quinta-feira, 1 de maio de 2014
Dilma reage tarde, mas não tarde demais
Dizem que a valorização do salário mínimo é um erro do
governo. E por isso defendem a adoção de medidas duras. Sempre contra os
trabalhadores. Nosso governo nunca será o governo do arrocho salarial, nem
o governo da mão dura contra o trabalhador! (Dilma Roussef, rompendo
o silêncio em rede de TV)
Por Rodrigo Vianna
Dilma finalmente falou. Fez um discurso de estadista, para
marcar o Primeiro de Maio. E ao mesmo tempo falou ao povo trabalhador,
demarcando território com a oposição – principalmente com Aécio e os
economistas tucanos que pregam o arrocho e o desemprego como medidas para
“estabilizar a economia”.
O programa dos tucanos e seus parceiros midiáticos, na verdade,
é retomar o Estado para controlar o Pré-Sal, reduzir direitos trabalhistas,
reduzir o papel do Estado na economia, golpear programas sociais, acabar com o
Mercosul, devolver Brasil à órbita de interesses dos EUA.
É a “mexicanização do Brasil”. Esse é o programa que
tucanos, armínios, mervais, aécios e os locutores gagos da CBN e da Globo
querem impor ao Brasil.
Em 2010, Dilma consolidou a vitória quando
deixou a marquetagem de lado. E fez o debate aberto, duro, especialmente no
segundo turno das eleições.
Em 2014, não é possível esperar. É preciso fazer o debate,
agora. Até porque a máquina midiática está mais afiada do que nunca
Um amigo professor escreve, preocupado, pra descrever o que
ouviu esta semana numa estação de rádio em São Paulo: certo blogueiro da “Veja”
ocupa espaço nobre, para “entrevistar” um senador tucano sobre CPI da
Petrobras. O amigo transcreve o diálogo entre blogueiro e senador (não é
literal, mas vale pelo “clima” festivo e efusivo):
Aloysio – Isso mesmo, Reynaldo. Mas essa informação
(sobre Petrobras) você já tinha adiantado no seu blog.
Reinaldo – Nada como ter o blog elogiado por um senador
da República.
Aloysio – Gosto muito do seu blog, eu sou viciado nele.
Ah, os doces vícios… A doce convivência entre os tucanos e
os blogueiros de extrema-direita. E há quem diga que os blogueiros de esquerda
são chapa-branca…
Corta pra conversa com outro amigo, jornalista: “rapaz,
a CBN está um escândalo; ouvi hoje à tarde o tal Sardemberg comentando a
pesquisa CNT, ele comemorava. Depois entraram outros comentaristas, usaram
aquilo pra levantar a bola do Aécio. Aliás, você já reparou que a oposição, os
políticos de oposição, viraram segundo time? O primeiro time, que tem voz e
comanda a oposição, é formado pelos colunistas e jornalistas conservadores. Já
reparou?”
Sim. Eu já reparei. Sardemberg, o único locutor gago do
rádio brasileiro, entrou pra essa turma há algum tempo.
A direita ocupou todos os espaços na comunicação. Disputa
idéias o tempo todo. Bate, critica. Na verdade, sempre foi assim…
Em 89, Lula sofreu esse massacre midiático. 2002 foi
um ano atípico, porque a direita estava atordoada pelo fracasso de FHC. O PT, naquele
início de governo, teria a chance de construir um campo alternativo de
comunicação (Abril e Globo estavam às portas da falência). Não o fez. Em 2006 e
2010, o massacre midiático já havia sido retomado. Mas então havia Lula, a
disputar cada centímetro no debate – pessoalmente.
Dilma fazia um governo extremamente silencioso. Permanecia
calada. Sim, ela e Lula possuem estilos, escolas e qualidades muito diferentes.
Mas na política não existe espaço vazio. Se Dilma não ocupa espaço, a direita
ocupa – apesar de não ter projeto para a maioria dos brasileiros.
Por isso, a importância desse discurso de Primeiro de Maio!
Só que Dilma não pode falar um dia, e voltar a se encastelar
em Brasília. O massacre midiático não será interrompido. É permanente. E os resultados
começaram a surgir.
Há, sim, motivos concretos para alguma preocupação pelo que
se passa na economia: estoques altos, juros em alta, inflação em ligeira alta.
Ok. São fatos. Mas o clima de pessimismo que se espraia é absolutamente
desproporcional aos indicadores principais no país: não há desemprego, a
economia cresce pouco (mas cresce).
Há um “pessimismo induzido”, na definição do jornalista
Janio de Freitas. Induzido pela máquina de comunicação conservadora.
A pesquisa CNT – divulgada esta semana – precisa ser vista
com cuidado: ela é encomendada pela CNT, entidade que tem no comando o tal
Clésio Andrade – político mineiro ligado a Aécio Neves, e acusado de
envolvimento nos esquemas do valerioduto.
Mas não gosto de brigar com os números. A CNT mostra Dilma
em queda (com 37% de intenções de voto). Mais grave: a popularidade da
presidenta caiu abaixo dos 34% de ótimo/bom – considerado piso para quem deseja
a reeleição.
Esses números estão em linha com outras pesquisas (Ibope,
DataFolha, Vox Populi). O ponto fora da curva na CNT é Aécio – que surge com
quase 22%. Nas outras pesquisas, o senador tucano tem 15% ou 16%.
Hum…
A pesquisa cai como uma luva (não estou dizendo que tenha
sido feita sob encomenda) para comentaristas e locutores da CBN – a radio a
serviço de Aécio. A puxada do tucano pra 22% permite dizer que, na margem de
erro, pode haver segundo turno. Ok. Todos sabemos que essa eleição é para dois
turnos mesmo.
Mas o importante é observar que o massacre midiático surte
efeito. E avança.
Muitos petistas parecem torcer pra que Dilma chegue à
Copa com 35% ou 36% das intenções de voto. Contam com o fato de que, durante 45
dias, o massacre seria interrompido – substituído pela bola no gramado. E
depois, na campanha oficial, Dilma teria a chance de equilibrar o jogo
midiático, mostrando suas realizações.
Em 2010, ao fazer a escolha por esse jogo burocrático, Dilma
quase perdeu. Na primeira semana do segundo turno, pesquisas internas chegaram
a apontar Serra a apenas 4 pontos de distância. Dilma consolidou a vitória
quando partiu pra cima. Em 2014, isso é ainda mais urgente – repito.
Aécio tem palanques mais fortes nos Estados do que Serra
tinha em 2010. E a militância petista parece menos disposta ao combate.
Dessa vez, não há margem pra errar. E Dilma já errou demais,
especialmente nas escolhas para a política de Comunicação.
Por isso, o discurso de Primeiro de Maio (confira
aqui, na íntegra) foi tão importante. A presidenta não pode esperar
até a campanha oficial. Tem que reagir desde agora. E começou a reagir. Tarde.
Mas não tarde demais.
Disponível em: (http://esquerdopata.blogspot.com.br/search/label/Rodrigo%20Vianna). Acesso em: 01/mai/2014.
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