25/06/2013
(http://suscetivel.wordpress.com/2013/06/25/stedile-empreiteiras-e-globo-se-apropriaram-de-gastos-exagerados-da-copa/).
STEDILE: EMPREITEIRAS E
GLOBO SE APROPRIARAM DE GASTOS EXAGERADOS DA COPA
VIOMIONDO por Conceição Lemes

por Nilton Viana, no Brasil de Fato
“É hora do governo aliar-se ao povo ou pagará a fatura no
futuro”. Essa é uma das avaliações de João Pedro Stedile, da coordenação
nacional do MST sobre as mobilizações em todo o país.
Segundo
ele, há uma crise urbana instalada nas cidades brasileiras, provocada por essa
etapa do capitalismo financeiro. “As pessoas estão vivendo um inferno nas
grandes cidades, perdendo três, quatro horas por dia no trânsito, quando
poderiam estar com a família, estudando ou tendo atividades culturais”, afirma.
Para o
dirigente do MST, as redução da tarifa interessava muito a todo o povo e esse
foi o acerto do Movimento Passe Livre, que soube convocar mobilizações em nome
dos interesses do povo.
Nesta
exclusiva ao Brasil de Fato, Stedile fala sobre
o caráter dessas mobilizações, e faz um chamamento: devemos ter consciência da
natureza dessas manifestações e irmos todos para as ruas disputar corações e
mentes para politizar essa juventude que não tem experiência da luta de
classes. “A juventude está de saco cheio dessa forma de fazer política
burguesa, mercantil”, constata.
E faz
um alerta: o mais grave foi que os partidos de esquerda institucional, todos
eles, se moldaram a esse métodos. Envelheceram e se burocratizaram. As forças
populares e os partidos de esquerda precisam colocar todas as suas energias
para ir à rua, pois está ocorrendo, em cada cidade, em cada manifestação, uma
disputa ideológica permanente da luta dos interesses de classes. “Precisamos
explicar para o povo quem são seus principais inimigos”.
Como você analisa as recentes manifestações que vem sacudindo o
Brasil nas últimas semanas? Qual é base econômica para elas terem acontecido?
Há muitas avaliações de porque estarem ocorrendo estas manifestações. Me somo à
analise da professora Erminia Maricato, que é nossa maior especialista em temas
urbanos e já atuou no Ministério das Cidades na gestão Olivio Dutra.
Ela
defende a tese de que há uma crise urbana instalada nas cidades brasileiras
provocadas por essa etapa do capitalismo financeiro. Houve uma enorme
especulação imobiliária que elevou os preços dos alugueis e dos terrenos em
150% nos últimos três anos.
O
capital financiou sem nenhum controle governamental a venda de automóveis, para
enviar dinheiro pro exterior e transformou nosso trânsito um caos. E nos
últimos dez anos não houve investimento em transporte público. O programa
habitacional Minha Casa, Minha Vida, empurrou os pobres para as periferias, sem
condições de infraestrutura.
Tudo
isso gerou uma crise estrutural em que as pessoas estão vivendo num inferno nas
grandes cidades, perdendo três, quatro horas por dia no trânsito, quando
poderiam estar com a família, estudando ou tendo atividades culturais.
Somado
a isso, a péssima qualidade dos serviços públicos, em especial na saúde, e
mesmo na educação, desde a escola fundamental, ensino médio, em que os
estudantes saem sem saber fazer uma redação. E o ensino superior virou lojas de
vendas de diplomas a prestações, onde estão 70% dos estudantes universitários.
E do ponto de vista político, por que aconteceu?
Os quinze anos de neoliberalismo e mais os últimos dez anos de um governo de
composição de classes transformou a forma de fazer política refém apenas dos
interesses do capital. Os partidos ficaram velhos em suas práticas e se
transformaram em meras siglas que aglutinam, em sua maioria, oportunistas para
ascender a cargos públicos ou disputar recursos públicos para seus interesses.
Toda
juventude nascida depois das diretas já não teve oportunidade de participar da
política. Hoje, para disputar qualquer cargo de vereador, por exemplo, o
sujeito precisa ter mais de 1 milhão de reais. Deputado custa ao redor de 10
milhões de reais. Os capitalistas pagam, e depois os políticos obedecem. A
juventude está de saco cheio dessa forma de fazer política burguesa, mercantil.
Mas o
mais grave foi que os partidos da esquerda institucional, todos eles, se
moldaram a esses métodos. Envelheceram e se burocratizaram. E, portanto, gerou
na juventude uma ojeriza a forma dos partidos atuarem. E eles tem razão. A
juventude não é apolítica, ao contrário, tanto é que levou a política às ruas,
mesmo sem ter consciência do seu significado.
