ARTIGO 10/07/2013
A difícil tarefa política de sair do armário
Na Segunda Consideração Intempestiva, Nietzsche se dedica a uma pergunta: a consciência histórica é útil ou inútil para a vida? Entenda-se por vida sobretudo ação, ação política. Num texto de franca oposição ao historicismo de matriz iluminista, ele parece ter levado a dialética hegeliana mais a sério que os hegelianos, os de esquerda (Marx entre eles), assumindo uma espécie de historicismo radical. Jamais faremos algo de grandioso sem que nos sintamos momentaneamente ‘fora da história’, mas a capacidade de esquecimento deve saber reconectar-se à memória.
Trata-se de saber esquecer a tempo como de saber recordar a tempo; é imprescindível que um instinto vigoroso nos advirta sobre quando é necessário ver as coisas historicamente e quando é necessário não as ver historicamente. É este o princípio sobre o que o leitor deve refletir: o sentido histórico e a sua negação são igualmente necessários à saúde de um indivíduo, de uma nação e de uma civilização.”(grifos dele)
Em nossa jovem democracia de tempos revoltos, urge recuperar a tempo a dignidade da política, de homens e mulheres que se dedicam à política. Há um mantra histórico, que envolve amplo espectro de setores, os mesmos que se comprazem em simplesmente desprezar a vida pública e profissional dos políticos, como se isso fosse uma verdade simples, onde alhos e bugalhos se misturam, nos desobrigando a dificílima e cidadã tarefa de separar joio e trigo.
Eu fico estupefacta com a covardia dos políticos diante do senso comum alimentado durante anos e com muito afinco pela ampla cobertura da grande mídia nacional, comprometida até a raiz com seus interesses no mundo político que achaca sem piedade, e bastante cúmplice da corrupção em outros meios, sobretudo o empresarial e dos profissionais liberais, aqueles que mudam o preço com recibo, ou que cobram seus 10% de fornecedores, recebendo duas vezes do mesmo cliente. Essa mesma parcela do gigante indignada com ‘tudo que aí está’. Francamente.
Evidentemente, os governos do PT têm motivos de sobra para ‘mea culpas’. Mas o maior deles é não ter conseguido fazer frente à desqualificação da política institucional, não por conta do pacto conservador, mas pela pouca disposição de atravessá-lo quanto à tomada de consciência crítica das novas gerações, para que se deem conta de suas tarefas históricas, depois que a nebulosa se dissipar. Exultei com a explicação orgulhosa do deputado Jean Wyllys a respeito de sua remuneração e de suas inúmeras tarefas políticas, de sua ideologia.
Conheço vários políticos íntegros. Precisam sair do armário também. Do armário da política envergonhada. Aos jovens e velhos enojados com tudo, sugiro informarem-se também nas TVs e FMs legislativas, entre uma e outra passeata, além de só ver publicidade e noticiários de onde parecem tirar slogans e as razões principais para odiar a política. Comprometam-se politicamente, pois a história nos mostra que é muito fácil por o gigante pra nanar. Pelo menos alguns deles.
Sandra Helena de Souza
sandraelena@uol.com.br
Professora de Filosofia e Ética da Unifor
sandraelena@uol.com.br
Professora de Filosofia e Ética da Unifor
Nenhum comentário:
Postar um comentário