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quinta-feira, 12 de julho de 2012

Chile promulgou nova Lei Antidiscriminação, apesar do conservadorismo...

Chile promulga nova Lei Antidiscriminação indo contra seu conservadorismo
12 de julho de 2012 18h46


 SANTIAGO, 12 Jul 2012 (AFP) -Depois da comoção causada por um jovem gay nas mãos de um grupo de supostos neonazistas, o Chile promulgou nesta quinta-feira uma Lei Antidiscriminação, que sanciona os atos arbitrários motivados pelo sexo, raça ou condição social, avançando contra seu tradicional conservadorismo. A iniciativa foi batizada como "Lei Zamudio", em homenagem a Daniel Zamudio, um homossexual de 24 anos, que morreu dia 27 de março depois de agonizar durante três semanas. Ele recebeu golpes na cabeça e no corpo, queimaduras com cigarros e marcas de símbolos e slogans nazistas, de um grupo que o atacou por sua condição sexual ao encontrá-lo dormindo bêbado em uma praça.
Sua morte emocionou a sociedade chilena e conseguiu agilizar a tramitação no Congresso desta iniciativa, parada desde 2005 por causa da oposição de legisladores direitistas, e busca abrir caminho para o casamento homossexual, proibido na atual legislação.
"Graças ao sacrifício de Daniel, hoje temos uma nova lei que, estou certo, vai nos permitir enfrentar, prevenir e sancionar as discriminações arbitrárias que causam tanta dor", disse o presidente chileno Sebastián Piñera, ao assinar a nova lei no palácio do governo.
Estavam presentes na cerimônia representantes das comunidades judaicas, árabes, indígenas, portadores de deficiências e os pais de Daniel Zamudio, entre outros convidados.
"Estou muito orgulhosa de que a lei tenha saído e que tenha seu sobrenome. Meu filho não será esquecido nunca", disse a mãe de Daniel, Jacqueline Vera.
O novo texto da lei, que define o conceito de discriminação arbitrária como "toda distinção, exclusão ou restrição que careça de justificativa razoável", é considerada um passo à frente da sociedade chilena, que vai contra seu tradicional conservadorismo, apenas oito anos depois de o país estabelecer o divórcio.
Até 2004, o Chile era um dos últimos países ocidentais que não estabelecia a dissolução do vínculo matrimonial em sua legislação, devido à férrea oposição da Igreja católica, a qual pertence 80% da sociedade chilena.
Em 1999, foi abolida uma regra que punia homossexuais ("a sodomia") com penas de prisão.
"Este é um bom dia. O Chile é hoje um país melhor país para se viver", disse Rolando Jiménez, presidente do Movimento de Integração e Libertação Homossexual (Movilh, na sigla em espanhol), que contabiliza 17 mortos e 800 agressões a homossexuais desde 2002, motivados pela orientação sexual.
"Antes, temas como a discriminação simplesmente não apareciam no debate público. Hoje, contudo, a sociedade chilena parece adquirir um status de modernidade. Tudo foi muito rápido, depois de muitos anos de estagnação", afirmou à AFP o jornalista Oscar Contardo, autor do livro "Raro", que narra a história da homossexualidade no Chile.
O autor atribui esta transformação ao declínio da influência da Igreja católica depois de notórios escândalos de pedofilia e a uma nova geração educada depois do fim da ditadura de Augusto Pinochet, em 1990.
"A Igreja católica passou, em pouco tempo, de uma das instituições mais reconhecidas a uma das mais questionadas. Tem a ver também com uma nova geração que cresceu na democracia e que teve acesso a mais informações", explicou Contardo.
O último escândalo na Igreja Católica envolve o prestigioso sacerdote, Cristián Pretch, considerado um símbolo da defesa dos direitos humanos durante a ditadura de Pinochet.
Contudo, no Chile, o aborto não é permitido sob nenhuma circunstância, assim como o matrimônio homossexual, apesar de, há dois anos, ter começado no Parlamento uma iniciativa para regular as uniões de fato.
A nova Lei Antidiscriminação permite que uma pessoa que se sinta discriminada, seja por raça, etnia, nacionalidade, necessidades especiais, condição social, religião ou orientação sexual possa entrar com uma ação contra o agressor. O julgamento deve ser sancionado em 90 dias e as penas são multas que vão de 400 a 4.000 dólares.
As sanções para todo tipo de delitos também se agravam em caso de ser demonstrado que foram motivadas por preconceito e se impõe ao Estado a obrigação de elaborar políticas públicas contra a discriminação.

pa/pl/mv

Dispnível em: (http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI5895039-EI294,00-Chile+promulga+nova+Lei+Antidiscriminacao+indo+contra+seu+conservadorismo.html?ECID=BR_Twitter).

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