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sábado, 31 de agosto de 2013

Perto do fim da "novela Lei de Meios", Estado se sai melhor que Grupo Clarín em audiência pública (Aline Gatto Boueri)

31/08/2013 - 16h26 | Aline Gatto Boueri | Buenos Aires

Perto do fim da "novela Lei de Meios", Estado se sai melhor que Grupo Clarín em audiência pública

Defesa de empresa de comunicação derrapa e advogados do governo são mais técnicos nas questões da Corte Suprema










Depois de dois dias de audiência pública na Corte Suprema, a batalha judicial sobre a aplicação da LSCA (Lei de Serviços de Comunicação Audiovisual) – a Lei de Meios – está perto de chegar ao fim. Hoje a norma está vigente, mas o máximo tribunal da Argentina deve ainda se pronunciar sobre a constitucionalidade de quatro artigos fundamentais para a reconfiguração do espectro radioelétrico do país.

Nesta etapa do processo, a defesa do Grupo Clarín construiu seu argumento central na premissa de que os meios do grupo só podem fazer “jornalismo independente” com o tamanho atual e que, ao reduzir a quantidade de licenças e a escala da empresa, seria impossível investir em novas tecnologias e, por fim, subsistir.

Em 2007, o ex-presidente falecido Néstor Kirchner aprovou em seu último dia de mandato a fusão entre Cablevisión – empresa de TV a cabo cujo Grupo Clarín é acionista majoritário com 60% – e Multicanal. A empresa passou a ter hegemonia sobre o mercado do ramo. Outra norma aprovada por Néstor Kirchner, em 2005, o Decreto 527/05, suspendeu a concessão de licenças de rádio e TV por dez anos na Argentina, o que também beneficiou as empresas de comunicação que já existiam, entre elas o Grupo Clarín.


Ao indagar se antes dessas normas a sustentabilidade do grupo estava afetada, a Corte Suprema desmontou a defesa, que conseguiu ir muito pouco além de “o modelo de negócios anterior era diferente” e que “a longo prazo a empresa não poderá subsistir em um mercado de convergência” por conta do investimento em novas tecnologias. Erro aí. A LSCA não trata de convergência – é inclusive um dos pontos lembrados pelos críticos mais ferrenhos da norma, como o semiólgo Eliseo Verón, que em sua apresentação como amicus do Grupo Clarín disse que a LSCA “já era obsoleta no dia em que foi publicada no Boletim Oficial.”
Agência Efe

Audiência pública foi acompanhada com grande atenção pela população argentina


Neste ponto, a Corte lembrou que o investimento em novas tecnologias não era um aspecto relacionado com a LSCA e, a partir daí, os argumentos do grupo se desmantelaram. Várias vezes a defesa foi chamada a observar a pergunta. Gaguejaram e passaram a palavra entre si em meio a claras dificuldades para apresentar seu ponto de vista com coerência.

Estado

Do lado do Poder Executivo, a realidade foi outra. Das 36 perguntas respondidas à Corte Suprema – 19 a mais das que foram feitas ao Grupo Clarín -, a equipe de defesa foi segura e mais articulada. Falhou uma vez, quando perguntada sobre distribuição de licenças a meios de comunicação comunitários, prevista pela lei. Não soube responder à Corte quantas haviam sido repartidas, o que confirma as críticas sobre a lei, apesar de vigente, não ser aplicada no que se pode.

A defesa foi sábia. Diferenciou valor simbólico e valor de mercado para argumentar sobre por que era necessária uma lei de regulação da mídia quando já há uma lei de regulação de mercado. Também definiu a licença como privilégio, no sentido de que é uma concessão pública e que não gera direitos adquiridos, o que vai em concordância com o segundo parágrafo do artigo 48 da lei, um dos quatro questionados pelo Grupo Clarín. No entanto, argumentou que não pode ser retirada sem um devido processo administrativo, ou seja, anulou o argumento de que a LSCA permitiria a governos autoritários a retirada de licenças a meios de comunicação opositores. 
O Poder Executivo Nacional fez uma defesa técnica, com solidez, ao responder as perguntas da Corte Suprema. Ao defender a regulação sobre o sistema de TV a cabo, lembrou que, na prática, a hegemonia da Cablevisión no mercado impede o acesso a sinais de TV aberta, uma realidade na Argentina. À diferença da Capital Federal e sua região metropolitana, muitas localidades do interior do país só têm acesso a alguns sinais de TV aberta por meio do serviço de televisão paga, a cabo, mercado no qual o Clarín é hegemônico.

Também sobre o artigo 45 da LSCA, foco principal do embate, a defesa do Estado foi técnica e melhor que a do Grupo Clarín. Quando convidada a explicar o limite de 35% do mercado nacional para a prestação de serviços, a equipe de advogados lembrou, sem repetir a diferença entre uma regulação simbólica e de mercado, o que parece óbvio: 35% de participação, principalmente em um setor estratégico, é um valor muito elevado.

Debate pendente 

“Na Argentina existem somente 40 canais de TV aberta, por isso 85% das casas estão conectadas a algum sistema de TV a cabo, senão não podem ver televisão. No país inteiro, apenas em sete cidades há uma oferta maior que um canal de TV aberta. O Grupo Clarín domina o mercado de TV a cabo e faz uso dessa posição dominante. Tem uma política de preço predatória: cobra muito caro onde não tem concorrência e muito abaixo do custo do serviço onde tem”, explica a Opera Mundi o especialista em regulação da mídia Santiago Marino.

Não há no país hoje regras claras sobre pauta oficial. A distribuição de publicidade, fonte importante desde a estatização da Aerolíneas Argentinas e de 51% da petrolífera YPF, como lembra Marino, fica a critério do governo.

A forma como meios de comunicação comunitários se sustentariam em um cenário de aplicação plena à LSCA também é uma conta pendente. “Há uma reação analógica à LSCA no setor de meios comunitários. Todos querem uma licença porque durante 30 anos não tiveram nada. Acho que seria uma solução combinar o acesso a recursos como publicidade oficial ou planos de fomento por concurso a uma estratégia de transmissão em rede, com mecanismos de integração dessas organizações, vínculos com sindicatos para ver se é possível remunerar os profssionais que vão trabalhar aí”, explica Marino. “Não é simples. Deveríamos estar discutindo isso há quatro anos, mas estamos falando do artigo 161”, reclama.

O Grupo Clarín questiona na Justiça a constitucionalidade do artigo 41, que regula a transferências de licenças, do 48, em seu segundo parágrafo, que determina que não se pode alegar “direitos adquiridos” para manter licenças que excedam o limite estipulado pelo artigo 45, e do artigo 161, que estipula o prazo para adequação dos grupos de comunicação à LSCA.

