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sábado, 16 de junho de 2012

Alexis Tsipras: O camarada grego (Rodrigo Turrer)


PERSONAGEM DA SEMANA - 16/06/2012 08h45

Alexis Tsipras: O camarada grego

O jovem líder da extrema-esquerda, que está perto de comandar a Grécia, pode determinar o futuro da Europa

RODRIGO TURRER
DO CONTRA Tsipras numa conferência em maio, em Berlim, onde apresentou suas ideias. Ele recusa o pacote europeu de austeridade (Foto: Sean Gallup/Getty Images)


O favorito para se tornar o novo primeiro-ministro da Grécia é fã do presidente venezuelano, Hugo Chávez. O engenheiro civil Alexis Tsipras também considera a Revolução Cubana um exemplo para o mundo. Aos 37 anos, ele se destaca com seu discurso contra a austeridade europeia e uma imagem descolada da velha e corrupta política grega. Seu partido, o Syriza, de extrema-esquerda, lidera as pesquisas para as eleições do dia 17.

Essas eleições só foram convocadas porque, no último pleito, realizado em maio, nenhuma legenda foi capaz de formar uma coalizão. O Syriza, que abarca trotskistas, socialistas e verdes – e jamais obtivera mais de 5% dos votos numa eleição geral –, conseguiu 17%. Foi um sinal de decadência dos partidos tradicionais, o conservador Nova Democracia e o socialista Pasok. Desta vez, o Syriza lidera as pesquisas – nos últimos levantamentos oficiais divulgados, tinha cerca de 25% das intenções de voto. Tamanha ascensão em tão pouco tempo pode ser creditada, em boa parte, a Tsipras. Sob uma taxa de desemprego de 22%, uma contração de 6,2% no Produto Interno Bruto no primeiro trimestre de 2012 e o quinto ano seguido de recessão, os gregos não aceitam apertar o cinto ainda mais, como defende a União Europeia. Tsipras diz o que muitos gostariam de ouvir: “Devemos dizer ‘não’ ao pacote de austeridades imposto pelos políticos traidores”.

A habilidade política de Tsipras foi desenvolvida em mais de 20 anos de militância. Nascido em julho de 1974, numa família de classe média de Atenas, ele começou sua vida política aos 14 anos. Em 1988, numa assembleia estudantil para definir representantes de turma no colégio Ampelokipoi, em Atenas, chamou a atenção de estudantes mais velhos, que o recrutaram para a Juventude Comunista da Grécia, um grupo pró-soviético. Um dos veteranos que se surpreenderam com a retórica daquele rapaz foi Vasilis Papadopoulos, ex-colega do curso de engenharia civil na Universidade Politécnica de Atenas e hoje um amigo que frequenta a casa dos Tsipras. “Ao contrário da maioria dos políticos gregos, que gritam, suam e se descabelam, Tsipras sempre soube argumentar de modo calmo e claro”, afirma Papadopoulos. “Aos 17 anos, ele já se preocupava mais com estratégias pragmáticas para obter resultados.” Na juventude, a política convivia com outra paixão, o futebol. Torcedor do Panathinaikos, não perdia nenhum jogo no Estádio Olímpico de Atenas.

Tsipras argumenta de modo calmo e claro, ao contrário dos políticos gregos"
Vasilis Papadopoulos, amigo de Tsipras

Quem mais apoiou a carreira de Tsipras foi sua mulher, Peristera Baziana, de 38 anos. Betty, como é conhecida, está grávida do segundo filho do casal – o primogênito, Paul, tem 2 anos e meio. Os dois começaram a namorar no colégio, em 1986. Nunca mais se separaram, embora não sejam casados no papel. Entraram juntos na Juventude Comunista e participaram de ocupações de universidades e escolas em 1991. Formada em engenharia elétrica pela Universidade de Patras, Betty incentivou Tsipras a juntar-se ao Syriza e a dedicar-se à política. “Betty é a conselheira mais próxima, a pessoa a quem ele recorre quando quer tomar uma decisão”, afirma Yannis Bournous, amigo do casal e porta-voz do Syriza.

Tsipras tornou-se um nome nacional em 2006. O então presidente do Syriza, Alekos Alavanos, percebeu que ele atraía jovens para o partido com facilidade e lançou sua candidatura para a prefeitura de Atenas. Sob o slogan “Vamos virar esta cidade de cabeça para baixo”, Tsipras ficou em terceiro lugar, com 10,5% dos votos, um feito notável para o Syriza. Dois anos depois, numa luta interna dentro do partido, Tsipras apeou Alavanos da presidência.

A escalada de Tsipras provoca arrepios nos políticos europeus. Em suas mãos pode estar a chave para o futuro do euro – e da União Europeia. Sua vitória pode vir a tirar a Grécia da moeda única, com resultados imprevisíveis. Na Grécia, parte da esquerda louva a firmeza com que Tsipras se coloca diante do bloco europeu. “Ele pode não ter uma política clara, mas tem uma estratégia para enfrentar (a chanceler alemã) Angela Merkel”, diz o grego Alex Kazamias, professor de ciência política da Universidade de Coventry, no Reino Unido.

Tsipras pode levar o país ainda mais para o abismo. É difícil convencer o grego comum, especialmente aquele que hoje sobrevive com doações de comida, de que o equilíbrio fiscal e monetário é crucial para a recuperação do país. Para ele, Tsipras surge como um cavaleiro da esperança – mas pode revelar-se do desespero.

CRISE Uma voluntária distribui sopa em Atenas. Tsipras promete priorizar os problemas sociais (Foto: Kostas Tsironis/AP)
 CRISE
Uma voluntária distribui sopa em Atenas. Tsipras promete priorizar os problemas sociais
(Foto: Kostas Tsironis/AP)

Do Portal Revista Época: (http://revistaepoca.globo.com/Mundo/noticia/2012/06/alexis-tsipras-o-camarada-grego.html). Acesso em: 16/jun/2012.

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