Postagem 27/jun/2015...

Luiz Fernando Veríssimo, hoje, em O Globo:
Não vi a entrevista do Jô com a Dilma, mas, conhecendo o Jô, sei que ele não foi diferente do que é no seu programa: um homem civilizado, sintonizado com seu tempo, que tem suas convicções — muitas vezes críticas ao governo — mas respeita a diversidade de opiniões e o direito dos outros de expressá-las. Que Jô fez uma matéria jornalística importante e correta, não é surpresa. Como não é surpresa, com todo esse vitríolo no ar, a reação furiosa que causou pelo simples fato de ter sido feita.
Veríssimo: o ódio ao PT está no DNA da classe dominante, que derruba tudo que a ameace
25 de junho de 2015 | 20:59 Autor: Fernando Brito

Luiz Fernando Veríssimo, hoje, em O Globo:
Ódio
Não vi a entrevista do Jô com a Dilma, mas, conhecendo o Jô, sei que ele não foi diferente do que é no seu programa: um homem civilizado, sintonizado com seu tempo, que tem suas convicções — muitas vezes críticas ao governo — mas respeita a diversidade de opiniões e o direito dos outros de expressá-las. Que Jô fez uma matéria jornalística importante e correta, não é surpresa. Como não é surpresa, com todo esse vitríolo no ar, a reação furiosa que causou pelo simples fato de ter sido feita.
A deterioração do debate político
no Brasil é consequência direta de um antipetismo justificável, dado os
desmandos do próprio PT no governo, e de um ódio ao PT que ultrapassa a
razão. O antipetismo decorre, em partes iguais, da frustração sincera
com as promessas irrealizadas do PT e do oportunismo político de quem
ataca o adversário enfraquecido. Já o ódio ao PT existiria mesmo que o
PT tivesse sido um grande sucesso e o Brasil fosse hoje, depois de 12
anos de pseudossocialismo no poder, uma Suécia tropical. O antipetismo é
consequência, o ódio ao PT é inato. O antipetismo começou com o PT, o
ódio ao PT nasceu antes do PT. Está no DNA da classe dominante
brasileira, que historicamente derruba, pelas armas se for preciso, toda
ameaça ao seu domínio, seja qual for sua sigla.
É inútil tentar debater com o
ódio exemplificado pela reação à entrevista do Jô e argumentar que, em
alguns aspectos, o PT justificou-se no poder. Distribuiu renda, tirou
gente da miséria e diminuiu um pouco a desigualdade social — feito que,
pelo menos pra mim, entra como crédito na contabilidade moral de
qualquer governo. O argumento seria inútil porque são justamente estas
conquistas que revoltam o conservadorismo raivoso, para o qual “justiça
social” virou uma senha do inimigo.
Tudo isto é lamentável mas
irrelevante, já que o próprio Lula parece ter desesperado do PT. Se é
verdade que o PT morreu, uma tarefa para investigadores do futuro será
descobrir se foi suicídio ou assassinato. Ele se embrenhou nas suas
próprias contradições e nunca mais foi visto ou pensou que poderia ser a
primeira alternativa bem-sucedida ao domínio dos donos do poder e
acordou um dia com um tiro na testa?
De qualquer maneira, será uma história triste.
Original disponível em: (http://tijolaco.com.br/blog/?p=27812). Acesso
em: 27/jun/2015.
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