cinema e suas
mulheres estará na sala redonda do MIS. No alto da parede estarão 20
telas que vão mostrar cenas de um de seus filmes. Cada tela exibirá a
cena com cinco segundos de diferença da anterior. Quem ficar parado em
frente a um dos monitores assistirá ao desenrolar da história. Os que
optarem pela visão 360 graus terão a impressão de que o filme todo está
acontecendo naquele exato momento – e que são parte dele. “O cinema é a
ilusão da imagem em movimento. Vamos criar essa ilusão ao vivo”, afirma
Sturm. Quem já é apaixonado por Truffaut se sentirá no meio de um de
seus filmes. Quem ainda não é corre o risco de se encantar pelo
cineasta. Ou por Catherine Deneuve, Marie-France Pisier, Jeanne Moreau,
Claude Jade, Fanny Ardant...
Ela enlouqueceu os cinéfilos – e Truffaut – como a Catherine de Jules e
Jim. Os dois tiveram um romance durante as filmagens. Ambos eram
casados(Foto: Archivio Cameraphoto Epoche/Getty Images)
A personagem não ligava para o mocinho em Amor aos 20 anos, mas a atriz arrebatou o coração de Truffaut (Foto: Popperfoto/Getty Images)
A última mulher de Truffaut, com quem teve uma filha em 1983, um ano
antes da morte dele(Foto: Jean-Claude Deutsch/Paris Match via Getty
Images)
Truffaut recorreu aos antidepressivos depois que a atriz terminou o
romance (Foto: Francois Gragnon/Paris Match via Getty Images)
A namoradinha gentil e inocente do filme Beijos proibidos foi noiva de Truffaut (Foto: Lido/Sipa/AP)
Original disponível em: (http://epoca.globo.com/vida/noticia/2015/07/exposicao-sobre-francois-truffaut-revela-o-universo-dos-filmes-e-musas-do-diretor.html). Acesso
em: 05/ago/2015.
Um comentário:
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