(http://operamundi.uol.com.br/conteudo/opiniao/30938/perto+do+fim+da+novela+lei+de+meios+estado+se+sai+melhor+que+grupo+clarin+em+audiencia+publica.shtml?utm_source=twitterfeed&utm_medium=twitter). 

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Os homens ainda que inconscientemente se sentem mal em relação ao sucesso das esposas ou namoradas (Estudos publicados)

30/08/2013 | 11:54 | AFP-RELAXNEWS
Os homens se sentem mal em relação ao sucesso das esposas
De acordo com um novo estudo publicado no Journal of Personality e Social Psychology, a autoestima subconsciente de um homem pode ficar ferida quando sua esposa ou namorada se destaca
Monkey Business Images/shutterstock.com
Monkey Business Images/shutterstock.com / Um novo estudo descobriu que os homens podem, inconscientemente, não gostar quando suas esposas ou namoradas são bem sucedidos

Um novo estudo descobriu que os homens podem, inconscientemente, não gostar quando suas esposas ou namoradas são bem sucedidos
Com certeza todo homem diz que quer uma esposa inteligente, engraçada, talentosa. Mas um estudo descobriu que subconscientemente o ego do homem sofre um pouco toda vez que sua mulher tem sucesso em algo, não importa em qual área seja.
De acordo com um novo estudo publicado no Journal of Personality e Social Psychology, a autoestima subconsciente de um homem pode ficar ferida quando sua esposa ou namorada se destaca. No entanto, a autoestima das mulheres não foi afetada pelos sucessos ou fracassos de seu parceiro masculino.
"Não faz sentido que um homem possa se sentir ameaçado se sua namorada o supera em algo que eles estão fazendo juntos, como a tentativa de perder peso", disse a autora principal do estudo, Kate Ratliff, da Universidade da Flórida. "Mas esta pesquisa encontrou evidências de que os homens interpretam automaticamente o sucesso de uma parceira como o seu próprio fracasso, mesmo quando eles não estão em concorrência direta."
Na pesquisa, Kate e sua equipe analisaram cerca de 900 pessoas que vivem nos EUA e na Holanda. Os resultados disso mostram que os homens subconscientemente se sentem piores sobre si mesmos quando pensam em algum momento em que sua parceira prosperou em uma situação, e que eles tinham falhado.
Em um teste, a 32 casais da Universidade de Virginia foram dadas o que foi descrito para eles como um "teste de resolução de problemas e inteligência social" e em seguida, eles ouviram que seu parceiro se classificou tanto entre os 12% melhores quanto nos 12% piores em relação a todos os estudantes universitários.
Ouvir que seu parceiro teve uma pontuação alta ou baixa no teste não afetou o que os pesquisadores chamaram de explícita autoestima dos participantes, ou como eles disseram que se sentiram.
Mas quando os participantes também receberam um teste para determinar como eles se sentiram subconscientemente sobre o desempenho de seus parceiros , ou autoestima implícita, os resultados mostraram algo diferente.
Nesse teste, um computador controla a rapidez com que as pessoas associam boas e más palavras com eles mesmos. Por exemplo, indivíduos com alta autoestima implícita que veem a palavra "eu" na tela do computador são mais propensos a associá-la com palavras como "excelente" ou " bom", em vez de "ruim" ou "terrível ".
Independentemente da sua própria pontuação, os homens que acreditavam que sua parceira pontuou entre os 12% melhores demonstraram significativamente uma autoestima implícita menor do que os homens que acreditavam que sua parceira havia pontuado entre os 12% piores.
Em outro experimento, 657 participantes, 284 dos quais eram homens, foram convidados a pensar em um momento em que seu parceiro teve sucesso ou falhou. Não importa a área dessas realizações, seja ela social ou intelectual, os homens subconscientemente ainda se sentiam pior consigo mesmos quando sua parceira tinha sucesso, do que quando ela falhava.
Além disso, as mulheres relataram que se sentem melhor no relacionamento quando elas lembravam de um momento em que seu parceiro teve sucesso, em vez de um momento em que ele havia falhado. Enquanto os homens não.

Disponível em: Os homens se sentem mal em relação ao sucesso das esposas

Fuga de senador boliviano condenado foi ação articulada da direita, acusa deputado Cláudio Puty (Entrevista. Carta Maior)


Fuga de senador boliviano condenado foi ação articulada da direita, acusa deputado

Para Claudio Puty (PT-PA), setores conservadores nos dois países, incluindo pessoal do Itamaraty, estão por traz da operação que custou a cabeça de Antonio Patriota
por Carta Maior publicado 27/08/2013 13:11, última modificação 27/08/2013 16:44
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©ZECA RIBEIRO/CAMARA DOS DEPUTADOS
claudio puty deputado
Claudio Puty diz que episódio é inédito na história da diplomacia brasileira
São Paulo – Em entrevista à jornalista Najla Passos, publicada no site da Carta Maior, o deputado federal Cláudio Puty (PT-PA) afirma que a operação que resultou na fuga para o Brasil do senador boliviano Roger Pinto Molina, no fim de semana, não foi obra individual do diplomata Eduardo Sabóia, que servia na embaixada brasileira em La Paz. Segundo Puty, a ação foi organizada pela direita, com apoio de setores conservadores do Itamaraty que atuam contra governos progressistas e a favor do agronegócio. Leia a íntegra.
A fuga do senador boliviano que custou o cargo ao ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, não foi obra individual de um destemido diplomada brasileiro, mas uma ação organizada pela direita com apoio de setores conservadores do Itamaraty, que mantêm estreitos laços em questões políticas e econômicas, como o boicote aos governos socialistas e a defesa intransigente do agronegócio.
A avaliação é do deputado Cláudio Puty (PT-PA), que participou de uma missão oficial à Bolívia, em março, onde conheceu os três principais personagens envolvidos na trama: o então embaixador do Brasil na Bolívia, Marcel Biato, que patrocinou a aceitação brasileira ao pedido de asilo político do senador, o diplomata brasileiro Eduardo Sabóia, que afirma ter organizado sozinho a fuga do político, e o próprio senador oposicionista Roger Pinto, que viveu 545 dias na embaixada brasileira na Bolívia.
“Esta foi uma ação sem precedente na história da diplomacia brasileira. Como pode um diplomata patrocinar a fuga de um criminoso comum, à revelia do governo brasileiro, escondido do governo boliviano e com o apoio explícito da direita brasileira, que já o aguardava na fronteira do país?”, questiona Puty.
Para ele, é inadmissível que o Brasil, que não aceitou o pedido de asilo político do ex-agente da CIA, Edward Snowden, corra o risco de colocar em xeque as relações com um país amigo para ajudar um criminoso comum como Roger Pinto. “Pelo que consta, o Brasil não reconhece a Bolívia como um governo de exceção. Portanto, essa ação foi um atentado à soberania boliviana que precisa ser punida exemplarmente”, acrescentou.

