Pinoquiolândia. Mendes tenta atingir Lula e Jobim vira testemunha-chave
O
ministro Gilmar Mendes já foi pego na mentira. Isto quando sustentou o
“grampeamento” de conversas telefônicas com o senador Demóstenes Torres,
seu grande amigo. Para a Polícia Federal, por meio de perícias, não
houve interceptações e gravações de conversas. Na perícia realizada não
atuaram os célebres peritos Ricardo Molina nem Badan Palhares.
À
época, Gilmar Mendes, que estava na presidência do Supremo Tribunal
Federal (STF), saiu atirando pela mídia. Disse que chamaria o
presidente Lula às falas. Por suspeitar da Agência Brasileira de
Inteligência (Abin), Gilmar Mendes exigiu a saída imediata do seu
diretor-geral, que era o íntegro delegado Paulo Lacerda, de relevantes
serviços ao país, em especial quando dirigiu a Polícia Federal. A
propósito, Lula, vergonhosamente, entregou a cabeça de Lacerda
e ofereceu um exílio na embaixada do Brasil em Lisboa.
Para
dar sustentação à afirmação de Gilmar Mendes, entraram em cena (1)
Demóstenes Torres, que confirmou o diálogo com Gilmar Mendes e o teor de
uma gravação transcrita pela revista Veja, e (2) Nelson Jobim,
aquele que confessou, em livro laudatório e promocional, ter colocado
na Constituição da República artigos desconhecidos e não aprovados por
seus pares (deputados) constituintes. Sobre isso, colocou, quando o
escândalo veio a furo, a culpa em Ulysses Guimarães, que, por estar
morto, não poderia responder. Atenção: no livro laudatório, Jobim não
mencionou Ulysses Guimarães e o escândalo foi revelado porque, pasmem
!!!, algum ingênuo entendeu em ler o escrito por Jobim.
Segundo
Jobim, então ministro da Defesa e para apoiar Gilmar Mendes, as Forças
Armadas tinham emprestado um aparelho, cujas especificações mostrou aos
jornalistas, para “grampeamentos telefônicos” à Agência Brasileira de
Inteligência (Abin).
As
Forças Armadas desmentiram o ministro Jobim ao revelar que não houve o
empréstimo e que Jobim havia apresentado, quanto ao equipamento que
teria sido emprestado, catálogos de empresas vendedoras de equipamentos
de segurança. Catálogos que eram distribuídos em lojas de shopping
center.
Como
se percebe, a dupla Mendes-Jobim seria qualificada, numa Comissão
Apuratória e pelos antecedentes mendazes com trânsito em julgado, como
suspeita de não falar a verdade.
Com efeito, Mendes, agora, sustenta ter encontrado Lula no escritório de advocacia de Nelson Jobim.
Como
dizia Carl Gustav Jung, mestre da psicanálise, coincidências não
existem. Sobre isso, Jobim afirmou que o encontro no seu escritório de
advocacia foi uma coincidência, pois foi visitado por Lula quando Gilmar
Mendes estava por lá.
Lula
aparecer de surpresa no escritório de Jobim não dá para acreditar. E o
que fazia um ministro do STF num escritório de advocacia?
Para
Mendes, o ex-presidente Lula o pressionou para adiar o julgamento do
Mensalão e insinuou saber da sua presença em Berlim na companhia de
Demóstenes Torres. Não bastasse a insinuação, Lula teria assegurado que
tal fato não seria apurado, pelo seu poder de mando, pela Comissão
Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI). Em outras palavras, não entraria
na apuração a suspeita de encontro em Berlim sob patrocínio financeiro
de Carlinhos Cachoeira.
Jobim diz à revista Veja que
não ouviu essa parte da conversa. Talvez (imagina este colunista depois
de conversas com a sua caneta-falante) tenha Jobim desligado o seu
invisível aparelho de surdez ou ingressado no banheiro. Ou, talvez,
esteja Jobim reservando-se para uma eventual convocação, como
testemunha, à CPMI ou a juízo. Nesse ínterim, pode até “pintar” um
ministério para Jobim, apesar de já ter sido defenestrado pela
presidente Dilma.
O grampo sem áudio que vitimou Paulo Lacerda e a Abin envolveu Mendes, Jobim, Demóstenes e a Veja
(a revista transcreveu a conversa interceptada entre Mendes-Demóstenes,
mas não exibiu o áudio). Como favorecido pelo escândalo aparecia o
banqueiro Daniel Dantas, solto por liminares de Gilmar que contrariavam
até súmula do STF.
Agora, a história do encontro casual (para a revista o encontro foi a pedido de Lula) e a chantagem envolvem Jobim, Mendes, a Veja e Lula. A quem interessa essa história ainda não está claro. Como pano de fundo, a Veja coloca o Mensalão. O certo é que Jobim, Mendes e Lula estiveram num mesmo escritório no mês de abril passado.
Pano
rápido. Lula, que não é ingênuo e parece frequentar qualquer lugar,
pode ter caído numa armadilha, com Jobim funcionando como
testemunha-chave. Prefiro a conclusão da minha caneta-falante, “pelos
envolvidos, e num episódio típico de bas-fond francês de quinta
categoria, não existem balas perdidas” (inocentes).
Wálter Fanganiello Maierovitch
Do Portal Terra: (http://terramagazine.terra.com.br/semfronteiras/blog/2012/05/27/gilmar-mendes-tenta-atingir-lula-e-jobim-vira-testemunha/). Acesso em: 28/mai/2012.
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