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terça-feira, 17 de agosto de 2010

O advogado do futuro. Opinião de Rafael Alves de Almeida

O advogado do futuro

Rafael Alves de Almeida*

Existem, atualmente, cerca de 580 mil advogados em atuação e mais de 1.100 faculdades de Direito em todo o Brasil. A cada ano, formam-se aproximadamente 83 mil bacharéis em Direito, sendo que somente 15% em média são aprovados na prova da OAB.
Nesse cenário, seria possível indagar: há espaço suficiente nesse mercado, altamente competitivo, para todo novo e jovem advogado? Quais serão as características ou habilidades que o advogado do futuro deverá desenvolver para enfrentar e se articular no mercado de trabalho que está por vir?


Muito se tem falado sobre “crises”: crise financeira, crise no sistema de ensino jurídico, crise de consciência.


Fatos como o alto índice de reprovação de candidatos na primeira fase da OAB e o crescimento do número de processos judiciais, aliado à morosidade de sua definição, levam a crer que passamos por um momento que necessita reflexão para que mudanças eficientes sejam implementadas. E vários setores da sociedade já se articulam neste sentido.


Reconhece-se, hoje em dia, a necessidade de que todo jovem profissional tenha pelo menos quatro competências importantes: capacidade de encontrar informação, capacidade de resolver problemas, de ser proativo e ter uma boa rede de relacionamentos (networking, ou seja, a habilidade para criar e cultivar relacionamentos e contatos).


Tais características estão diretamente ligadas à advocacia moderna e as exigências dessas crescem em ritmo constante na mesma medida das oportunidades de atuação. Novas questões e demandas tomam relevo, a exemplo de áreas como petróleo e gás, indústria naval, arbitragem e mediação, agronegócio, direito ambiental, propriedade intelectual, direito da energia, contratos complexos etc.


Neste contexto, percebe-se que o advogado precisa desenvolver formação interdisciplinar. Finanças, contabilidade e economia, números em regra fazem hoje parte do dia a dia do advogado; além da necessidade de o profissional do Direito ser capaz de proceder ao mapeamento global das questões para, em seguida, realizar, mediante o aprofundamento seletivo dos aspectos e das circunstâncias mais importantes envolvidos, a busca da solução mais adequada ao seu caso.


O advogado moderno precisa encarar a crise ou o conflito, não como ruim ou bom, mas como oportunidades para desenvolver novas percepções. Deve trabalhar com possibilidades para buscar resultados práticos, tendo em mente que haverá sempre um observador e um observado e que, em razão disso, as percepções poderão ser divergentes.


O profissional do Direito tem à sua frente vários campos de atuação: área acadêmica (aulas), executiva (gestão), consultiva (pareceres), empresarial, contenciosa e junto ao Poder Judiciário. Vale ressaltar dois conceitos contemporâneos em análise: responsabilidade única e participação essencial. Vivemos em um mundo global. Estamos todos interconectados. Trabalha-se para o resultado, cada um com sua parcela de atuação.


Por fim, é recomendável que o advogado mescle as características e habilidades identificadas acima, pois possuindo formação interdisciplinar (ou transdisciplinar) estará preparado para lidar melhor com as novas demandas, áreas e contextos que estão por vir.

*Professor da Fundação Getúlio Vargas.

...Disponível no Blog de Opinião do Hoje em Dia:  (http://www.hojeemdia.com.br/cmlink/hoje-em-dia/colunas-artigos-e-blogs/blog-de-opini-o-1.10994/o-advogado-do-futuro-1.157161). Acesso em: 17.ag.2010.

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