Missão oficial

O deputado foi à Bolívia acompanhado de outros quatro colegas que, como ele, atuavam na CPI do Trabalho Escravo. Em visita à embaixada brasileira em La Paz, se surpreenderam com a presença de Roger Pinto. “Ele usava a embaixada como escritório particular para fazer oposição ao governo de Evo Morales. Recebia colegas do partido e concedia entrevista livremente”, relembra.
Puty ficou muito impressionado também com a postura de Biato e Sabóia que, a despeito das excelentes relações bilaterais entre Brasil e Bolívia, tratavam aquele país com total desrespeito. “Eles falavam sobre a Bolívia, os bolivianos e o Evo com tanto preconceito que o jantar de recepção à nossa delegação terminou em bate-boca”, recorda ele, ressaltando a cumplicidade ideológica entre diplomatas e senador.
Para o deputado, a aceitação do pedido de asilo político, patrocinada por Biato, foi um erro que, desde então, tem gerado desconforto na relação Brasil e Bolívia. Pressionado, o Brasil decidiu transferir Biato para a Suécia, em junho passado. Saboia, então, passou a responder como embaixador em exercício.

Voz do agronegócio

Proprietário de terras na fronteira com o Acre, Roger Pinto é o principal porta-voz do agronegócio no país. Governou o departamento de Pando, quando acumulou processos por desvios de verba, favorecimento a jogos ilegais e venda de terra pública para estrangeiros. Depois, elegeu-se senador pela Convergência Nacional e passou a líder um bloco de partidos conservadores no parlamento.
Desde que ingressou na carreira política, teve um aumento 290% em seu patrimônio avaliado, hoje, em US$ 1 milhão. Condenado por dano econômico ao país mais pobre da América do Sul, pediu asilo político ao Brasil, em maio de 2011. Em junho, teve a solicitação acatada pelo Itamaraty e se dirigiu à embaixada brasileira em La Paz, onde permaneceu por 545 dias, até a fuga para o Brasil.
De acordo com o portal do governo da Bolívia, além da condenação, o senador responde a quatro processos por corrupção, além de outros dez por crimes comuns: calúnia, difamação e desacato à autoridade. O governo boliviano garantiu que o episódio não irá afetar as relações da Bolívia com o Brasil, mas o Ministério Público do país já estuda pedir a extradição de Roger Pinto.

Fuga espetacular

Roger Pinto deixou La Paz em carro oficial da embaixada brasileira, na companhia de Saboia. Atravessou a Bolívia e despistou a imigração até cruzar a fronteira. Em Corumbá (MS), foi recebido pelo presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Ricardo Ferraço (PMDB-ES), que o acompanhou até Brasília, de avião.
À imprensa, Saboia afirmou ter tramado sozinho a operação, motivado por questões humanitárias, já que o senador sofre de problemas renais e apresentava quadro de depressão, devido à privação de liberdade e ao afastamento da família, que vive no Brasil.
O Ministério das Relações Exteriores brasileiro demonstrou surpresa, prometeu apurar o caso e convocou Sabóia para prestar esclarecimentos nesta segunda (26). Em nota divulgada no domingo (25), afirmou que abrirá inquérito e tomará as medidas administrativas e disciplinares cabíveis.
Na noite de ontem (26), a presidenta Dilma comunicou a demissão do ministro Antônio Patriota. No lugar dele, assume Luiz Alberto Figueiredo Machado. Diplomata de carreira, ele foi o negociador-chefe da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, e atuava com representante do Brasil na ONU.

(http://www.redebrasilatual.com.br/mundo/2013/08/fuga-de-senador-boliviano-condenado-foi-acao-articulada-da-direita-acusa-deputado-1583.html?utm_source=dlvr.it&utm_medium=twitter). 

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Danos morais. R$ 25mil. Banco indenizará Consumidor por manutenção do gravame indevidamente depois extinta alienação fiduciária. (TJSC).

26/08/2013 16:03

BANCO QUE MANTÉM INDEVIDAMENTE GRAVAME SOBRE CARRO ARCA COM DANOS MORAIS

   A 1ª Câmara de Direito Civil acolheu recurso de um homem contra sentença que aplicara R$ 3,5 mil, a título de indenização por danos morais, a um banco que manteve alienação fiduciária indevida em veículo comprado pelo autor. O órgão julgador majorou a quantia para R$ 25 mil, além de fixar o prazo de 48 horas para a instituição baixar o gravame, sob pena de multa de 1 salário mínimo para cada dia de descumprimento. As despesas do processo foram divididas.

   Em apelação, o banco argumentou que não era sua a responsabilidade pela alienação e que não houve danos ao comprador. O autor, por sua vez, também recorreu e teve o pleito de majoração atendido.

   Segundo a relatora da questão, desembargadora substituto Denise Volpato, "verificou-se que a impossibilidade de transferência [...] do bem se deu em razão da pendência de alienação fiduciária sobre o veículo, gravame este irregular, decorrente de fraude, conforme reconhecido em ação própria e admitido pelo banco recorrente".

   De acordo com os autos, em 2005 o autor comprou um veículo considerado livre de quaisquer ônus e restrições. Contudo, dias depois, ao transitar na cidade, teve o carro apreendido em decorrência de multas e licenças em atraso, e teve de arcar com o pagamento de R$ 800 para liberação do bem, o qual, ainda por cima, estava alienado ao requerido.

   Os magistrados ressaltaram que o banco deixou de realizar o imediato cancelamento da alienação fiduciária, permanecendo inerte ao menos até 2009. A sentença que declarou a ilicitude é de 2007.

   “O desrespeito aos direitos dos brasileiros é tanto que os bancos figuram como o segundo maior litigante do país, o que denota não só a má-qualidade dos serviços bancários, como também o desprezo pelo consumidor e pela dignidade da Justiça [...]”, concluiu a relatora. A votação foi unânime. 

(Apelação Cível n. 2010.082719-1).
(http://app.tjsc.jus.br/noticias/listanoticia!viewNoticia.action?cdnoticia=28618).

