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Em artigo exclusivo a Opera Mundi, Marco Aurélio Garcia defende condenação de ofensiva israelense por parte do governo brasileiro
Agência Efe

Dezenas de palestinos morreram apenas com os ataques de Israel desta quinta-feira (24/07)
Leia mais: “Estamos desiludidos com a posição do Brasil”, diz cônsul-geral de Israel em SP
Agência Brasil

Leia especial de Opera Mundi sobre os 65 anos da criação do Estado de Israel
Nunca os esqueceremos.
O que está em jogo na Faixa de Gaza
Em artigo exclusivo a Opera Mundi, Marco Aurélio Garcia defende condenação de ofensiva israelense por parte do governo brasileiro
Esta nota estará seguramente desatualizada quando for publicada. Mais
de setecentos palestinos – grande parte dos quais mulheres, crianças e
anciãos – foram mortos nos bombardeios das Forças Armadas israelenses na
Faixa de Gaza desde que, há duas semanas, iniciou-se uma nova etapa
deste absurdo conflito que se arrasta há décadas. A invasão do
território palestino provocou também mais de 30 mortos entre os soldados
de Israel.
Agência Efe

Dezenas de palestinos morreram apenas com os ataques de Israel desta quinta-feira (24/07)
O governo brasileiro reagiu em dois momentos à crise. Na sua nota de 17
de julho “condena o lançamento de foguetes e morteiros de Gaza contra
Israel” e, ao mesmo tempo, deplora “o uso desproporcional da força” por
parte de Israel.
Em comunicado de 23 de julho e tendo em vista a intensificação do
massacre de civis, o Itamaraty considerou “inaceitável a escalada da
violência entre Israel e Palestina” e, uma vez mais, condenou o “uso
desproporcional da força” na Faixa de Gaza. Na esteira dessa percepção, o
Brasil votou a favor da resolução do Conselho de Direitos Humanos da
ONU (somente os Estados Unidos estiveram contra) que condena as “graves e
sistemáticas violações dos Direitos Humanos e Direitos Fundamentais
oriundas das operações militares israelenses contra o território
Palestino ocupado” e convocou seu embaixador em Tel Aviv para consultas.
A chancelaria de Israel afirmou que o Brasil “está escolhendo ser parte
do problema em vez de integrar a solução” e, ao mesmo tempo, qualificou
nosso país como “anão” ou “politicamente irrelevante”.
Leia mais: “Estamos desiludidos com a posição do Brasil”, diz cônsul-geral de Israel em SP
É evidente que o governo brasileiro não busca a “relevância” que a
chancelaria israelense tem ganhado nos últimos anos. Menos ainda a
“relevância” militar que está sendo exibida vis-à-vis populações
indefesas.
Não é muito difícil entender, igualmente, que está cada dia mais
complicado ser “parte da solução” neste trágico contencioso. Foi o que
rapidamente entenderam o secretário de Estado norte-americano, John
Kerry, e o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, depois de suas
passagens por Tel Aviv, quando tentaram sem êxito pôr o fim às
hostilidades.
Como temos posições claras sobre a situação do Oriente Médio –
reconhecimento do direito de Israel e Palestina a viverem em paz e
segurança – temos sido igualmente claros na condenação de toda ação
terrorista, parta ela de grupos fundamentalistas ou de organizações
estatais.
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No 4º ataque contra instalações da ONU, Israel mata dezenas em escola na Faixa de Gaza
Estive, mais de uma vez, em Israel e na Palestina. Observei a
implantação de colônias israelenses em Jerusalém Oriental, condenadas
mundialmente, até por aliados incondicionais do governo de Tel Aviv. Vi a
situação de virtual apartheid em que vivem grandes contingentes de
palestinos. Constatei também que são muitos os israelenses que almejam
uma paz duradoura fundada na existência de dois Estados viáveis,
soberanos e seguros.
É amplamente conhecida a posição que o Brasil teve no momento da
fundação do Estado de Israel. Não pode haver nenhuma dúvida sobre a
perenidade desse compromisso.
Temos reiterado que a irresolução da crise palestina alimenta a
instabilidade no Oriente Médio e leva água ao moinho do fundamentalismo,
ameaçando a paz mundial. Não se trata, assim, de um conflito regional,
mas de uma crise de alcance global.
Agência Brasil
É preocupante que os acontecimentos atuais na Palestina sirvam de
estímulo para intoleráveis manifestações antissemitas, como têm ocorrido
em algumas partes, felizmente não aqui no Brasil.
A criação do Estado de Israel, nos anos quarenta, após a tragédia do
Holocausto, foi uma ação afirmativa da comunidade internacional para
reparar minimamente o horror provocado pelo nazi-fascismo contra judeus,
ciganos, homossexuais, comunistas e socialdemocratas. Mas o fantasma
do ressurgimento ou da persistência do antissemitismo não pode ser um
álibi que justifique o massacre atual na Faixa de Gaza.
Leia especial de Opera Mundi sobre os 65 anos da criação do Estado de Israel
O Brasil e o mundo têm uma dívida enorme para com as comunidades
judaicas que iluminaram as artes, a ciência e a política e fazem parte
da construção da Nação brasileira. Foi esse sentimento que Lula
expressou em seu discurso, anos atrás, na Knesset, quando evocou, por
exemplo, o papel de um Carlos e de um Moacir Scliar ou de uma Clarice
Lispector para a cultura brasileira. A lista é interminável e a ela se
juntam lutadores sociais como Jacob Gorender, Salomão Malina, Chael
Charles Schraier, Iara Iavelberg, Ana Rosa Kucinski e tantos outros.
Nunca os esqueceremos.
(*) Marco Aurélio Garcia é assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais
Disponível em: (http://operamundi.uol.com.br/conteudo/opiniao/37161/o%20que%20esta%20em%20jogo%20na%20faixa%20de%20gaza.shtml). Acesso em: 30/jul/2014.
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