REI DO JURO ALTO, ARMÍNIO QUER QUE BC EXPLIQUE JURO BAIXO

Cultuado pela corrente neoliberal, o economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, entregou o cargo com um País sem reservas, com juros altíssimos e moeda depreciada; hoje, ele quer que o BC, comandado por Alexandre Tombini, explique sua política monetária
15 DE OUTUBRO DE 2012 ÀS 07:09
247 – O culto a certos personagens da vida pública brasileira é, muitas vezes, misterioso. Armínio Fraga, que presidiu o Banco Central na fase final do governo FHC, é um desses casos. Embora tenha sido responsável pela implantação do regime de metas de inflação, o que foi um avanço, ele deixou o cargo, no fim de 2002, com um País sem reservas, inflação ascendente (em dois dígitos, quando anualizada), dívida em dólar pesada e taxa de juros altíssima.
Essa política, que começou a ser revertida com Henrique Meirelles, tem sido aprofundada na gestão de Alexandre Tombini, atual presidente do BC. No entanto, em entrevista à Folha, Armínio Fraga, que hoje administra fundos de investimento, que perderam rentabilidade com a nova política monetária, quer que Tombine explique a queda dos juros. Confira alguns trechos:
Como o sr. classifica politicamente o governo hoje?
Pouco liberal... Ou nada liberal... Não, nada liberal é exagero. É um governo de esquerda, que está testando seus limites. Eu acreditava que o governo Fernando Henrique tinha chegado próximo ao que, na minha leitura, são limites razoáveis: um governo com um papel importante, senão de produção, de regulação e fiscalização, que focou os escassos recursos públicos em educação, saúde e tomou a decisão estratégica de sair da produção em setores que foram privatizados.
Um movimento liberal...
Esse foi o movimento liberal de um governo de esquerda. Não abriu mão de ter um impacto relevante sobre distribuição de renda, pobreza, de regulação adequada e assim por diante. Era um limite razoável. Hoje estão testando um pouco esse limite, correndo o risco de fazer bobagem.
O governo se desviou do tripé da política econômica [meta de inflação, câmbio livre e superavit fiscal]? Abandonou a meta de inflação?
O tripé em geral sobrevive, mas está um pouco ameaçado, começando pelas metas para a inflação. A inflação vem se beneficiando de medidas e eventos não recorrentes, como a contenção dos preços dos combustíveis e a redução das tarifas de energia. São pequenos remendos.
Há quem venha argumentando que o papel do Banco Central não é só defender a moeda, mas olhar o crescimento.
Acredito piamente que a melhor coisa que o Banco Central pode fazer pelo crescimento é preservar uma taxa de inflação baixa e estável. E suavizar um pouco as flutuações do PIB. E cuidar da estabilidade financeira. Cuidar de ser um agente de fomento traz o risco de errar a mão na demanda quando os problemas estão na oferta.
Política de juros
Acredito, ao contrário de muitos colegas economistas, que, quando for necessário, ele vai aumentar os juros.Essas últimas reduções estão preocupando. Os economistas que olham para as projeções de inflação questionam muito. Não ficou muito claro o porquê do último corte [em setembro]. Mais um neste momento requer uma certa explicação do Banco Central. Alguma coisa que nos leve a crer que a inflação vai convergir para a meta, que é 4,5%. A meta não é 5,2%. É 4,5%.
Cortar 0,25 agora tem efeito na anemia da economia?
Mas a economia está a pleno emprego. Estamos combatendo o problema errado. O BC faz um trabalho minucioso. Certamente vão explicar. No último corte, as explicações não foram muito claras.
O sr. revisaria alguma decisão que tomou enquanto no BC?
De modo geral, não. Foi um período muito reativo, na chegada teve crise, depois teve a crise da Argentina, da Bolsa americana, a nossa crise de confiança, no final.
Não dá uma vontade de poder ser presidente do BC agora, só para poder determinar taxas de juros de 7%, em vez de 45%, como teve que fazer na primeira reunião do Copom de que participou, em 1999?
No início de 1999 as expectativas de inflação eram de 20% a 50% ao ano e as de crescimento, de menos 4%. Entregamos 9% de inflação e 1% de crescimento. Não tenho queixas; plantamos uma boa semente.
Disponível em: (http://www.brasil247.com/pt/247/juros/83081/Rei-do-juro-alto-Arm%C3%ADnio-quer-que-BC-explique-juro-baixo.htm). Acesso em: 15/out/2012.
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