Acórdão Clique para visualizar o DocumentoInteiro teor

domingo, 25 de agosto de 2013

Mídia esconde conta tucana na Suíça (Altamiro Borges)

domingo, 25 de agosto de 2013


Mídia esconde conta tucana na Suíça

Por Altamiro Borges

Desde sexta-feira (23) circula nas bancas do país a edição da revista IstoÉ com mais uma bomba contra o PSDB. Segundo a reportagem, os tucanos movimentaram R$ 64 milhões, entre 1998 e 2002, numa conta secreta (número 18.626) no banco Safdié (atual Leumi), da Suíça. A grana teria origem nas propinas pagas pela Siemens e Alstom nos governos paulistas de Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin. 

Parte do dinheiro foi depositada em nome de Jorge Fagali Neto, ex-secretário de FHC. A denúncia é devastadora e bem documentada, mas até agora não mereceu qualquer destaque nos jornais Folha, Estadão e O Globo e nem foi citada no Jornal Nacional.

Pela lógica que impera nas redações da velha mídia, baseada nos princípios da presunção da culpa e da escandalização da política, uma revelação bombástica como esta já teria obtido estrondosa repercussão. 

No geral, a denúncia é publicada na sexta-feira por uma revista semanal; logo ganha destaque nas emissoras de rádio e televisão, sendo motivo dos comentários hidrófobos dos seus "calunistas"; e passa a ser requentada e amplificada pelos jornalões. Esta lógica, porém, nunca prevalece quando se trata de escândalos envolvendo os principais caciques do PSDB.

Quando a mesma revista IstoÉ publicou a primeira reportagem sobre o "propinoduto tucano", o restante da mídia fez silêncio total. Ela só mudou de postura devido a gritaria nas redes sociais e aos protestos de rua em São Paulo, que passaram a exigir a imediata instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar as denúncias. A própria ombudsman da Folha, Suzana Singer, reconheceu que esta pressão mudou o comportamento da imprensa. Temendo o desgaste, o Jornal Nacional da TV Globo só mencionou o caso três semanas após a primeira capa da IstoÉ.

Agora, a mídia tucana faz o mesmo com a denúncia sobre a conta secreta do PSDB na Suíça. Se depender dela, o assunto logo cairá no esquecimento. Este silêncio tem motivos políticos - a velha imprensa nunca escondeu que ama os tucanos e detesta o "lulopetismo" - e econômicos. 

O sempre atento José Augusto, do blog "Amigos do presidente Lula", revelou nesta semana que o governador Geraldo Alckmin torrou em junho mais R$ 3,8 milhões em 15,6 mil assinaturas da Folha, Estadão e Veja. Os tucanos sabem proteger seus "amigos". Já o governo Dilma continua alimentando cobras!

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Leia também:






Disponível em: Altamiro Borges: Mídia esconde conta tucana na Suíça

Homem rouba para ser preso e ter médico. O modelo americano de saúde (Fernando Brito)

25 de agosto de 2013 | 10:50

bkamerica


Homem rouba para ser preso e ter médico. O modelo americano de saúde


A cena se passou sexta-feira, nos Estados Unidos, paraíso do pensamento “coxinha” brasileiro.
Timothy Dean Alsip, 50 anos, entra numa agência do Bank of America filial, em  Portland e entrega um bilhete a um dos caixas.
“Isto é um assalto. Entregue-me um dólar”. 
Depois de receber o dólar, Alsip sentou-se no hall de entrada e esperou a polícia, disseram funcionários segundo o jornal OregonLive .
Quando os policiais chegaram ao banco, o Alsip disse que era um “sem teto”  e precisava de assistência médica. 
Como resultado, ele foi jogado na cadeia do condado de Clackamas sob a acusação de roubo em segundo grau com uma fiança de US $ 250mil.
É a isso que leva um sistema privadíssimo de saúde como o americano, onde a direita se insurge contra qualquer tentativa de medicina pública.
Mas está tudo dentro da lei, como exigem  alguns doutores de jaleco branco ou de toga negra.
Obscurantistas, como os monstros da Idade Média, sobre os quais o Giordano Bruno – o da peça de Bertold Brecht – teve de dizer o seu “eu sustento que a única finalidade da ciência está em aliviar a miséria da existência humana”.
Também nós não devemos ter medo de falar, se não nos fizerem como ao Bruno em Roma, pondo-lhe um pedaço de madeira como rolha à boca.
A ciência, muito menos a ciência médica, pode ser evocada para justificar o abandono de seres humanos.
Idem a lei.
Ambas, se não trabalham pelo ser humano, são odiosas e desprezíveis.
PS. Obrigado a @MoniquePrada pela pauta original
Por: Fernando Brito

(http://tijolaco.com.br/index.php/homem-rouba-para-ser-preso-e-ter-medico-o-modelo-americano-de-saude/). 

O repórter que descobriu o delator da Siemens (Agência Pública e Carta Capital)

por Agência Pública — publicado 25/08/2013 09:06

O repórter que descobriu o delator da Siemens

O jornalista Bryan Gibel veio de Berkeley para investigar a corrupção no metrô de São Paulo. Foi ele quem publicou pela primeira vez a carta e entrevistou o ex-executivo que revelou o escândalo

