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20/JAN/2015
ÀS 17:21
Alberto Nisman apareceu morto com um tiro na cabeça disparado com sua arma
pessoal. Promotor havia pedido que Cristina Kirchner fosse chamada para depor.
Wikileaks revelou que ele se reunia frequentemente com agentes da CIA e do FBI

Alberto Nisman, promotor argentino
encontrado morto, se reunia frequentemente com representantes do governo
norte-americano (reprodução)
O promotor Alberto Nisman apareceu
morto com um tiro na cabeça disparado com sua arma pessoal em um apartamento
localizado a poucas quadras da Casa Rosada, a sede do governo. Seu corpo foi
encontrado nas primeiras horas desta segunda-feira (19), dias depois de ter
acusado Cristina Kirchner de encobrir os responsáveis do atentado que matou
dezenas de pessoas na AMIA (Associação Mutual Israelita Argentina), em julho de
1994.
O procurador se transformou em
uma estrela de televisão e dos meios de comunicação oligopolistas que deram
ampla cobertura às suas sonoras denúncias, geralmente vazias de provas. Nisman
era para a grande mídia algo como se tornou o juiz paranaense Sergio Moro para
a imprensa tradicional brasileira.
Os principais dirigentes
oposicionistas haviam viajado de seus respectivos estados para Buenos Aires a
fim de participar nesta segunda-feira de uma exposição de Alberto Nisman na
Câmara dos Deputados, em que havia prometido que apresentaria provas sobre a
interferência de Cristina na investigação sobre o atentado terrorista de 1994.
Segunda essa versão do promotor,
a presidenta quis evitar que fossem investigados suspeitos iranianos. A morte
de Alberto Nisman motivou comoção nacional a 10 meses das eleições
presidenciais, enquanto os adversários do governo não estão conseguem superar
suas diferenças internas para compor uma coalizão unitária.
“Os dados da autópsia de Alberto
Nisman estarão prontos à noite, o que podemos adiantar é que sua morte
aconteceu antes do jantar [de domingo]… estava sozinho e a porta do apartamento
estava fechada com chave”, informou a promotora Viviana Fein.
“Pedimos aos jornalistas que nos
deixem trabalhar”, disse Viviana diante de um enxame de repórteres que a
esperavam na porta do elegante prédio em que ele residia, onde o corpo jazia
dentro do banheiro junto da arma com a qual o disparo foi feito.
Como os dados da perícia forense
ainda não foram divulgados, seria irresponsável arriscar se o promotor que
investigava o atentado da associação mutual judia AMIA se suicidou ou se foi
assassinado. Em todo caso, é evidente que este fato sangrento carrega consigo
uma consequência política: prejudica o governo da presidenta Cristina Kirchner,
que mantém uma alta popularidade e deve exercer sua influência nas eleições em
que seu sucessor será escolhido.
Cristina: Distância diplomática
dos EUA e de Israel
O governo de Cristina mantém
relações frias com Washington há anos, uma ligação que se enfraqueceu ainda
mais quando Buenos Aires se aproximou do Irã.
“Tudo isto que aconteceu é muito
raro, não vamos cair em teorias conspiratórias, mas também não seremos ingênuos
ao tentar entender as coisas que estão em jogo”, afirmou Atilio Borón,
pesquisador universitário e ex-secretário da CLACSO (Conselho Latinoamericano
de Ciências Sociais).
“A primeira coisa a se fazer é
responder esta pergunta, quem sai muito prejudicado com este fato?
Indubitavelmente é o governo argentino”, acrescentou Atilio Borón em declarações
concedidas nesta segunda-feira a uma emissora portenha. TVs, rádios e sites
modificaram sua programação para dedicar atenção total ao crime do ano.
Um dos apresentadores estatais do
grupo Clarín afirmou estar quase certo de que o promotor foi assassinado para
evitar que prejudicasse Cristina. Com linguagem demagógica, argumentou “nas
ruas todo mundo diz que Nisman foi assassinado”.
“Isto dá sensação de impunidade…
nisto há traços mafiosos”, afirmou Marcelo Tinelli, um popular apresentador de
programas frívolos, presidente do clube San Lorenzo, quem, segundo alguns
observadores, sonha em ser o Silvio Berlusconi do Pampa Argentino.
Se os partidos de oposição não
demonstraram capacidade para formar uma aliança forte, os partidos de fato têm
capacidade para criar um estado de angústia nacional e semear um clima de
desestabilização. Possivelmente, o partido da mídia, junto à corporação
jurídica, sejam as forças mais hostis à Casa Rosada.
Durante o fim de semana, os
jornais tradicionais publicaram com grandes manchetes o anúncio do promotor
Nisman sobre as revelações que faria nesta segunda-feira no Parlamento. No
Clarín, publicou-se uma notícia sobre o “fim de um ciclo” iniciado em 2003 pelo
ex-presidente Néstor Kirchner, continuado por sua esposa e atual chefa de
Estado.
Promotor amigo do FBI e da CIA
Dezenas de papéis revelados pelo
Wikileaks mostraram que o promotor Albert Nisman se reunia frequentemente com
representantes do governo norte-americano, a quem consultava sobre como levar
adiante o processo pelo atentado terrorista contra a entidade judaica em 1994
em que houve 85 mortos e 300 feridos. Os agentes da inteligência
norte-americanos repetiam regularmente que Nisman deveria acusar o Irã.
“Não é preciso seguir a pista
síria, nem as conexões locais [dos terroristas] porque isto pode enfraquecer as
acusações contra os iranianos”, disseram agentes do FBI consultados por Nisman,
segundo um dos papéis obtidos pelo Wikileaks.
Santiago O Donnell, editor do
jornal Página12 e autor de um livro baseado em informações do Wikileaks,
afirmou que a Embaixada dos Estados Unidos estava muito preocupada com o curso
da investigação do atentado contra a AMIA, e que o assunto aparece em 196
comunicações da missão diplomática norte-americana.
O acadêmico Atilio Borón argumentou
que Nisman não era um promotor apegado a normas jurídicas, mas um elemento que
operava politicamente segundo ordens de Washington.
“Ele ia regularmente à Embaixada
receber instruções do FBI, da CIA e… com essa gente pesada não se brinca, eles
em qualquer momento podem decidir eliminar alguém que tenha ajudado, mas que já
deixou de ser útil”, disse Borón. Do seu ponto de vista, ainda não se pode
saber se Nisman se suicidou ou se foi assassinado, e convém ter como uma das
hipóteses que Washington o tenha porque não tinha prova para fundamentar suas
denúncias.
“Isto que aconteceu com Nisman
não pode ser analisado como uma questão local… poucas horas depois de ele
aparecer morto houve um comunicado do governo de Israel.. tudo isso acontece 10
dias depois do atentado em Paris contra a Charlie Hebdo, 9 dias depois dos
ataques ao supermercado judeu de Paris”.
“Esta morte se insere em um marco
mais amplo que é o que alguns comentaristas chamam como a grande guerra do
ocidente contra o Islã”, afirmou Atilio Borón.
DarioPignotti
/ Página 12
Disponível em: (http://www.pragmatismopolitico.com.br/2015/01/quem-interessava-morte-promotor-argentino-alberto-nisman.html).
Acesso em: 22/jan/2015.
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