19/abr/2014...
Por Mark Weisbrot
Disponível em: (http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=PT&cod=80210). Acesso em: 19/abr/2014.
As mentiras sobre a censura da mídia na Venezuela
Além do fato de que o New York Times teve de fazer uma correção dia 26 de fevereiro por declarar
que a Globovisión da Venezuela era a "única emissora de televisão que
transmitia regularmente críticas ao governo,” Daniel Wilkinson, do Human Rights Watch (Observatório de
Direitos Humanos), repetiu o mesmo erro no New York Review of Books (NYRB)dia 9 de abril,
dizendo que:
Duas das quatro emissoras privadas diminuíram sua cobertura crítica
voluntariamente; uma terceira foi forçada a sair do ar, e a quarta foi cercada
de sanções administrativas e acusações criminais até que seu proprietário a
vendeu ano passado a investidores assumidamente ligados ao governo, que
reduziram dramaticamente o conteúdo crítico.
Na verdade, as emissoras que ele declara que "diminuíram sua cobertura
crítica,” Venevisión e a Televen, regularmente transmitem conteúdo crítico
contrário ao governo, como documentado aqui.
Assim que a declaração de que as emissoras "diminuíram sua cobertura
crítica,” se demonstraram falsas, a NYRB, como o New York Times, deveriam se
retratar.
A quarta emissora que ele se refere é a Globovisión. Durante o período de
preparação para última eleição presidencial, de acordo com um estudo do Carter
Center, a Globovisión cobriu nove vezes mais o candidato da oposição
Henrique Capriles em comparação a cobertura dada a Nicolás Maduro. Os leitores
acostumados à televisão de direita dos EUA notarão que não seria possível que
um canal como a Fox News, por exemplo, se safasse de uma coisa dessas. Então, se
a Globovisión "reduziu dramaticamente” sua cobertura anti-governo - Wilkinson
não oferece nenhum dado - porque ela foi comprada por alguém que queria
praticar jornalismo convencional, a emissora ainda teria muito espaço para
criticar o governo.
E, na verdade, no dia 17 de fevereiro, no calor dos protestos recentes, a
Globovisión transmitiu uma entrevista com a líder da oposição Maria Corina
Machado, onde ela denunciou uma série de supostos crimes cometidos pelo governo
e argumentou que as pessoas tinham o direito de derrubá-lo. Isto joga um pouco
de sombra sobre a declaração dada por Wilkinson de que "enquanto alguns
programas de notícias entrevistaram líderes da oposição e críticos do governo,
eles o fazem sob ameaça de leis e restrições políticas impostas pelo governo”.
É uma pena que Wilkinson tenha ignorado ou talvez não tenha lido o
relatório do Carter Center sobre a mídia venezuelana durante a tão contestada
campanha presidencial de 2013. Os dados do relatório, que levavam em conta osíndices de audiência, indicaram que a cobertura da
mídia televisiva estava igualmente dividida entre os dois candidatos. Isto
contradiz o exagero que ele coloca em seu artigo, o de que há um governo
"autoritário” tentando "controlar como as notícias são dadas na televisão
venezuelana.”
O artigo de 2800 palavras - que provê poucos links ou fontes que
sustentem dúzias de alegações - contém um sem-número de exageros e imprecisões.
Por exemplo, ao descrever os protestos, ele diz que "a maior parte deles foi
pacífico, apesar de que em muitos lugares os manifestantes construíram
barricadas nas ruas, e alguns jogaram pedra e coquetéis Molotov.” Isso
contradiz o noticiário diário da mídia internacional. Algumas das marchas
realizadas durante o dia foram pacíficas, mas todas as noites,por cerca
de dois meses, houve protestos violentos onde os participantes jogaram pedras e
coquetéis molotov nas forças de segurança e até sobre vizinhos que tentavam
passar pelas barricadas. Isso sem mencionarmos alguns tiroteios causados por
manifestantes. Ele não menciona este fato, mas metade das 39 mortes a que ele se refere aparentemente
foram causadas pelos manifestantes.
Não me entendam mal. É o trabalho dos grupos de direitos humanos
denunciarem e exporem todos os abusos cometidos pelos governos (e atores que
não fazem parte do Estado também), e eu não criticaria uma organização de
direitos humanos por ser muito dura com qualquer governo. E se Wilkinson quer
ignorar ou fingir que não consegue enxergar que esta é mais uma tentativa para derrubar um governo
democraticamente eleito, isto é direito dele. Mas porque os exageros grosseiros
e as declarações falsas? Não há tantas coisas a se preocupar sem ter de
inventar situações?
O Human Rights Watch podem continuar usando estes dois pesos e duas medidas se quiserem.
Eles não levantaram um dedo quando um golpe apoiado pelos EUA derrubou o
governo democraticamente eleito no Haiti em 2004. Os responsáveis pelo golpe
mataram milhares de pessoas, e funcionários do governo constitucional foram
colocados na cadeia. Isto não suscitou uma fração da preocupação que o HRW tem
tido com a "independência do poder judiciário” na Venezuela, que é claro que
não era mais independente antes que o inimigo Chávez ter sido eleito.
Em 2008, mais de 100 acadêmicos assinaram uma carta documentando e
"destacando os exageros e imprecisões” em um relatório "motivado politicamente”
pelo HRW na Venezuela. Está claro que o HRW não tomou nenhuma atitude para
corrigir suas informações ou descuido com os fatos. Isto é uma vergonha. E é
claro, não há nenhum custo político nos EUA ao cometer exageros e emitir
informações falas sobre governos que Washington quer desestabilizar. Mas isto não serve à causa
dos direitos humanos; isto enfraquece o bom trabalho que o HRW faz em outros
países quando eles são vistos como aliados de uma "mudança de regime” apoiada
pelos EUA.
*Tradução de Roberto Brilhante/Carta Maior . Você pode conferir o artigo em inglês aqui.
Disponível em: (http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=PT&cod=80210). Acesso em: 19/abr/2014.
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