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Fluente em português, o jornalista veio ao Brasil quando um professor falou sobre investigar um escândalo de corrupção, envolvendo centenas de milhares de dólares
Em um dia frio e nublado em São Paulo, entrei em um escritório bagunçado, escondido nos meandros da Assembléia Legislativa, e me vi diante do ex-executivo da Siemens que há mais de um mês eu tentava localizar. Dois anos antes, esse homem de identidade sigilosa havia entregue a deputados do PT documentos que descreviam minuciosamente como dois dos maiores conglomerados europeus – a francesa Alstom e a alemã Siemens – tinham distribuído propinas por mais de uma década para conseguir contratos de construção e operação das linhas de metrô e do sistema de trens da região metropolitana de São Paulo. Os documentos tinham sido enviados pelo PT, em agosto de 2008, ao Ministério Público de São Paulo, que já participava de uma investigação sobre a Alstom a convite de autoridades suíças.
Depois que me apresentei, ele disse que eu era o primeiro repórter com quem falava sobre Alstom e Siemens, e que me daria a entrevista com a condição de manter o anonimato, porque temia por sua segurança. Também me entregou cópias de duas cartas escritas por ele, relatando, em detalhes, como Siemens, Alstom e outras companhias multinacionais no Brasil haviam pago propinas e formado cartéis ilegais para ganhar contratos públicos de milhões de dólares em São Paulo e Brasília. Contratos e documentos sustentavam a denúncia, e nomeavam os políticos e funcionários públicos que, segundo ele, tinham recebido dinheiro – havia até informações bancárias sobre os pagamentos ilícitos.
Hoje, passados mais de 3 anos, aquele encontro ganhou um novo significado. Em maio deste ano, as investigações sobre corrupção que até então envolviam a Alstom culminaram em um grande escândalo no Brasil depois que, em troca de imunidade, a Siemens e seus executivos passaram a colaborar com o CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), órgão vinculado ao Ministério da Justiça, dando depoimentos e entregando documentos que indicam que a Siemens e mais de 20 pessoas pagaram propinas e formaram cartéis ilegais para ganhar contratos do governos do Estado de São Paulo e do Distrito Federal de quase R$ 2 bilhões.
As cartas e documentos que o ex-executivo da Siemens me entregou em São Paulo retratavam esse quadro de distribuição de propinas e corrupção em larga escala no setor metroferroviário brasileiro. Muito do que está sendo dito no CADE já havia sido relatado por aquele ex-executivo à direção da Siemens, assim como a conexão com o escândalo da Alstom, investigado desde 2008, e que no mesmo agosto deste ano, resultou no indiciamento de dez pessoas, entre elas dois ex-secretários de Estado do PSDB de São Paulo.
Investigando a corrupção, a mais de 6 mil milhas de casa
O caminho que acabou por me levar a essa valiosa fonte havia começado 10 meses antes, no campus da Universidade da Califórnia em Berkeley, a mais de 6 mil milhas de São Paulo. Fluente em português, fiquei empolgado quando um professor me falou sobre seu interesse em investigar um escândalo de corrupção no Brasil, envolvendo centenas de milhares de dólares.
Desde 2008, a Justiça e a polícia na Suíça, França e, de forma mais pontual, na Inglaterra e nos Estados Unidos, tinham aberto investigações sobre o esquema de propinas da Alstom ao redor do mundo. Parte das investigações feitas na Suíça envolviam o Brasil e, depois de avisados pelos suíços, membros do Ministério Público de São Paulo também começaram a apurar pagamentos suspeitos feitos pela companhia, associados a contratos para fabricar, instalar trens, sistemas de sinalização e vagões do metrô na região metropolitana.
Depois de uma semana de pesquisa e conversa com jornalistas brasileiros, decidi procurar os membros do PT na Assembléia, que há dois anos tentavam abrir uma CPI para investigar o caso, bloqueada pela maioria governista (o PSDB, partido do atual governador paulista, está há 18 anos no poder no Estado).
Nem telefonei antes. Preferi me apresentar pessoalmente e peguei o metrô, embarcando em um vagão novinho com o logotipo da Alstom em todas as janelas. Tive que fazer duas baldeações e andar 1 km para pegar um ônibus para a Assembléia, o que resultou em uma viagem de duas horas. O que não é uma experiência rara para os usuários do precário sistema de transporte público de São Paulo.
Encontrei a assessora de comunicação do PT no hall do imponente prédio da Assembléia. Tomamos um café juntos e eu perguntei sobre o caso Alstom. Ela disse que seria melhor conversar com um dos deputados, o que teria que ser agendado, mas, enquanto isso, disse, ela poderia me entregar a cópia de um dossiê organizado pelo PT sobre o caso. Recebi o calhamaço com centenas de páginas de documentos presos por grampos. Não tive nem que tirar xerox.
O dossiê incluía contratos, relatórios policiais, dados estatísticos e uma coleção de matérias publicadas na imprensa brasileira. As informações indicavam que, entre 1989 e 2007, a Alstom e suas consorciadas ganharam pelo menos 139 contratos no valor de R$ 7,6 bilhões do governo do Estado de São Paulo. Quase todos os contratos eram referentes ao metrô de São Paulo e à Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Do total, quase R$ 1,4 bilhão se referiam a contratos considerados irregulares pelo Tribunal de Contas, de acordo com o dossiê.
Parte das informações já eram de conhecimento público. Em maio de 2008, a polícia suíça marcou uma reunião com membros do Ministério Público de São Paulo para falar sobre pagamentos de US$ 6,8 milhões que teriam sido usados como propinas para ganhar um contrato de US$ 45 milhões do metrô, de acordo com matéria do Wall Street Journal. Entre os documentos obtidos pelo repórter, alguns se referiam a aditivos de R$ 110 milhões, de 1998, que prolongavam a validade de um contrato assinado 15 anos antes.

