ARTIGO: MENDES, VEJA E O CONLUIO DOS DESESPERADOS
31/05/2012 05:13
por Elvino Bohn Gass
Aos petistas interessa que os episódios
do que se convencionou chamar, retoricamente (conforme o próprio
inventor do termo), de mensalão, sejam julgados. A permanência do
falatório acerca deste assunto só serve aos adversários do PT que,
confrontados com os governos muito bem sucedidos de Lula e Dilma, há
anos perderam a linha. E a compostura.
Eles sabem. O que se chamou de mensalão
foi uma prática inaugurada por um dos seus (o tucano Azeredo, em Minas).
Mas sabem, também, que em caso de condenação de um petista, a foto
deste é que estampará a capa da revista Veja. Provavelmente ilustrado
com chifres e fumaça nas ventas.
A ideia que preside a tática antipetista
é simples: é preciso diminuir a força do PT. Porque o PT tem Dilma e o
governo federal mais bem avaliado da história, a maior e uma das mais
qualificadas bancadas do Congresso e é o partido preferido dos
brasileiros. Como se isso não bastasse, às vésperas de mais uma eleição
municipal, investigações da Polícia Federal provam que alguns dos
maiores acusadores do PT fazem parte de um esquema criminoso que reúne
corrupção, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e outros
malfeitos. Encurralados, PSDB, DEM, PPS e outros ainda menores, precisam
arranjar um jeito de tentar jogar o PT no vento - e o julgamento do
dito mensalão parece ser o sopro da hora.
As investigações da PF já prenderam
Carlos Cachoeira, o bicheiro a quem o líder do Democratas, senador
Demóstenes, servia como um office-boy. Demóstenes era apontado pela
revista Veja como um dos ícones éticos do Senado e mais forte acusador
do PT. Escutas telefônicas autorizadas pela Justiça também comprometem
seriamente o governador tucano Marconi Perillo, com quem Cachoeira
negociou uma mansão e cuja Chefia de Gabinete utilizava um telefone “à
prova de grampos”, presenteado pelo bicheiro. Demóstenes, Perillo, o
desespero só aumenta. Até porque, há uma CPI em andamento no Congresso
com potencial para estabelecer a responsabilidades políticas, cassar
mandatos e desmontar de um esquema criminoso do, qual se beneficiaram os
oposicionistas do PT. E quem conhece, sabe: o PT irá até o fim nesta
investigação.
É neste contexto de desespero
oposicionista que se insere um episódio tardio, a conversa entre o
ex-presidente Lula e o ministro Gilmar Mendes presenciada pelo
ex-ministro Nelson Jobim. Dos três personagens do encontro, dois – Lula e
Jobim – dizem a mesma coisa: não houve qualquer pressão para que se
adiasse o julgamento do mensalão. O terceiro, Mendes, insinua que foi
pressionado. Não por acaso, a insinuação vira manchete da revista Veja.
Logo Veja, que centenas de vezes moldou fatos, inventou dossiês, usou
fontes suspeitas, sempre contra o PT.
Mas quem é Mendes e qual o papel de Veja
em tudo isso? Mendes é o homem para quem um outro ministro do Supremo,
Joaquim Barbosa, disse: - Vossa Excelência não está nas ruas, está na
mídia destruindo a Justiça desse país. Me respeite porque o senhor não
está falando com seus capangas do Mato Grosso”. Capangas? Um ministro do
Supremo com capangas? Reportagem da revista Carta Capital explica a
afirmação do ministro Barbosa: “Nas campanhas de 2000 e 2004, Gilmar
(Mendes), primeiro como advogado–geral da União do governo Fernando
Henrique Cardoso e depois como juiz da Corte, não poupou esforços para
eleger o caçula da família (Chico) prefeito de Diamantino, município a
208 km de Cuiabá/Mato Grosso... circulou pelos bairros da cidade,
cercado de seguranças, para intimidar a oposição...” Para registro: o irmão do ministro é do PPS.
Sobre Mendes, vale lembrar que viajou
várias vezes com Demóstenes, de quem era um dos interlocutores
prediletos. A relação entre ambos é forte. E vem de longe. Tome-se, por
exemplo, o ano de 2008, quando Mendes presidia o Supremo. Naquele ano, a
Polícia Federal já estava chegando perto de Cachoeira. De repente, vem a
revista Veja (Veja, sempre Veja) e traz uma notícia “bombástica”: o
Supremo está sendo espionado. As fontes? Demóstenes e Gilmar Mendes.
Nunca houve um áudio sequer que desse crédito ao grampo. Entretanto,
Veja fez manchete.
Mas justificado pelas suspeitas nunca
provadas de que estaria sendo espionado, Mendes contrata para ser seu
consultor de contra-espionagem, um ex-agente da ABIN chamado Jairo
Martins. Sabem que é Jairo Martins? Ele mesmo, o homem apontado pela
Polícia como um dos principais operadores do esquema de... Cachoeira, o
araponga do bicheiro. Não por acaso, em Brasília, já se diz que entre
Cachoeira e Mendes há pelo menos um dado comum incontestável: ambos
utilizavam o mesmo personal-araponga. Seria risível se não fosse tão
revelador.
Há mais: Mendes foi o ministro que
concedeu o discutível habeas corpus ao banqueiro Daniel Dantas num
inesperado final de semana. Dantas... sim, a fonte a quem a revista Veja
(olha a Veja aí de novo) deu crédito na história do estapafúrdio dossiê
que revelaria contas de figurões da República no exterior, Lula entre
eles. Jamais comprovado porque absolutamente forjado, o dossiê
desapareceu das páginas da revista.
Pois é, esta é a Veja. Uma publicação
que manteve relações tão estreitas com Cachoeira que este determinava
até em qual espaço da revista suas “informações” deveriam ser
publicadas. É diretor de Veja o jornalista que manteve centenas de
telefonemas com Cachoeira e que das informações dele se servia para
atacar o governo do PT. Veja é, portanto, o veículo de imprensa que
melhor conhecia o modus operandi de Cachoeira. No entanto,
jamais o denunciou. Repito: jamais o denunciou! Muito se poderia dizer
ainda sobre Veja, mas fique-se com a fala de Ciro Gomes, um aliado de
Dilma mas um crítico do PT: “Todo mundo sabe que a revista Veja tem
lado. Todo mundo sabe que a revista Veja é a folha da canalhocracia
brasileira. É ali que o baronato brasileiro explora o moralismo a
serviço da imoralidade”.
Veja, a revista que mais
atacava o PT, perdeu sua principal fonte oficial – Demóstenes – e sua
principal fonte não-oficial – Cachoeira. Restou-lhe tentar um último
golpe: atacar Lula, o maior símbolo petista. E a escolha de Gilmar
Mendes para o serviço faz todo o sentido neste verdadeiro conluio de
desesperados.
*Deputado Federal PT/RS, Secretário Nacional Agrário e vice-líder da bancada do PT na Câmara.
Do Portal Bohn Gass: (http://www.bohngass.com.br/bohngass/noticias/item?item_id=240275). Acesso em: 31/mai/2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário