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domingo, 6 de fevereiro de 2011

Neodesenvolvimentismo Art. Manfredo Araújo de Oliveira

05.02.2011, 17:00
Neodesenvolvimentismo
Fonte: O POVO Online/OPOVO/Opinião

Analistas da realidade brasileira de nossos dias insistem em afirmar que o “lulismo”, que sem dúvida marcou fortemente nossa cultura política dos últimos anos, não se reduz simplesmente a um fenômeno de caráter populista, mas se radica também num conteúdo determinado que constitui justamente o que se vem chamando de “Modelo Neodesenvolvimentista”. Trata-se da retomada do modelo econômico nacional-desenvolvimentista que foi inaugurado no Brasil nos anos trinta por Vargas.

Para os analistas do Cepat em Curitiba o Nacional-Desenvolvimentismo de Lula, que tudo indica deve continuar, assemelha-se mais ao período JK do que à Era Vargas que investiu para a formação do capital produtivo sob controle do próprio Estado. Este modelo iniciou seu processo de desmonte com o governo de JK que privilegiou o capital privado e se caracterizou pela formação do tripé: Estado, empresas estrangeiras, empresas nacionais.

O papel do Estado consistiu em responder às demandas de infraestrutura, energia e logística para atender aos interesses do capital privado nacional e transnacional. Este tipo de nacional-desenvolvimentismo teria encontrado seu fim no governo de FHC através de uma transferência brutal de ativos do Estado para o mercado por meio do trinômio: liberalização, privatização, desregulação.

O segundo mandato de Lula significou - sem romper totalmente com a política macroeconômica de seu antecessor - a passagem para um modelo em que o Estado recupera seu papel protagonista. O modelo neodesenvolvimentista de Lula significou um reposicionamento do Brasil na geopolítica mundial na medida em que o País assumiu definitivamente o papel de nação economicamente estratégica no continente latino-americano e se fez ouvir nos grandes fóruns internacionais.

Esta nova forma do modelo se caracteriza por três vertentes: Estado financiador, Estado investidor e Estado Social. “Estado financiador” significa uma reconfiguração do capitalismo brasileiro, pois utilizando o BNDES e os fundos de pensão o Estado brasileiro assume o papel de indutor do crescimento econômico fortalecendo grupos privados em setores estratégicos. A ideia básica foi que empresas brasileiras competentes e competitivas deveriam merecer apoio para se afirmaram internacionalmente.

A principal característica do capitalismo brasileiro hoje é a participação ativa do Estado na constituição de novos “global players”, portanto, de empresas com capacidade de disputa no mercado internacional. “Estado investidor”: manifesta-se prioritariamente no PAC que é um conjunto de grandes obras de infra-estrutura para alavancar o crescimento econômico do país. Entre as principais: a construção de hidroelétricas, a transposição do Rio São Francisco, a retomada do programa nuclear.

“Estado Social”: retomada do papel do estado como indutor da mitigação da miséria e da superação da desigualdade. Aqui se inclui uma série de programas. Este projeto tem uma faceta política certamente curiosa: não significou rupturas com o status quo anterior, isto é, com os setores grão-burgueses nacionais e transnacionais. O capital produtivo e financeiro, o agronegócio, os banqueiros, os empreiteiros continuam entre os maiores ganhadores do período. Justamente aqui se deve concentrar agora o grande debate sobre alternativas para o País.

Manfredo Araújo de Oliveira - Filósofo
manfredo.oliveira@uol.com.br

...Disponível no Portal O Povo Online: (
http://www.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2011/02/05/noticiaopiniaojornal,2098564/neodesenvolvimentismo.shtml). Acesso em: 06.fev.2011.

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