Estão
dizendo que não aguentam mais assistir na televisão essas práticas políticas,
que seqüestraram o voto das pessoas, baseadas na mentira e na manipulação. E os
partidos de esquerda precisam reapreender que seu papel é organizar a luta
social e politizar a classe trabalhadora. Senão cairão na vala comum da
história.
E porque as manifestações eclodiram somente agora?
Provavelmente tenha sido a soma de diversos fatores de caráter da psicologia de
massas, mais do que alguma decisão política planejada. Somou-se todo o clima
que comentei, mais as denúncias de superfaturamento das obras dos estádios, que
é um acinte ao povo. Vejam alguns episódios. A Rede Globo recebeu do
governo do estado do Rio e da prefeitura, 20 milhões de reais de dinheiro
público para organizar o showzinho de apenas duas horas, no sorteio dos jogos
da Copa das Confederações.
O
estádio de Brasília custou 1,4 bilhão de reais e não tem ônibus na cidade! A
ditadura explícita e as maracutais que a FIFA/CBF impuseram e os governos se
submeteram. A reinauguração do Maracanã foi um tapa no povo brasileiro. As
fotos eram claras: no maior templo do futebol mundial não havia nenhum negro ou
mestiço!
E aí o
aumento das tarifas de ônibus foi apenas a faísca para ascender o sentimento
generalizado de revolta, de indignação. A gasolina para a faísca veio do
governo Gerlado Alckmin, que protegido pela mídia que ele financia e acostumado
a bater no povo impunemente, como fez no Pinheirinho, jogou sua polícia para a
barbárie. Aí todo mundo reagiu.
Ainda
bem que a juventude acordou. E nisso houve o mérito do Movimento Passe Livre,
que soube capitalizar essa insatisfação popular e organizou os protestos na
hora certa.
Por que a classe trabalhadora ainda não foi à rua?
É
verdade, a classe trabalhadora ainda não foi para a rua. Quem está na rua são
os filhos da classe média, da classe média baixa, e também alguns jovens do que
o André Singer chamaria de sub-proletariado, que estudam e trabalham no setor
de serviços, que melhoraram as condições de consumo, mas querem ser ouvidos.
Esses últimos apareceram mais em outras capitais e nas periferias.
A
redução da tarifa interessava muito a todo povo e esse foi o acerto do
MPL. Soube convocar mobilizações em nome dos interesses do povo. E o povo
apoiou as manifestações e isso está expresso nos índices de popularidade dos
jovens, sobretudo quando foram reprimidos.
A
classe trabalhadora demora a se mover, mas quando se move, afeta diretamente ao
capital. Coisa que ainda não começou a acontecer. Acho que as organizações que
fazem a mediação com a classe trabalhadora ainda não compreenderam o momento e
estão um pouco tímidas. Mas acho que enquanto classe, ela também está disposta
a lutar. Veja que o número de greves por melhorias salariais já recuperou os
padrões da década de 80.
Acho
que é apenas uma questão de tempo, e se as mediações acertarem nas bandeiras
que possam motivar a classe a se mexer. Nos últimos dias, já se percebe que em
algumas cidades menores, e nas periferias das grandes cidades, já começam a ter
manifestações com bandeiras de reivindicações bem localizadas. E isso é muito
importante.
E vocês do MST e
camponeses também não se mexeram ainda.
É
verdade. Nas capitais onde temos assentamentos e agricultores familiares mais
próximos já estamos participando. E inclusive sou testemunha de que fomos muito
bem recebidos com nossa bandeira vermelha, com nossa reivindicação de Reforma
Agrária e alimentos saudáveis e baratos para todo povo.
Acho
que nas próximas semanas poderá haver uma adesão maior, inclusive realizando
manifestações dos camponeses nas rodovias e municípios do interior. Na nossa
militância está todo mundo doido para entrar na briga e se mobilizar.
Espero que também se mexam logo.
Na sua opinião, qual é a
origem da violência que tem acontecido em algumas manifestações?
Primeiro
vamos relativizar. A burguesia através de suas televisões tem usado a tática de
assustar o povo colocando apenas a propaganda dos baderneiros e
quebra-quebra. São minoritários e insignificantes diante das milhares de
pessoas que se mobilizaram.
Para a
direita interessa colocar no imaginário da população que isso é apenas bagunça
e, se no final se tiver caos, colocar a culpa no governo e exigir a presença
das forças armadas. Espero que o governo não cometa essa besteira de chamar a
guarda nacional e as forças armadas para reprimir as manifestações. É tudo o
que a direita sonha!
Quem
está provocando as cenas de violência é a forma de intervenção da Policia
Militar. A PM foi preparada desde a ditadura militar para tratar o povo sempre
como inimigo. E nos estados governados pelos tucanos (SP, RJ e MG), ainda tem a
promessa de impunidade.
Há
grupos direitistas organizados com orientação de fazer provocações e saques. Em
São Paulo atuaram grupos fascistas e leões de chácaras contratados. No Rio de
Janeiro atuaram as milícias organizadas que protegem seus políticos
conservadores. E, claro, há também um substrato de lumpesinato que aparece em
qualquer mobilização popular, seja nos estádios, carnaval, até em festa de
igreja tentando tirar seus proveitos.
Há então uma luta de classes nas ruas ou é apenas a juventude
manifestando sua indignação?
É claro que há uma luta de classes na rua. Embora ainda concentrada na disputa
ideológica. E o que é mais grave, a própria juventude mobilizada, por sua
origem de classe, não tem consciência de que está participando de uma luta
ideológica.
Vejam,
eles estão fazendo política da melhor forma possível, nas ruas. E ai escrevem
nos cartazes: somos contra os partidos e a política? Por isso tem sido tão
difusa as mensagens nos cartazes. Está ocorrendo em cada cidade, em cada
manifestação, uma disputa ideológica permanente da luta dos interesses de
classes. Os jovens estão sendo disputados pelas idéias da direita e pela
esquerda. Pelos capitalistas e pela classe trabalhadora.
Por
outro lado, são evidentes os sinais da direita muito bem articulada, e de seus
serviços de inteligência, que usam a internet, se escondem atrás das mascaras e
procuram criar ondas de boatos e opiniões pela internet. De repente, uma
mensagem estranha alcança milhares de mensagens. E ai se passa a difundir o
resultado como se ela fosse a expressão da maioria.
Esses
mecanismos de manipulação foram usados pela CIA e o departamento de estado
Estadunidense na primavera árabe, na tentativa de desestabilização da Venezuela,
na guerra da Síria. E é claro que eles estão operando aqui também para alcançar
os seus objetivos.
E quais são os objetivos da direita e suas propostas?
A classe dominante, os capitalistas, os interesses do império Estadunidense e
seus porta-vozes ideológicos que aparecem na televisão todos os dias, tem um
grande objetivo: desgastar ao máximo o governo Dilma, enfraquecer as formas
organizativas da classe trabalhadora, derrotar qualquer propostas de mudanças
estruturais na sociedade brasileira e ganhar as eleições de 2014, para recompor
uma hegemonia total no comando do estado brasileiro, que agora está em disputa.
Para
alcançar esses objetivos eles estão ainda tateando, alternando suas táticas. As
vezes provocam a violência, para desfocar os objetivos dos jovens. As vezes
colocam nos cartazes dos jovens a sua mensagem. Por exemplo, a manifestação do
sábado em São Paulo, embora pequena, foi totalmente manipulada por setores
direitistas que pautaram apenas a luta contra a PEC 37, com cartazes estranhamente
iguais e palavras de ordem iguais.
Certamente
a maioria dos jovens nem sabem do que se trata. E é um tema secundário para o
povo, mas a direita está tentando levantar as bandeiras da moralidade, como
fez a UDN (União Democrática Nacional) em tempos passados. Isso que já
estão fazendo no Congresso, logo logo, vão levar às ruas.
Tenho
visto nas redes sociais controladas pela direita que suas bandeiras, além da
PEC 37, são a saída do Renan do Senado, CPI e transparência dos gastos da Copa,
declarar a corrupção crime hediondo, e fim do Foro especial para os políticos.
Já os grupos mais fascistas ensaiam Fora Dilma e abaixo-assinados pelo
impechment.
Felizmente
essas bandeiras não têm nada ver com as condições de vida das massas, ainda que
elas possam ser manipuladas pela mídia. E objetivamente podem ser um tiro no
pé. Afinal, é a burguesia brasileira, seus empresários e políticos que são os
maiores corruptos e corruptores. Quem se apropriou dos gastos exagerados da
Copa? A Rede Globo e as empreiteiras!
Quais os desafios que estão colocados para a classe trabalhadora
e as organizações populares e partidos de esquerda?
Os desafios são muitos. Primeiro devemos ter consciência da natureza dessas
manifestações, e irmos todos para a rua, disputar corações e mentes para
politizar essa juventude que não tem experiência da luta de classes. Segundo, a
classe trabalhadora precisa se mover. Ir para a rua, manifestar-se nas
fábricas, campos e construções, como diria Geraldo Vandré. Levantar suas
demandas para resolver os problemas concretos da classe, do ponto de vista
econômico e político.
