Postagem no Abertura Mundo Jurídico em 23/out/2019...
Boaventura: efeito do neoliberalismo na vida das pessoas leva a convulsão social
Sociólogo e jurista português Boaventura de Sousa Santos afirma que governo Bolsonaro causa dano extraordinário ao Brasil e é objeto de risada no mundo
Tono_Carbajo/ Fotomovimiento

A convulsão social de que fala Boaventura: espanhóis se
solidarizam com luta sangrenta do povo chileno contra política
neoliberal do governo Piñera
São Paulo – “O capitalismo global está em uma fase de exaustão. O neoliberalismo
é uma mentira.” A afirmação do jurista e sociólogo Boaventura de Sousa
Santos inspira-se, na história recente de seu país, na onda de
protestos que tomaram conta do Equador e depois do Chile, no que estão
dizendo as urnas na Bolívia e, possivelmente, na Argentina, e no que
ainda pode acontecer com o Brasil a qualquer momento.
“A Escola sem Partido
é uma escola com partido, com muita ideologia”, define Boaventura ao
descrever a ofensiva com que o bolsonarismo tenta expandir sua ideologia
restritiva ao pensamento crítico na base curricular das escolas em
todos os níveis. Para ele, o domínio ideológico seria uma das bases –
por meio da promoção da desinformação – para minar a resistência popular
à política econômica e social devastadora. Mas que não surtirá efeito à
medida que as pessoas começarem a sentir na pele os impactos dessas
políticas.
“Penso que Bolsonaro tem causado um dano extraordinário
ao Brasil porque veio legitimar tudo aquilo que havíamos pensado que
havia sido superado. Ele está fazendo com que o Brasil seja um objeto de
risada internacional nesse momento”, diz o sociólogo português, de 78
anos, que está no Brasil e acaba de lançar seu novo livro O Fim do Império Cognitivo (Editora Autêntica).
Em entrevista ao jornal O Globo,
Boaventura, um dos mais respeitados pensadores da atualidade, explica
que a partir de 2016, em seu país, os portugueses se deram conta da
farsa do neoliberalismo. “Não cria boa imagem para o país, não cria paz
social e não cria investimento. E o Brasil, em breve, será o próximo.
Quando as pessoas começarem a sentir no bolso das famílias a
consequências dessas políticas neoliberais vai haver consequências e
eventualmente traduzir-se-á em convulsão social.”
A reflexão está diretamente relacionada à realidade que sacode diversos países com protestos sangrentos, a exemplo do que ocorre no Chile.
Por outro lado, a esquerda volta a ocupar espaço e vencer eleições,
após breves períodos de governos neoliberais que retiraram direitos dos
trabalhadores e empobreceram a sociedade.
Boaventura critica ainda o império cognitivo, por meio do qual, todo o
conhecimento é produzido em países da Europa, EUA e Canadá, e
reproduzido por autores do Sul. E avisa: isso está acabando. “Os
movimentos indígena, camponês, de mulheres, afroquilombola produzem
conhecimento extraordinário e nos seriam absolutamente preciosos quando
enfrentamos, por exemplo, a crise ecológica”, avalia.
“Os jovens, de 15 e 16 anos, como a Greta (Thunberg, jovem
ambientalista), na Suécia, estão numa situação que conseguem imaginar o
fim do mundo mais fácil, por causa da crise ecológica, do que o fim do
capitalismo. Isso os deixa desesperados. O capitalismo é uma coisa
histórica. Teve um princípio e terá um fim. Agora, não há planeta B. Os
jovens estão desesperados por não haver nem uma melhoria nesse sistema.
Estamos a falar de um pós-capitalista que só fica pior, no qual a
concentração de riqueza só aumenta.”
Original disponível em: (https://www.redebrasilatual.com.br/mundo/2019/10/boaventura-neoliberalismo-convulsao-social/). Acesso em 23/out/2019.