Um memorando timbrado de 1997 a respeito desse contrato dizia bastante sobre o esquema. Nele, Bernard Metz, então executivo da Alstom informava a um colega que companhia pagaria 7,5% de propina pelo contrato a um indivíduo com as iniciais R.M. “É um pagamento para o governo local”, Metz escreveu em francês. “Está sendo negociado por um ex-secretário do governador”.
De acordo com as investigações policiais, esse ex-secretário era Robson Marinho, chefe de gabinete do governo Covas entre 1995 e 1997. Marinho, que depois se tornou conselheiro do Tribunal de Contas Estadual, o órgão de auditoria das contas públicas de São Paulo, muitas vezes deu o voto decisivo para aprovar a legalidade de contratos da Alstom hoje investigados. Ele chegou a admitir que assistiu a Copa do Mundo de 1998 em Paris às custas da Alstom – embora seja um homem próspero, dono de uma ilha no Rio de Janeiro e de um prédio de oito andares em um bairro nobre em São Paulo.
Em junho de 2009, as autoridades suíças bloquearam uma conta de Marinho sob suspeita de que tivesse sido usada pela Alstom para pagar propinas via depósitos offshore. No mês seguinte, o Ministério Público de São Paulo fez o mesmo com as contas bancárias de Marinho e de mais 18 suspeitos.
Outros documentos que obtive em São Paulo revelavam mais sobre o esquema atribuído a Alstom. Em depoimento juramentado ao MPE, em 2008, Romeu Pinto Júnior, suspeito de lavagem de dinheiro, disse que um ex-executivo da Alstom chamado Philip Jaffre, já falecido, havia montado várias companhias offshore no Uruguai e nas Ilhas Virgens para fazer circular secretamente os recursos da companhia que seriam pagos a políticos brasileiros. Os políticos recebiam em dinheiro, em encontros em restaurantes.
Em depoimento da mesma época, outro suspeito de lavagem de dinheiro, Luís Filipe Malhão e Sousa, disse ter usado várias empresas para distribuir as propinas da Alstom e lavado dinheiro através de vários bancos em Nova York. Mais de um milhão de dólares foram transferidos pelas empresas de Sousa nessas transações entre 1998 e 2002.
Em agosto de 2008, segundo documentos oficiais, pelo menos dez contratos da Alstom estavam sendo investigados pelo Ministério Público de São Paulo. Mas as tentativas do PT de abrir uma CPI continuavam sem obter os votos necessários na Assembléia.
Boa hora para um encontro rápido de muitas consequências
Enquanto rastreava o ex-executivo da Siemens, fui muitas vezes a Assembléia para conversar com deputados e assessores legislativos sobre os documentos compilados no dossiê. Em uma dessas visitas, ao entrar no departamento de pesquisas do PT, escondido em um canto da Assembléia, um homem magro, com alguns cabelos grisalhos disfarçando a careca, me disse, entusiasmado, que eu tinha chegado em boa hora. “Tem alguém aqui que eu quero que você conheça”. E saiu. Voltou pouco depois para me conduzir até uma sala de reuniões com uma mesa grande. Ali estava sentado um homem de olhar intenso, que me observava silenciosamente.
Depois de breves apresentações, ficou claro que o homem com quem eu estava falando era o ex-executivo da Siemens que eu procurava, com informações de primeira mão sobre a Alstom, Siemens e outras empresas que atuam no setor metroferroviário de São Paulo.
Contei-lhe o que já havia descoberto em minhas investigações sobre as acusações à Alstom. Do outro lado da mesa, ele me olhou e assentiu com a cabeça. Após uma conversa rápida, off the record, ele me disse: “Infelizmente você me pegou em um momento ruim, tenho que ir embora”. Antes de sair, porém, ele pegou uma pilha de papéis grampeados e me entregou. “Você é uma das pouquíssimas pessoas a ver isso”, disse. “Acho que vai achar interessante.” Pedi, mas não obtive seu contato e ele saiu rapidamente da sala, dizendo que eu poderia achá-lo através de meus conhecidos na Assembléia. Peguei um táxi e corri para casa para olhar os documentos.
Duas cartas e muitas revelações sobre o que se tornaria um escândalo
O primeiro era uma carta escrita em inglês endereçada ao Dr. Hans-Otto Jordan, em Nuremberg, Alemanha, em junho de 2008. Jordan, eu saberia depois, era o ombudsman da Siemens – um advogado contratado pela companhia para ouvir os empregados que quisessem fazer denúncias sobre práticas inapropriadas de negócios na companhia.
Na carta de oito páginas, o ex-executivo fornecia informações e documentos que compunham o que ele chamava “As práticas ilegais do presente e do passado da Siemens no Brasil”. E focava três contratos do setor de transportes metropolitanos com o cuidado de destacar que o mesmo esquema também era muito utilizado pelas divisões de equipamentos médicos e de energia da Siemens.
A primeira coisa que me chamou a atenção na carta foi o nível de detalhes sobre os casos relatados. Para cada contrato discutido, a fonte nomeava as companhias envolvidas, dizia os valores e a quem as propinas haviam sido pagas, nomeando os funcionários de alto escalão do governo de São Paulo e do Distrito Federal que receberam o suborno. Dois dos três contratos denunciados eram acordos para expandir o sistema metropolitano de trens. O primeiro era um contrato de 288 milhões de dólares, assinado em 2000, para ligar uma linha de trem – a G da CPTM – à linha 5 do metrô, a linha lilás, com apenas cinco paradas, que vai do Largo Treze ao Capão Redondo, no extremo da zona Sul de São Paulo.
Quase dois terços desse dinheiro vinha do governo de São Paulo; o resto tinha sido financiado pelo BID de acordo com os registros oficiais. Esse contrato, anexo à carta do executivo, tinha sido dividido entre várias companhias, incluindo a Alstom, a Siemens, a Daimler Chysler, a grande companhia espanhola CAF e vários pequenos parceiros e subcontratados.
