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domingo, 15 de fevereiro de 2015

O Brasil não é um lixo (Paulo Germano)

15/fev/2015...

Paulo Germano: o Brasil não é um lixo

Leia a coluna publicada nesta quinta-feira em ZH

Essa conversa de que o Brasil é um horror, um paisinho de quinta, um amontoado de gente malandra e safada. Ouço e leio todo dia a mesma tese – e todo dia ela me faz mal.
Se o brasileiro tem um defeito, se tem algo que o torna pior do que o americano, ou o alemão, ou o italiano, ou o japonês, trata-se de uma absoluta falta de amor-próprio. Um problema patológico, uma autoestima de rato rodriguiano. Nem Freud explicaria a convicção com que o brasileiro insulta o seu país. Por que tanto desprezo pela pátria?
Por causa da corrupção?
Ora, por favor. Se até no Vaticano, onde os santos são eleitos, é preciso um papa cair para a roubalheira recuar; se até na Suíça, federação tão aclamada, a economia se alimenta do dinheiro mais sujo do planeta; se até na Itália, onde o Ocidente tomou forma, floresceram a máfia, a Camorra, Mussolini e Berlusconi; me diga, de onde vem essa ideia de que o Brasil é a sociedade mais podre do mundo?
Ah, é o "jeitinho brasileiro", alguém dirá. Só que o jeitinho brasileiro não é só brasileiro, ele habita também o Uruguai e a Argentina, onde essa mania de obter vantagens driblando regras recebe o nome de viveza criolla – o gol de mão de Maradona, na Copa de 86, é um simbólico exemplo de viveza criolla.
O brasileiro, vá por mim, não é mais safado do que ninguém.
Agora, claro, se você tomar de modelo a Suécia ou os Estados Unidos, vira covardia. O Brasil percorreu séculos de regimes arbitrários e governos tirânicos, convive há apenas 30 anos com a democracia. É natural, portanto, que sua gente ainda não tenha introjetado por completo valores democráticos avessos ao tal jeitinho. Nem por isso somos um bando de sem-vergonha. Pelo contrário: poucas democracias atravessam evolução tão evidente.
Nunca se investigou tanto a corrupção, as instituições têm independência, os saqueadores do erário vão para a cadeia, a população protesta por direitos, o jeitinho é cada vez mais contestado, surgem leis como a do Conflito de Interesses, a de Improbidade Administrativa, a de Acesso à Informação, a Lei Anticorrupção.
O atual governo vai mal? Vai. Precisamos de educação? Sem dúvida. Mais segurança? Evidente. Pois que sigamos pedindo, lutando, gritando. Tudo o que conquistamos – e o que vamos conquistar – deve-se ao povo brasileiro. Não fale mal dele. Ele merece respeito. Você merece respeito.

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