Postagem 18/jun/2015...
“Roma Locuta est, Causa Finita Est” – Santo Agostinho não disse isto?
INTRODUÇÃO
Primeiro, começaremos com a frase, tão frequentemente usada por católicos: “Roma locuta est, Causa finita est”, traduzido: “Roma falou, a causa está encerrada.”.
Esta frase é usada a séculos, e conhecida por muitos católicos e não
católicos. Porém mais recentemente como uma descoberta a um tesouro,
alguns protestantes estão bradando aos montes como seres “iluminados”
afirmando que “Agostinho não disse isso”, e que isso “é falsificação católica”.
Eu já citei essa frase em latim várias vezes, e de repente encontro
protestantes protelando, afirmando que isso não é verdade. É realmente
uma falsificação?
A VERDADE
De fato Santo Agostinho não “usou essas palavras”,
pelo menos não todas elas, mas o seu discurso em si realmente quer diz
isto. A frase que vem do Sermão 131,10 de Santo Agostinho, no latim é:
“jam enim de hac causa duo concilia missa sunt ad sedem apostolicam; inde etiam rescripta venerunt; causa finita est”
Traduzido, lê-se:
“. . . pois sobre este assunto dois concílios já foram enviados à Sé Apostólica, de onde também rescritos [relatórios] chegaram. A causa está encerrada.”
O QUE SANTO AGOSTINHO REALMENTE DISSE?
Santo
Agostinho estava dizendo que as atas de dois Concílios (dos bispos
africanos) tinham sido enviadas para Roma (a Sé Apostólica) e Roma
respondeu enviando relatórios (rescritos - em outras palavras, “falou”),
e sobre isso a causa estava encerrada. Ou seja depois que Roma enviou a
resposta a causa se deu por encerrada, pois ali estava a autoridade
final. Isto é uma PARAFRÄSE, que já foi explicada pelo falecido Dom
Estevão Bitencourt antes mesmo de iluminados protestantes acharem que os
católicos estão falsificando algo.
“sedem apostolicam" (Sé Apostólica) = Roma
"inde etiam rescripta venerunt” (Enviou rescritos) = Locuta est (falou)
“causa finita est” = causa finita est (a causa está encerrada)
Assim,
mesmo que Santo Agostinho não tenha usado todas “essas palavras”, ele
realmente quis dizer isto. Os católicos que desejam usar a paráfrase de “roma locuta est, Causa finita est”,
podem usar normalmente, mas devem, então, estar cientes de que é uma
paráfrase para não ser pego de surpresa, por alegações protestantes.
RENOMADOS HISTORIADORES PROTESTANTES ADMITEM A FRASE
Sendo
essa frase um resumo preciso, embora não uma citação direta das
palavras de Santo Agostinho, é totalmente admitida nas notas da edição
Padres da Igreja feitas por um dos mais conhecidos historiadores
protestantes, Philip Schaff:
“Daí
a famosa palavra: ‘Roma locuta est, Causa finita est’, o que é
frequentemente citado como um argumento para o moderno dogma do Vaticano
da infalibilidade papal. Mas ela não é encontrada desta forma, embora possamos admitir que é uma condensação epigramática das sentenças de Agostinho. A abordagem mais próxima a isso esta em seu Sermão CXXXI [131] ....”(NPNF Série 1, Volume 1, página 21, nota 64)
Outro
protestante renomado é J.N.D. Kelly, que é dos maiores estudiosos
patrísticos do século XX, e anglicano, escreve em seu clássico trabalho
“Doutrina Cristã” (Harper San Francisco, 1978):
“Segundo
ele [Santo Agostinho], a Igreja é o reino de Cristo, o Seu corpo
místico e sua noiva, a mãe dos cristãos [Ep 34, 3; SERM 22, 09] Não há salvação fora dela;
Cismáticos podem ter a fé e os sacramentos... mas não podem ter um uso
benéfico, pois o Espírito Santo só é concedido na Igreja [de bapt 4, 24;
7:87; anúncio Serm Caes 6]... Isto vai sem dizer que Agostinho
identifica a Igreja com a Igreja Católica universal de seu tempo, com
sua hierarquia e os sacramentos, e com seu centro em Roma... Por
meio do século V a Igreja Romana tinha estabelecido, de jure, bem como
de facto, uma posição de primazia no Ocidente, e as reivindicações
papais a supremacia sobre todos os bispos da cristandade havia sido
formulada em termos precisos .... o estudante traçando a
história dos tempos, particularmente dos donatistas, Arianos,
pelagianos e as controvérsias cristológicas, não pode deixar de ficar
impressionado com a habilidade e persistência com que a Santa Sé [de
Roma] ia continuamente avançando e consolidando as suas reivindicações.
Desde que seu ocupante foi aceito como o sucessor de São Pedro, e
príncipe dos apóstolos, era fácil tirar a conclusão da única autoridade
que Roma, de fato tinha, e o que os papas viram concentrados em suas
pessoas e seu ofício, não era mais do que o cumprimento do plano divino.” (Kelly, página 412, 413, 417)
De acordo com as declarações de JND Kelly, podemos tirar as seguintes conclusões, sobre o pensamento de Santo Agostinho:
1) o Bispo de Roma, como sucessor de São Pedro, tem a primazia jurisdicional da Igreja;
2)
o Papa nesta posição tem a palavra final em questões de doutrina, e foi
de fato o árbitro final da verdade e, portanto, infalível;
3)
A frase “Roma falou, a causa está encerrada” é de fato um resumo
preciso de sua crença sobre o assunto (de seu Sermão 131, 10);
Assim,
duas das maiores autoridades do meio protestante sobre a Igreja
Primitiva, admitem categoricamente que Santo Agostinho realmente queria
falar “Roma Locuta est, Causa Finita Est”.
CONCLUSÃO
Agora
entramos em um dilema: Em quem acreditar? Em protestantes
anti-católicos que despejam desinformação em blogs com textos copiados e
requentados, ou em dois dos mais mais renomados estudiosos, tradutores e
historiadores do meio protestante? Que o leitor decida.
PARA CITAR
RODRIGUES, Rafael. Apologistas Católicos:“Roma Locuta est, Causa Finita Est” – Santo Agostinho não disse isto? . Disponível em: <http://www.apologistascatolicos.com/index.php/patristica/estudos-patristicos/562-roma-locuta-est-causa-finita-est--santo-agostinho-nao-disse-isto> Desde: 15/02/2013.
Original disponível em: (http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/patristica/controversias/562-roma-locuta-est-causa-finita-est-santo-agostinho-nao-disse-isto). Acesso
em: 18/jun/2015.
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