Postagem 05/abr/2015...
Edward Snowden - Glenn Greenwald
and Laura Poitras / The Guardian/AP
O caso teve uma repercussão gigante no mundo, levando a debates sobre privacidade e liberdades individuais. Já “Cidadãoquatro” saiu vencedor do último Oscar, na categoria documentário, e agora terá suas primeiras projeções no Brasil pelo festival É Tudo Verdade, que começa em São Paulo na próxima quinta-feira e chega ao Rio na sexta. No dia 16, às 19h, o filme terá exibição, seguida de debate, promovida pelo festival em parceria com O GLOBO, no Oi Futuro Ipanema.
Diretora
lembra as filmagens pelo mundo e os riscos de ‘Cidadãoquatro’, sobre Edward
Snowden
Documentário premiado no Oscar será exibido no Rio e em São
Paulo este mês
POR ANDRÉ MIRANDA
05/04/2015
6:00 / ATUALIZADO 05/04/2015 8:39
RIO — O percurso de “Cidadãoquatro”
lembra as velhas histórias de espionagem, aquelas com muitas viagens ao redor
do mundo, ao estilo James Bond. Num momento, o foco do documentário da diretora
Laura Poitras está em Washington, acompanhando a repercussão das revelações de
Edward Snowden; em outro, vai para Hong Kong, onde Laura se encontra com
Snowden em sigilo; há situações em que o filme passa pelo Rio, onde mora Glenn
Greenwald, o jornalista que primeiro publicou as informações sobre como o
governo americano espionou cidadãos comuns; até que, enfim, a trama termina em
Moscou, a cidade em que Snowden conseguiu asilo político para se livrar da
prisão.
Ou, talvez, não tenha terminado
totalmente. Em cada escala, às vezes física, em outras virtual, “Cidadãoquatro”
oferece clima de tensão e deixa incertezas para o futuro, compreensíveis
considerando que sua história trata de uma das maiores conspirações de
espionagem já reveladas. O documentário acompanha o período entre 2013 e 2014,
em que Snowden, ex-funcionário da Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA,
na sigla em inglês) vazou informações sobre o esquema internacional de
vigilância do governo americano, sob alegação de combate ao terrorismo.
O caso teve uma repercussão gigante no mundo, levando a debates sobre privacidade e liberdades individuais. Já “Cidadãoquatro” saiu vencedor do último Oscar, na categoria documentário, e agora terá suas primeiras projeções no Brasil pelo festival É Tudo Verdade, que começa em São Paulo na próxima quinta-feira e chega ao Rio na sexta. No dia 16, às 19h, o filme terá exibição, seguida de debate, promovida pelo festival em parceria com O GLOBO, no Oi Futuro Ipanema.
— Muita gente entende esse episódio
como uma ação do governo dos EUA em ameaça à democracia — avalia a americana
Laura Poitras. — Se você observar a história de qualquer ditadura, o que se faz
é espionar civis. Quando seus movimentos estão sendo vigiados, a ponto de você
não conseguir ter uma conversa com um amigo, então você perdeu seus direitos
fundamentais.
“CASA CERCADA DE MATO E CHEIA DE
CACHORROS”
Diferentemente do que costuma acontecer
em documentários, não foi Laura que procurou o objeto de seu filme. Foi
exatamente o contrário: em janeiro de 2013, Snowden escreveu para a diretora um
e-mail enigmático, em que contava ter revelações e provas sobre atividades no
mínimo questionáveis praticadas pelo governo dos EUA.
“Laura, neste momento não posso
oferecer nada mais do que minha palavra. Sou um funcionário sênior da
inteligência do governo”, escreveu Snowden, identificando-se como Cidadão
Quatro. Um mês antes, ele já havia contactado o americano Glenn Greenwald, na
época jornalista do diário inglês “The Guardian”, mas morador do bairro de
Santa Teresa, no Rio.
— Eu já havia filmado o Glenn no Rio em
2011, antes de o Snowden aparecer. Eu me interessei pela história daquele
jornalista que havia conseguido tornar seu trabalho tão relevante morando numa
casa cercada de mato e cheia de cachorros, no Rio — conta Laura. — Aí, algum
tempo depois, o Snowden nos procurou. Eu não sabia que ele já tinha falado com
o Glenn, mas meu instinto me indicou que aquele negócio era gigante. Eu me
mantive em alerta para ter certeza de que não se tratava de alguma armação, mas
fui adiante.
Em comum, Greenwald e Laura chamaram a
atenção de Snowden por seus trabalhos em cobrir ações do governo dos EUA. A
diretora, por exemplo, já havia lançado “My country, my country” (2006),
documentário indicado ao Oscar sobre a rotina de um Iraque ocupado por tropas
americanas. Os filmes levaram seu nome a ser incluído numa lista de vigilância
dos EUA, o que, na prática, fazia com que ela fosse constantemente interrogada
em aeroportos. A situação fez com que a diretora se mudasse para Berlim, outra
cidade que aparece no trajeto do documentário.
— Durante a produção de
“Cidadãoquatro”, nada aconteceu, ninguém do governo nos parou para tentar nos
impedir — conta Laura. — Mas imagino que eles tenham considerado opções, se
deveriam ou não tentar intervir. Escolheram não se meter. É importante dizer
que, por mais que eu seja crítica às políticas internacionais dos EUA, ainda se
trata de um país que acredita na liberdade de expressão e de imprensa.
CINEASTA DEFENDE ASILO NO BRASIL
O primeiro encontro pessoal entre
Laura, Greenwald e Snowden aconteceu em junho de 2013, em Hong Kong. No mesmo
mês, as revelações sobre a espionagem da NSA começaram a ser publicadas nos
jornais “The Guardian” e “Washington Post”, em série que rendeu aos veículos um
prêmio Pulitzer. Em julho, Greenwald, junto aos jornalistas José Casado e
Roberto Kaz, utilizou os dados de Snowden para revelar, em reportagens
publicadas pelo GLOBO, como a espionagem da NSA se espalhou na América Latina.
O trabalho levou o Prêmio Esso de Reportagem.
Por isso, o Brasil aparece em diversos
momentos de “Cidadãoquatro”. Greenwald é mostrado em casa, na redação do GLOBO
ou ainda no Galeão, recebendo seu companheiro, David Miranda, depois que este
foi detido para interrogatório pela polícia de Londres por nove horas, com base
na lei antiterrorismo da Inglaterra. O filme também mostra o jornalista em
Brasília, prestando depoimento a senadores sobre a espionagem americana no
Brasil.
— Eu voltei ao Rio pela segunda vez
duas ou três semanas depois de Hong Kong — lembra Laura. — Já era um momento
mais tenso, tínhamos decidido, por exemplo, que iríamos evitar viajar para os
EUA naqueles meses. Muita gente me alertou que poderia haver agentes da CIA no
Brasil, que eu seria seguida. Mas não tive problema.
Ainda em Moscou, Snowden busca novo
país para se asilar e assim evitar ser preso pelo governo americano. Para
Laura, o Brasil é uma opção:
— Os advogados dele estão considerando
o melhor lugar para ele. Se o Brasil oferecesse asilo, seria ótimo. Os dados
ainda vão render. É uma apuração demorada, cheia de detalhes técnicos e nomes
codificados. Mas muita coisa pode surgir.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/cultura/filmes/diretora-lembra-as-filmagens-pelo-mundo-os-riscos-de-cidadaoquatro-sobre-edward-snowden-15783515#ixzz3WU6iHVaj
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