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terça-feira, 1 de abril de 2014

"Foi derrubado um projeto de nação", diz João Vicente...

31/mar/2014...


"Foi derrubado um projeto de nação", diz João Vicente

publicada em 17 de março de 2014
Entrevista com João Vicente Goulart, filho do ex-presidente Jango


Foto: Agência O Globo

Para manter a esperança, nos tornamos aves migratórias, diz João Vicente Goulart, filho do ex-presidente Jango
Aos sete anos de idade ele viu o pai ser deposto pelo golpe militar de 1964. Cinquenta anos depois, João Vicente Goulart, filho do ex-presidente João Goulart, avalia que a lembrança daquela época deixa uma lição: “Que as novas gerações possam conhecer e optar por uma reforma na estrutura política do país”.

É à tentativa de reformas que ele credita a deposição do pai e desconfia que foi isso também que levou Jango à morte, em 1976. As chamadas “reformas de base” foram propostas pelo então presidente e abrangiam áreas como educação, política e agricultura. A reforma tinha pontos polêmicos, como a previsão de limite para a remessa de capital para fora do Brasil e a desapropriação de imóveis.

Os conceitos sobre a história do país, que se confundem com sua própria trajetória, João Vicente formou com o tempo. “Como eu tinha sete anos, não lembro dos acontecimentos, mas lembro que tive que terminar minha alfabetização no Uruguai, porque estávamos no exílio”, conta João Vicente.

Para garantir que o passado não seja esquecido, ele estará em Vitória na próxima segunda-feira, no seminário “Brasil - últimos cinquenta anos”, promovido pela Escola de Serviço Público do Espírito Santo. Ontem ele falou com a reportagem sobre esse período. Confira:

Você avalia que o golpe foi planejado antes mesmo de Jango tomar posse?
Isso é evidente. Os militares queriam dar o golpe dez anos antes, em 1954, com Getúlio. Só não deram porque ele se suicidou. Isso levou o país a mais um período de democracia. Em 1955, quase que o Juscelino não assume. Contra Jango, em 1961, houve um endurecimento dos ministros militares para que ele não assumisse e o golpe veio em 1964.


Foto: Arquivo Nacional/Instituto João Goulart



João Vicente estará em Vitória na segunda-feira para participar de um seminário. Acima, ele com os pais e a irmã: lembranças de um período conturbado

Não foi meu pai que foi derrubado. Foi derrubado um projeto de nação, que não temos até hoje. Ele reformaria o governo e a nação tinha um projeto para o país. Depois da volta da democracia temos projetos de governo, mas não de país. Só naquele período houve.

E o argumento de que o golpe serviu para evitar um outro golpe, que seria orquestrado pelo próprio Jango?

Isso não faz sentido para ninguém. Era a justificativa da ditadura, o discursinho deles, um discurso ultrapassado. Não fazia sentido nem para o presidente dos Estados Unidos na época, Lyndon Johnson. A Casa Branca sabia que se acusava Jango de comunista, mas o próprio presidente Lyndon disse que sabia que o comunismo era incipiente no Brasil.

Você lembra do golpe?

Eu tinha apenas sete anos. Hoje tenho 57. Não lembro dos acontecimentos. Lembro que fomos para o exílio e na adolescência compreendemos o motivo de não podermos voltar e obter nosso país de volta.

Como a deposição impactou sua vida familiar?

Com 7 anos eu fui alfabetizado no Uruguai, um exemplo de democracia. Já tinha começado aqui e tive que terminar lá. Meus amigos de infância estão lá. Depois fomos para o Paraguai, para a Argentina, para a Europa. Isso faz parte do crescimento das pessoas no exílio. Para manter a esperança, nos tornamos aves migratórias.

E a morte do seu pai? Há teorias de que ele morreu envenenado pelos militares e não devido a um ataque cardíaco, que é a versão oficial.

As circunstâncias são duvidosas, uma série de indícios que nos levam a investigar. É uma obrigação do Estado. Queremos, através do Instituto Presidente João Goulart, esclarecer esses fatos para saber o que pode ter acontecido. É um direito da população saber o que houve com o seu presidente, porque o que houve com ele também houve com o Brasil.

Disponível em: (http://www.institutojoaogoulart.org.br/noticia.php?id=10651). Acesso em: 31/mar/2014.

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