Para garantir o contrato, a Alstom havia costurado um acordo com as outras companhias para oferecer preço inferior ao dos concorrentes na licitação da nova linha de metrô, segundo o ex-executivo. Depois, dividiriam o bolo. Cada uma das empresas pagaria uma parte das propinas aos funcionários do governo estadual, correspondentes a 7,5% do valor do contrato, segundo a carta.
Siemens e Alstom camuflavam o dinheiro das propinas através de duas companhias no Uruguai – Leraway Consulting e Gantown Consulting-, e duas brasileiras, Procint e Constech, de propriedade de Arthur e Sergio Teixeira, segundo a carta. Os recursos eram então transferidos para o Brasil onde as propinas eram pagas em dinheiro vivo. Os documentos dos contratos com as firmas uruguaias, assinados pela Siemens em Munique em abril de 2000, também foram anexados.
O próximo grupo de documentos se referia a contratos com o governo estadual para fabricar e colocar em operação dez trens comprados pela CPTM. Em 1997, a Siemens ganhou um contrato no valor de 103 milhões de marcos alemães para vender dez trens para a CPTM. Pelo acordo, a companhia dividiria o contrato com a empresa japonesa Mitsui, que se encarregaria do suporte e treinamento técnico; mas o papel verdadeiro da Mitsui, segundo a denúncia, era o de pagar propinas para os funcionários da CPTM, sempre de acordo com a carta do ex-executivo. “O contrato era apenas uma ‘cortina de fumaça’ para ocultar sua função real, que era subornar o cliente”, ele escreveu.
Cinco anos depois, a Siemens assinou mais um contrato com a CPTM para operar e manter os vagões vendidos em 1997. A companhia obteve o negócio subcontratando a empresa brasileira MGE Transportes, então dirigida por Ronaldo Moriyama, conhecido por “sua atitude agressiva e arriscada” ao subornar funcionários do governo para obter contratos, escreveu o ex-executivo, que chegou a nomear os que teriam recebido as propinas da MGE. “Muitos diretores do Metrô de SP e da CPTM estão na folha de pagamentos dele (Moriyama) há anos”, dizia a carta. “Os mais conhecidos eram: Décio Tambelli (ex-diretor de operações do Metrô), Jose Luiz Lavorente (ex-diretor de operações da CPTM) e Nelson Scaglione (Gerente de Manutenção do Metrô de SP ).”
O ex-executivo também detalhou o esquema de propinas da Alstom no Metrô em Brasília que, segundo a carta, funcionava há anos. Para garantir os contratos, a companhia pagava R$ 700 mil de propina por mês ao ex-governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz, e diretores do metrô, escreveu o ex-executivo. Quando a Siemens substituiu a Alstom no mesmo contrato, o governador Roriz não se incomodou, “desde que o vencedor da concorrência continue a pagar a ‘taxa’” dizia a carta. No final, o ex-executivo diz que o suborno continuava sendo uma prática da Siemens no Brasil, acrescentando: “Essa atitude conta com as bençãos do principal executivo da companhia no Brasil”.
Uma segunda carta endereçada ao Ministério Público
Uma segunda carta, essa escrita em português, em 2010, foi me entregue pelo ex-executivo. Depois eu descobriria que essa carta – dirigida a “Prezados Senhores – tinha sido remetida ao Ministério Público Estadual pela bancada do PT na Assembléia em fevereiro de 2011, com mais um pedido formal de investigação – o que vinha sendo feito pelo partido desde 2008.
Nela, o ex-executivo detalhava ainda mais o esquema de propinas da Siemens e o papel da MGE, subcontratada pela Siemens para executar o contrato de manutenção da CTPM, vencido em 2002, no valor de R$ 34 milhões. O verdadeiro propósito da parceria, dizia a carta, era canalizar propinas para os diretores da CPTM e para políticos do PSDB e do PFL (atual DEM) em São Paulo.
Durante os cinco anos de vigor do contrato, a Siemens transferiu à MGE mais de R$ 3 milhões para serem usados nas propinas, fingindo pagar por serviços que nunca foram realizados, de acordo com a fonte. O dinheiro era depositado nas contas pessoais dos diretores da MGE e pagos para o já citado José Luiz Lavorente, então diretor da CPTM. Segundo a carta, Lavorente guardava o seu quinhão e distribuía o restante a políticos de São Paulo. A MGE ficava com 23% do dinheiro das propinas, e a Siemens obtinha um grande lucro, superfaturando em até 30% os contratos da CPTM, segundo a carta. O mesmo arranjo era utilizado pela Siemens para ganhar licitações de contratos lucrativos com o Metrô de São Paulo e de Brasília, de acordo com o ex-executivo.
Mais uma vez as denúncias eram acompanhadas de documentos, dessa vez informes detalhados de pagamentos da Siemens à MGE de 2002 to 2006, com números de cheques e datas das transações para pagar as propinas. “O papel principal da MGE nos contratos com a Siemens Ltda. (Brasil) foi e continua sendo o pagamento de propina a diretores da CPTM, Metro SP e Metro DF (Brasilia)”, escrevia a fonte. “O cruzamento dos saques efetuadas pela MGE com os pagamentos efetuados pela Siemens a esta empresa pode provar o esquema milionário de corrupção patrocinado pela Siemens e MGE na CPTM, no Metro de SP e no Metro do DF.”
Por fim a tão sonhada entrevista
O potencial de impacto dessas informações era quase impensável. Antes de ir embora do Brasil, decidia que faria todo o possível para me manter em contato com essa fonte.
Mas isso não era nada fácil, como percebi nas semanas seguintes em que fui diversas vezes à Assembléia para tentar um novo encontro com o ex-executivo. Até que um dia, uma semana antes do dia marcado para o meu vôo de volta à Califórnia, dei de cara com o homem que havia me apresentado ao ex-executivo no mesmo departamento de pesquisas do PT.
“Que bom te ver”, ele me disse, sorrindo. “Falei com o seu contato ontem. Ele vai estar em São Paulo na quinta-feira e pode te encontrar às 6 da tarde”. Meu vôo partiria na manhã seguinte às 9h30 da manhã. “Vou chegar 15 minutos antes”, respondi.

