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AberturaMundoJuridico 23/dez/2016...
Por que o “furo do ano” virou uma notinha minúscula?

A palavra presepada vem, óbvio, de presépio, mas tem um sentido
completamente inverso ao da representação da cena fundamental do
cristianismo. Dizem os etimologistas que essa acepção vem dos antigos
“presépios vivos” com que se figurava o Advento cristão. Eram toscos,
nitidamente fingidos, atores inconvincentes e roteiros atrapalhados.
A Folha, hoje, publica uma matéria que lhe transmitiram,
claramente, com um sentido de presepada. Tanto é assim que, aquela que
seria a manchete do ano – uma acusação pessoal de Marcelo Odebrecht a
Lula – virou um pequeno registro. Nitidamente, faltou munição para
“bancar” o suposto furo.
O próprio título – “Em delação, Odebrecht revela estratégia para
manter Lula influente” – e, na pequena chamada de capa, afirma que a
empresa “diz ter agido para manter a influência de Lula”.
Ok. Partamos do princípio que, de fato, alguém com acesso às
declarações de Marcelo Odebrecht à “joia da coroa” das 77 delações da
empreiteira – alguém, um dia, por favor, explique como se manteve
secreto um esquema que envolvia 77 pessoas dando dinheiro de propina e
caixa 2 – deu ao jornal o que ele continha e as provas de que as
atividades políticas de Lula eram sustentadas pela empreiteira.
Só quem lê com atenção é que percebe que a suposta e vaga informação é
apenas “gancho” para requentar a história do tal “prédio do Instituto
Lula”.
O que há ali? Lula “manteria sua influência” com um novo prédio de
seu instituto, prédio que, aliás, não é e não foi do Instituto Lula,
como a reportagem candidamente registra:
Um ponto a ser esclarecido nas
apurações é o fato de a sede do instituto não ter sido instalada no
terreno da rua Dr. Haberbeck Brandão, na zona sul, mas em um edifício no
bairro do Ipiranga.
Reparem que “pequeno detalhe”: porque o Instituto Lula é onde sempre
foi e não é onde lhe compraram um prédio para ser? É algo tão nonsense
quanto a história de que o Itaquerão foi “um presente” a Lula. Se eu
fosse presidente do Corinthians pediria de volta o dinheiro pago, já que
foi “presente”.
Admita-se, por simples exercício, que o prédio foi comprado para
isso.Será que Lula pediria para comprar um prédio sem saber qual seria,
onde seria, etc? Porque, na versão dos procuradores, Lula não teria
achado o prédio adequado. Bem, neste caso só é possível imaginar que ele
não tenha pedido que o comprassem ou, no mínimo,que não participou
desta história senão para dizer não à cessão do prédio para seu
instituto.
Se alguém pediu e a Odebrecht comprou, aqui por engano, não é?
Tráfico de influência é solicitar ou obter vantagem indevida por ato de
funcionário público. Neste caso, não se apontou solicitação, não se
provou obtenção e muito menos localizou-se o ato específico a que ele se
referiria.
A história do financiamento de uma campanha em El Salvador,
francamente, também falta sustentação para afirmar que vantagens obteria
Lula. Quem poderia estar interessada em vantagens – em obras e
contratos – em El Salvador era a Odebrecht, não ele. Aliás, não só lá,
mas em vários outros países onde andou distribuindo propinas. Ou será
que ela corrompeu dirigentes destes países para “agradar Lula”?
Quando o jornalismo parte, sem provas e sem lógica, para montar
cenários que “alguém me disse”, agindo como “vaquinha de presépio” da
meganhagem jurídica que sabidamente quer “pegar o Lula” o resultado é o
que o Houaiss descreve como “espetáculo ridículo, fanfarrice”.
Uma presepada.
Original disponível em: (http://www.tijolaco.com.br/blog/por-que-o-furo-do-ano-virou-uma-notinha-minuscula/). Acesso em 23/dez/2016.
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