Terceiro,
precisamos explicar para o povo quem são seus principais inimigos. E agora são
os bancos, as empresas transnacionais que tomaram conta de nossa economia, os
latifundiários do agronegócio, e os especuladores.
Precisamos
tomar a iniciativa de pautar o debate na sociedade e exigir a aprovação do
projeto de redução da jornada de trabalho para 40 horas; exigir que a
prioridade de investimentos públicos seja em saúde, educação, Reforma Agrária.
Mas
para isso o governo precisa cortar juros e deslocar os recursos do superávit
primário, aqueles 200 bilhões de reais que todo ano vão para apenas 20 mil
ricos, rentistas, credores de uma dívida interna que nunca fizemos, deslocar
para investimentos produtivos e sociais. E é isso que a luta de classes coloca
para o governo Dilma: os recursos públicos irão para a burguesia rentista ou
para resolver os problemas do povo?
Aprovar
em regime de urgência para que vigore nas próximas eleições uma reforma
política de fôlego, que no mínimo institua o financiamento público exclusivo da
campanha. Direito a revogação de mandatos e plebiscitos populares
auto-convocados.
Precisamos
de uma reforma tributária que volte a cobrar ICMS (Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços) das exportações primárias, penalize a riqueza dos ricos
e amenize os impostos dos pobres, que são os que mais pagam.
Precisamos
que o governo suspenda os leilões do petróleo e todas as concessões
privatizantes de minérios e outras áreas públicas. De nada adianta aplicar todo
royalties do petróleo em educação, se os royalties representarão apenas 8% da
renda petroleira, e os outros 92% irão para as empresas transnacionais que vão
ficar com o petróleo nos leilões!
Uma
reforma urbana estrutural, que volte a priorizar o transporte público, de
qualidade e com tarifa zero. Já está provado que não é caro e nem difícil
instituir transporte gratuito para as massas das capitais. Controlar a
especulação imobiliária.
E
finalmente, precisamos aproveitar e aprovar o projeto da Conferência Nacional
de Comunicação, amplamente representativa, de democratização dos meios de
comunicação. Para acabar com o monopólio da Globo e para que o povo e suas
organizações populares tenham ampla acesso a se comunicar, criar seus próprios
meios de comunicação, com recursos públicos. Ouvi de diversos movimentos
da juventude que estão articulando as marchas, que talvez essa seja a única
bandeira que unifica a todos: Abaixo ao monopólio da Globo!
Mas
para que essas bandeiras tenham ressonância na sociedade e pressionem o governo
e os políticos, somente acontecerá se a classe trabalhadora se mover.
O que o governo deveria fazer agora?
Espero que o governo tenha a sensibilidade e a inteligência de aproveitar esse
apoio, esse clamor que vem das ruas, que é apenas uma síntese de uma
consciência difusa na sociedade, que é hora de mudar. E mudar a favor do povo.
E para
isso o governo precisa enfrentar a classe dominante, em todos os aspectos.
Enfrentar a burguesia rentista, deslocando os pagamentos de juros para
investimentos em áreas que resolvam os problemas do povo. Promover logo as
reformas políticas, tributárias. Encaminhar a aprovação do projeto de
democratização dos meios de comunicação. Criar mecanismos para investimento
pesados em transporte público, que encaminhem para a tarifa zero. Acelerar a
Reforma Agrária e um plano de produção de alimentos sadios para o mercado
interno.
Garantir
logo a aplicação de 10% do PIB em recursos públicos para a educação em todos os
níveis, desde as cirandas infantis nas grandes cidades, ensino fundamental de
qualidade, até a universalização do acesso dos jovens à universidade pública.
Sem
isso, haverá uma decepção, e o governo entregará para a direita a iniciativa
das bandeiras, que levarão a novas manifestações visando desgastar o governo
até as eleições de 2014. É hora do governo aliar-se ao povo, ou pagará a fatura
no futuro.
E que perspectivas essas mobilizações podem levar para o país
nos próximos meses?
Tudo ainda é uma incógnita. Porque os jovens e as massas estão em disputa. Por
isso que as forças populares e os partidos de esquerda precisam colocar todas
suas energias para ir à rua. Manifestar-se, colocar as bandeiras de luta de
reformas que interessam ao povo, porque a direita vai fazer a mesma coisa e
colocar as suas bandeiras conservadoras, atrasadas, de criminalização e
estigmatização das idéias de mudanças sociais.
Estamos
em plena batalha ideológica que ninguém sabe ainda qual será o resultado. Em
cada cidade, cada manifestação, precisamos disputar corações e mentes. E quem
não entrar, ficará de fora da história.
Leia também:
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