Naquela noite quase não dormi. Arrumei a mala, escaneei meu cérebro em busca de cada detalhe que eu deveria perguntar e acabei indo para a cama de madrugada. No dia seguinte, na hora marcada, encontrei o ex-executivo na mesma sala que o vi pela primeira vez. Ele acenou e me disse “Olá, de novo”. Conversamos sobre os documentos e perguntei se poderia gravar a entrevista. Ele concordou, com a condição de manter o anonimato.
Durante os próximos 45 minutos, ele me deu a primeira e única entrevista já concedida sobre o esquema de propinas e de combinação de preço nas licitações que ele disse ter presenciado pessoalmente. Sempre que um contrato grande do setor metroferroviário é fatiado entre diversas empresas no Brasil, as práticas ilegais são comuns, ele disse.
“Existe sempre um acordo entre elas, uma divisão e um sobrepreço, ou seja, um cartel. Quando tem cartel, tem pagamento, obviamente”, explicou. “Está acontecendo agora (2010) no caso das reformas do metro. Também na manutenção dos trens da CPTM,” afirmou. Mais adiante ele diria que as subsidiárias brasileiras da Alstom e da Siemens mudaram alguns métodos de pagamentos de propinas depois das investigações na Europa.

“Antigamente ia para as contas na Suíça, para as offshores no Uruguai, mas ficou muito difícil fazer este tipo de pagamento de propina diretamente,” disse. “É por isto que, em geral, eles sempre levam um subcontratado. Imagina, uma Alstom, por exemplo, com uma fábrica aqui no Brasil. Porque precisaria subcontratar alguém para fazer um serviço? Não precisa. No fundo, o que acontece? Aqui precisa de alguém para fazer o trabalho sujo.”
Ele disse que o dinheiro das propinas permitiam às empresas ganhar contratos por preços absurdos e engordar os cofres dos partidos políticos no poder em São Paulo e no Distrito Federal. “Os intermediários ficam com uma parte, e a outra parte vai para os políticos,” disse. “Os políticos solicitam, induzem, vamos dizer assim. Eles querem contribuições para as campanhas, mas a maior parte fica para eles pessoalmente”.
No final da conversa, consegui perguntar uma coisa que estava na minha cabeça desde que li a carta enviada por ele ao ombudsman da Siemens em 2008. Como a Siemens havia respondido às acusações?
Um parênteses: Em dezembro de 2008, seis meses depois do executivo ter mandado sua carta anônima ao ombudsman, a Siemens havia se declarado culpada ao Departamento de Justiça americano por violações do “Foreign Corrupt Practices Act”, que proíbe as companhias com negócios nos Estados Unidos de pagar propinas em outros países. Como parte de um acordo com a corte americana, a Siemens admitiu ter pago mais de 800 milhões de dólares em propinas ao redor do mundo. No mesmo período, fechou um acordo semelhante com as autoridades alemãs, pagando uma multa total de 1,6 milhão de dólares. O Brasil, no entanto, não foi mencionado nesse esquema.
Voltando a entrevista em São Paulo: o ex-executivo disse que nunca recebeu qualquer sinal de que a Siemens tivesse ido atrás das informações fornecidas na sua carta, apesar das promessas da companhia de reestruturar suas práticas para acabar com a corrupção.
“A Siemens abafou o caso no auge da crise, no momento em que diziam querer limpar tudo. Foi como se nunca tivesse acontecido. Ninguém falou nada, ninguém foi mandado embora. A coisa aconteceu como se fosse tudo normal,” contou o ex-executivo.
“Por algum motivo, o Brasil sempre ficou intocado. A minha interpretação é que eles sabem que isso tem que continuar, e não querem fazer muito barulho, porque eles sabem que se não continuar, eles vão ter menos contratos. E isto é verdade.”
Mais uma vez pedi o contato dele quando a entrevista terminou, e mais uma vez ele me disse que eu teria que procurá-lo através dos nossos conhecidos na Assembléia. E mais uma vez, ele saiu apressado do escritório, desaparecendo no burburinho da metópole.
De volta à Califórnia
Depois de algumas semanas organizando o material coletado no Brasil, contatei o Departamento de Justiça dos Estados Unidos para saber se, durante as negociações daquele acordo, o Brasil realmente não havia sido citado. Foram semanas de telefonemas até conseguir falar com um porta-voz, que disse que o Departamento não comentaria esse assunto.
Diante do aparente beco sem saída, recorri ao professor que tinha me colocado na história das propinas no Brasil, Lowell Bergman, jornalista premiado com o Pulitzer e diretor do programa de Jornalismo Investigativo da UC Berkeley. Alguns anos antes, quando ele preparava um especial de televisão sobre propinas pagas por companhias no exterior para ganhar concorrências fora dos Estados Unidos, tinha conseguido uma fonte no Departamento de Justiça que havia trabalhado no acordo das propinas com a Siemens.
Mas a fonte disse que não havia menção da Siemens sobre subornos no Brasil e Bergman e eu decidimos confirmar se realmente o ex-executivo brasileiro havia mandado a tal carta para a Siemens na Alemanha. Depois de muita conversa em off com uma fonte da Siemens, ouvi que a companhia tinha realmente recebido a carta em 2008. Mas, como a informação não podia ser confirmada, eu tinha que verificar na própria companhia.
Em fevereiro de 2011, entrei em contato com a assessoria de imprensa da sede da Siemens por email e comecei a ligar para Munique tarde da noite, para compensar as nove horas de diferença de fuso horário. Eu havia feito perguntas bem específicas no meu email: A Siemens tinha informado as autoridades nos Estados Unidos e na Alemanha sobre as denúncias de propinas no Brasil feitas em uma carta enviada ao ombudsman em junho de 2008? Se sim, quando? A companhia tinha remetido a carta para as autoridades?A Siemens tinha aberto um procedimento interno para investigar o assunto? Se sim, quando?
No mês seguinte, o assessor de imprensa respondeu ao email: “Como parte da cooperação em andamento com as autoridades americanas, a Siemens informou ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos e à Comissão de Valores Mobiliários (Securities and Exchange Commission) sobre as denúncias anônimas que foram submetidas por carta ao ombudsman”, escreveu o porta-voz no email.
Quanto às outras questões, foram respondidas em termos muito genéricos: “Como a Siemens não comenta investigações ou processos investigativos, está impossibilitada de comentar as ações específicas ou investigações independentes assumidas pela Siemens em resposta às denúncias,” escreveu, para concluir: “Em relação aos esforços globais de monitoramento da Siemens, incluindo o Brasil, tomou medidas inéditas de autocorreção e limpeza que foram reconhecidas pelos órgãos dos Estados Unidos como ‘extraordinárias’ e ‘as melhores do gênero’. Nós levamos a sério nosso compromisso com altos padrões éticos e temos uma política de ‘tolerância zero’ com desvios”.
Em outubro de 2011, a companhia demitiu o presidente das operações brasileiras, Adilson Primo, que ocupava o cargo há tempos, afirmando que “uma investigação interna revelou, recentemente, uma grave violação às diretrizes da Siemens na subsidiárias brasileira antes de 2007”. Reportagens ligaram a demissão à descoberta de uma conta privada com cerca de 6 milhões de euros de recursos da Siemens. Um porta-voz disse que a saída de Primo não tinha relação com a carta do denunciante.
Meses depois, em uma apresentação da companhia em janeiro de 2012, a Siemens confirmou que estava sob investigação do Ministério Público em Brasília. Em maio de 2013, o escândalo estourou no CADE.
Grande parte da informação que veio da delação da Siemens ao CADE, corrobora as alegações do ex-executivo. Emails e outros documentos indicam que a companhia associada a outras empresas operava como um cartel para ganhar contratos do governo por preços superfaturados entre 1998 e 2007. Esses contratos faziam parte dos acordos entre Siemens e Alstom para fabricar, manter e instalar trens em São Paulo e Brasília. Os três contratos citados pelo ex-excutivo estão sob investigação, incluindo o da Linha G de trem e lilás de metrô. Até a porcentagem de faturamento – 30% – que consta dos documentos entregues pela Siemens ao CADE, segundo o Estadão, é a mesma. Ao todo, dez promotores vão conduzir 45 inquéritos para investigar atividades suspeitas da Alstom, Siemens e outras em contratos que somam R$ 1,9 bilhão apenas no Estado de São Paulo.
No começo desse mês de agosto, a revista IstoÉ, em uma grande reportagem sobre o escândalo, revelou indícios de que o dinheiro das propinas da Alstom e da Siemens no setor metroferroviário de São Paulo ajudou a eleger os quatro últimos governadores de São Paulo. Muitos dos que foram acusados de receber propinas na reportagem da revista eram os mesmo citados pelas cartas do ex-executivo, incluindo o ex-diretor de operações da CPTM, José Luiz Lavorente, e o ex-diretor de operações do Metro de São Paulo, Décio Tambelli.
Novas revelações devem surgir da colaboração da Siemens com os investigadores brasileiros. Mas, os fatos têm mostrado que as acusações do ex-executivo têm fundamento. Ainda assim, Paulo Stark, chefe da subsidiária brasileira da Siemens, afirmou, em depoimento, que “desde 2007”, tem um “sistema de monitoramento para detectar, prevenir e remediar práticas ilícitas que possam ter sido adotadas, encorajadas ou toleradas por empregados ou executivos em qualquer lugar do mundo”.
Felizmente, a carta que me foi entregue pelo ex-executivo da Siemens acaba de ser publicada no Brasil – ela estava disponível, assim como a íntegra do meu trabalho no site da Universidade de Berkeley. E as multinacinacionais do setor metroferroviário terão ainda mais a explicar aos conselheiros do CADE.
publicado originalmente em Agência Pública
registrado em:    

Disponível em: (http://www.cartacapital.com.br/politica/o-reporter-que-descobriu-o-delator-da-siemens-5348.html).